O caminho está aberto para a era dos chips cerebrais. Depois da 1ª implantação bem sucedida, no começo de julho, a startup australiana Synchron iniciou os estudos de segurança e viabilidade para o ensaio clínico nos EUA.
O objetivo, agora, é monitorar os pacientes sobre possíveis efeitos adversos pelos próximos 12 meses. Enquanto isso, a equipe quer garantir que o dispositivo continue fornecendo sinais cerebrais adequadamente, disse o diretor de neurociência e algoritmos da startup, Peter Yoo, ao site Emerging Tech Brew.
Essa etapa é crucial e deve levar alguns anos. Se tudo for como esperado, porém, abre portas para uma tecnologia revolucionária para doenças como paralisia cerebral. Em 6 de julho, neurocirurgiões do Hospital Mount Sinai, de Nova York, implantaram quatro chips cerebrais desenvolvidos pela Synchron em quatro australianos com paralisia grave.
Apesar de arriscada, a cirurgia deu certo: os pacientes ganharam a capacidade de controlar dispositivos digitais através de sinais cerebrais. A tecnologia possibilitou que eles enviassem mensagens de texto, verificassem finanças e até fizessem compras online.
We’re honored to announce the first human #BCI implant using an #endovascular approach in the United States. This is a historic milestone for #humanity, which will forever change how people with #paralysis interact with the world. https://t.co/44rrbZM2lZ pic.twitter.com/97V3HW7dK7
— Synchron (@synchroninc) July 19, 2022
O que esperar daqui para frente
A expectativa é que os testes clínicos do chip cerebral da Synchron sejam concluídos entre cinco e sete anos. A média nesse tipo de estudo, porém, chega a 17 anos nos EUA. O FDA (Food and Drug Administration, similar à Anvisa dos EUA) deu sinal verde às pesquisas de chips cerebrais no ano passado.
A startup espera já realizar uma nova implantação até janeiro de 2023. Tudo depende, porém, dos resultados iniciais dos pacientes que já receberam os chips. Se os implantados continuarem estáveis, o próximo procedimento deve ocorrer na Austrália.
Outros fatores também interferem. O implante de chips cerebrais não é tão simples –e nem tão barato. Apesar de ser uma cirurgia não invasiva, depende de tecnologia de ponta. O financiamento para os primeiros implantes, por exemplo, chegou a US$ 50 milhões, quase R$ 260 milhões no câmbio atual.
Como é o implante de chips cerebrais
A pesquisa é intensa. Pesquisadores da Synchron dizem que utilizam todas as informações já coletadas para melhorar o decodificador, que tem a função de traduzir as intenções motoras dos pacientes.
Na prática, ele digitaliza as vontades das pessoas com paralisia através de sinais neurais. “Parte da informação que pode ajudar é a própria anatomia real do cérebro do paciente”, disse Yoo.
Por isso, o funcionamento da tecnologia do chip cerebral depende de uma exaustiva revisão da anatomia do cérebro de cada paciente antes dos procedimentos. Os cirurgiões medem como diferentes movimentos pretendidos afetam os sinais cerebrais –um processo que pode chegar a 3 horas de duração.
O chip reúne ferramentas e conhecimentos de aprendizado de máquina, aprendizado profundo, processamento de sinais, eletrofisiologia e neurociência. Tudo para tentar criar algoritmos capazes de traduzir o que parece ser um sinal neural em saída digital controlado pelo próprio paciente.
Na implantação, os cirurgiões especializados em procedimentos neuroendovasculares inserem um stent médico com eletrodos na veia jugular do paciente. O chip, então, viaja até um vaso sanguíneo que fica ao lado do córtex cerebral. Depois de instalado, já começa a funcionar.