A bioluminescência urbana, luz sustentável produzida por bactérias, é viável?

A luz proveniente de bactérias está sendo implantada na cidade francesa de Rambouillet, mas segundo especialistas há muito caminho para ser percorrido antes de atingir uma larga escala
Imagem: Reprodução/Pixabay

Os pesquisadores do mundo todo andam empenhados em descobrir novas alternativas sustentáveis de iluminação. A proposta da vez é o uso de bioluminescência –luz produzida e emitida por organismos vivos.

Vagalumes, bactérias, fungos e criaturas do fundo do mar usam sua luz própria para encontrar parceiros e confundir predadores. Mas agora são estudados para servir de “inspiração” na busca de uma iluminação que não agrida o planeta.

A cidade francesa de Rambouillet  e a startup Glowee –primeira empresa do mundo a atingir esse nível de experimentação– começaram a inserir a iluminação proveniente de bactérias nas suas ruas. Para isso, a bactéria marinha Aliivibrio fischeri será armazenada dentro de tubos cheios de água salgada, como um aquário luminoso azul.

A empresa diz que está em negociações com outras 40 cidades na França, Bélgica, Suíça e Portugal para instalar esse sistema.

A ideia não é necessariamente nova. Por volta de 350 aC, o filósofo grego Aristóteles descreveu a bioluminescência em vagalumes como um tipo de luz “fria” . Os mineiros de carvão usaram vagalumes em jarras para iluminar minas onde qualquer tipo de chama –mesmo uma vela ou lanterna– poderia desencadear uma explosão mortal. E fungos brilhantes são usados ​​há anos por tribos na Índia para iluminar florestas densas.

Em uma edição recente, o “Jornal da USP” trouxe uma entrevista com Cassius Vinicius Stevani, professor do Instituto de Química da USP e especialista em bioluminescência. Ele explicou que a emissão de luz por esses organismos se dá por uma reação química entre a enzima luciferase e um substrato chamado luciferina.

“A reação é parecida com a de ‘queima de ar’. Porque a luciferina, na presença de oxigênio, é oxidada e, durante esse processo, há emissão de luz”, disse Stevani.

A luz extraída das bactérias é sustentável pois o processo de fabricação desse tipo de energia consome menos água do que a fabricação de lâmpadas de LED e libera menos gás carbônico, além do líquido ser biodegradável.

As luzes também usam menos eletricidade para funcionar do que os LEDs, de acordo com a empresa, embora as lâmpadas Glowee produzam menos lúmens de luz do que a maioria das lâmpadas LED modernas.

Mas é possível a implantação da bioluminescência?

Apesar de animadora, ainda não em larga escala. Existem muitos desafios a serem superados antes dela ser uma realidade.

Primeiro, é preciso achar uma forma de alimentar as bactérias à medida que crescem.

Segundo, a temperatura do ambiente, fator que será um grande obstáculo no inverno.

Conforme diz Stevani, a temperatura tem relação com a velocidade, e essa, com a emissão de luz. “Quando a temperatura é mais alta, a velocidade da reação é a mais alta e, consequentemente, há maior emissão de luz. Quando a temperatura é mais baixa, a velocidade da reação é mais baixa e há menor emissão de luz”.

Com esses obstáculos que a ciência ainda não achou uma solução, seria inviável, por exemplo, a iluminação de uma cidade inteira, até mesmo uma rua. Em uma escala menor, como na cidade francesa, que iluminou seu centro de vacinação contra a Covid-19, ela se faz possível.

 

 

 

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