Ciência

5% das cidades de Santos e Rio podem estar submersas até 2050

Projeção considera efeito das mudanças climáticas no aumento do nível do mar; Santos, Rio de Janeiro e outras cidades no mundo serão afetadas
Imagem: Wikimedia Commons/Reprodução

Até a metade do século, áreas habitadas por 5% das populações das cidades de Santos e do Rio de Janeiro estarão inundadas devido à elevação do nível do mar na região costeira do Brasil. A previsão é do Human Climate Horizons, uma colaboração entre o PNUD (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento) e o Climate Impact Lab.

O relatório foi divulgado na última terça-feira (28), a dois dias do início da COP 28 (28ª Conferência das Partes), evento de debate global sobre as mudanças climáticas. O documento evidencia as consequências do aquecimento global, que pode aumentar em cinco vezes a suscetibilidade da população mundial a danos por inundações.

De acordo com os autores do estudo, os resultados do mapeamento servem como um lembrete aos tomadores de decisão que vão à COP 28 de que “é hora de agir”.

Entenda o contexto

Como efeito das mudanças climáticas, a temperatura média da atmosfera e dos oceanos sobe. Isso tem como consequência o derretimento do gelo em glaciares de montanha e nos pólos, o que causa a expansão da água do mar.

O aumento do nível do mar faz com que a água inunde regiões costeiras e possivelmente habitadas. Nos últimos 20 anos, esse fenômeno aumentou em 14 milhões o número de pessoas que vivem em comunidades costeiras com uma chance anual de 1 em 20 de inundação em todo o mundo.

Agora, para estimar os riscos até o final do século, o novo estudo utilizou dados de observação de satélites e medidores de marés. Também usaram informações dos modelos do 6º IPCC (Relatório de Avaliação do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas).

Então, os pesquisadores simularam três cenários diferentes. No primeiro, considerou-se o baixo nível de emissões de gases de efeito estufa, contendo o aumento da temperatura em até 2ºC até 2100.

No segundo, as emissões consideradas eram médias e aumentariam a temperatura até 2100 em 2,7ºC. Por fim, no terceiro cenário os pesquisadores consideraram emissões muito altas, que aumentariam a temperatura em 4,4ºC até 2100.

O que indicam as projeções para o Brasil

Segundo dados do relatório, o Brasil pode sofrer uma elevação do mar entre  20,9 e 24,27 centímetros até 2050. Quando a estimativa é feita até 2100, o país enfrenta uma elevação do mar de 40,5 e 65,6 centímetros.

Se as emissões chegarem às projeções mais altas, o nível do mar na cidade de Santos pode crescer em 27,74 centímetros até o meio do século e até 72,85 centímetros em 2100.

Por outro lado, no Rio de Janeiro, a projeção é de aumento de 23,84 centímetros até 2050 e 65,67 centímetros até 2100.

Projeções mundiais

Segundo as novas projeções, o risco de inundação de 1 em 20 se estenderá da seguinte maneira:

  • Atingindo áreas povoadas por 59,4 milhões de pessoas sob um cenário de baixas emissões;
  • Atingindo áreas povoadas por 72,8 milhões de pessoas sob um cenário de emissões intermediárias;
  • Atingindo áreas povoadas por 97,6 milhões de pessoas sob um cenário de emissões muito altas.

Além do Brasil, outras regiões de baixa altitude sofrem séria ameaça de inundação permanente. As áreas mais afetadas estão ao longo das costas da América Latina, África e Sudeste Asiático.

Além de Santos e Rio de Janeiro, centenas de cidades costeiras altamente povoadas também terão 5% de suas áreas povoadas com risco aumentado de inundação até 2050, como Cotonou, no Benin, e Calcutá, na Índia.

Quando projetam o cenário até o final do século, a exposição ao risco de inundação dobra para regiões que abrigam 10% da população dessas cidades. Além disso, sem ações de defesa das áreas costeiras, essas cidades sofrem o risco de inundações permanentes. 

“Os efeitos do aumento do nível do mar colocarão em risco décadas de progresso no desenvolvimento humano em zonas costeiras densamente povoadas, que abrigam uma em cada sete pessoas no mundo”, disse em comunicado Pedro Conceição, Diretor do Escritório do Relatório de Desenvolvimento Humano da PNUD.

Além do prejuízo direto às casas e infraestruturas, as inundações também podem interromper atividades econômicas, aumentando a instabilidade financeira e a competição por recursos. 

Também podem ter inundações permanentes cidades como Sydney, Perth e Newcastle,na Austrália; Kingston, na Jamaica; Guayaquil, no Equador, e Barranquilla, na Colômbia.

Alerta para ação

De modo geral, nos níveis mais elevados do aquecimento global, aproximadamente 160 mil quilômetros quadrados de terra costeira serão inundados até 2100. Isso equivale a uma área maior que o território da Grécia ou de Bangladesh. No Brasil, a área submersa pode chegar a quase 5 mil quilômetros quadrados até 2100 — o equivalente à área do Distrito Federal.

Contudo, caso as emissões sejam contidas para limitar o aquecimento abaixo de 2ºC, a projeção indica que 70 mil quilômetros quadrados dessas áreas que podem ser afetadas ainda permanecerão acima do nível do mar.

Por isso, os pesquisadores alertam para o fato de que as projeção não são conclusões inevitáveis. Mas, sim, um estímulo para ações rápidas e efetivas.

Bárbara Giovani

Bárbara Giovani

Jornalista de ciência que também ama música e cinema. Já publicou na Agência Bori e participa do podcast Prato de Ciência.

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