Posso dizer desde já que sempre que escrevo sobre Internet e aparelhos digitais, meu tom de discurso caminha para o lado mais preocupado, para dizer o mínimo. Mas, como minha esposa pode atestar rapidamente, nem sempre eu pratico o que prego. Para mudar isso, eu criei uma lista de disciplinas digitais que eu tentarei levar a sério.
Claro, eu não acho que todos esses pontos são aplicáveis universalmente. Eles podem soar completamente inviáveis para seu estilo de vida, ou em alguns casos podem apenas parecer desnecessários. Tudo que eu quero com eles é simples: dadas minhas prioridades e minhas circunstâncias de vida, eu considero bem útil articular e implementar essas formas para deixar minha relação com a cultura da Internet bem mais saudável.
Eis a lista.
1. Não acorde direto na Internet. Tome um café da manhã, passeie com o cachorro, leia um livro/revista/jornal… Tanto faz, faça alguma coisa antes de ficar online. Pense nisso como uma forma de se preparar – fisicamente, mentalmente, emocionalmente, moralmente etc. – para o que lhe aguarda na rede.
2. Não fique conectado de forma natural e ambiental à sua conta de email. Feche o app ou a aba de seu email. Cheque-o duas ou três vezes por dia por pelo menos um tempo. O mesmo se aplica ao Facebook, Twitter e outras redes que usamos demais.
3. Fique com aquele link bacana na cabeça por algumas horas ou até um dia antes de compartilhá-lo por aí. Se depois de algum tempo de reflexão ele não tiver o mesmo impacto, ele não merece ser compartilhado. Não colabore com o excesso de ruído.
4. Não faça refeições junto com a Internet. Desligue, deixe os aparelhos para trás (ou no bolso), e aprecie a comida como uma forma de se regenerar, mental e fisicamente. Se você passa o dia dentro de algum lugar, leve seu almoço para fora. Aprecie a companhia de outras pessoas, ou aproveite o momento para sentir como alguns minutos de silêncio sepulcral podem ser bons.
5. Respire. Sério.
6. Faça uma coisa – uma só coisa, uma coisa completa – por vez, seja lá o que for. Se for para escrever um email, escreva-o de uma vez. Se for para ler um artigo, devore-o. Se uma tarefa não pode ser completada em uma temporada na frente do computador, pelo menos trabalhe um bom tempo suficiente nela, sem nenhuma interrupção. Em outras palavras, resista à tentação do mito do multitarefa. Ele é o canto da sereia de nossa geração, e pode transformar seu cérebro em um Titanic partido ao meio.
7. Limpe e zere seu feed de RSS no fim de cada dia. Se as coisas não foram lidas, vida que segue. Essa é difícil para mim: eu quero ler tudo, ficar sabendo de tudo etc. Mas se eu não limpar o feed, eu termino o dia com uma pilha de informação em proporções impossíveis de lidar. Além disso, eliminar potenciais e interessantes itens não lidos ou consumidos todos os dias é um gesto de felicidade, algo como uma libertação catártica.
8. Desligue todas as notificações que ameaçam lhe interromper ou distrair. Mentalmente, tendemos a responder às notificações com uma impulsão Pavloviana. Emocionalmente, elas são nossas pequenas versões do farol verde de Gatsby. De qualquer forma, é um hábito horrível.
9. Desligue seus aparelhos quando estiver com seus amigos. Além disso, abaixe a tela de seu laptop quando estiver falando com alguém. Isso pode soar exótico, antiquado, nostálgico, grosseiro, tanto faz. Mas eu vejo isso mais como uma forma de me manter minimamente civil e decente, mesmo que eu não esteja recebendo a mesma decência e civilidade em troca. Se você precisa atender uma ligação ou responder uma mensagem de texto, deixe isso claro de forma polida e educada. Muito melhor do que pegar seu aparelho de forma sorrateira e ficar olhando de canto de olho para a tela enquanto finge que ainda dá sinais de prestar atenção. Isso é inútil e feio, e todo mundo sabe disso.
10. Faça logoff nos sites de redes sociais após visitá-los. O passo extra de fazer login diminui sutilmente a facilidade em abri-los quando a sede por distração surge. Não subestime o poder dessas pequenas lombadas digitais.
11. Não vá para a cama com a Internet. De novo, sério.
Anos atrás, Umberto Eco disse: “Nós gostamos de listas porque nós não queremos morrer”. Talvez isso seja um pouco melodramático demais para essa lista. Certamente não há nenhum caso de vida ou morte nos 11 pontos, espero. Mas eu realmente acredito que seguir estas disciplinas digitais melhorarão meu uso de Internet, e farão com que eu tenha mais prazer vivendo nela.
Michael Sacasas é autor de um livro de ensaios sobre tecnologia e cultura chamado The Tourist and the Pilgrim (sem edição no Brasil). Ele escreve sobre tais assuntos no thefrailestthing.com e você pode encontrá-lo no Twitter no @FrailestThing.
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