A conspiração: a Apple estraga o seu iPhone de propósito?

Entenda o que é a obsolescência programada e por que suspeitam que a Apple a pratica.

Todo ano a Apple seduz o mundo com um novo (e caro) iPhone, tido como o melhor e mais rápido iPhone de todos. Você compra um. E aí, pouco antes da chegada do próximo iPhone Mais Rápido de Todos às lojas, aquele que está no seu bolso parece cada vez mais lento e avacalhado do que nunca. Coincidência? Ou conspiração?

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Produtos da Apple são anunciados e vendidos em ciclos — até agora, um novo modelo por ano para cada produto da marca. Isso significa que, um mísero ano após o iPhone 6 ter sido anunciado, ele não será mais tão maneiro ou chamativo ou interessante ou desejável; ao invés disso, o iPhone 7 (ou melhor, o iPhone 6S ou 6+ ou 6G) será o melhor e mais fino e mais leve celular do momento.

É um cronograma bem apertado. A maioria de nós, se deixados sozinhos com nossos pensamentos e gadgets, ficará feliz com um novo celular por dois ou três anos — e para uma empresa que construiu a reputação por regularmente modificar produtos em escalas imensas, isso representa um problema. Como pode a Apple manter a receita que faz dela a Apple se seus consumidores só precisam comprar um de seus produtos a cada dois ou três anos? Marketing ajuda, claro — mas também ajuda introduzir um novo até-então-desnecessário produto para consumo a cada um ou dois anos.

Mas e se algo mais obscuro estiver envolvido? E se a Apple tiver a manha de te induzir a comprar os produtos dela — ao tornar os seus aparelhos antigos inúteis? De acordo com alguns paranoicos por celulares, os aparelhos da Apple não são só projetados para vender por pouco tempo — são projetados inclusive para se tornarem lentos, exatamente (e convenientemente) quando novos modelos são lançados. Ou, de forma ainda mais ameaçadora, a Apple está intencionalmente atualizando o software do seu aparelho antigo para torná-lo pior.

Obsolescência Programada

Fazer marketing com sucesso é uma coisa, mas montar intencionalmente celulares caros que não duram é uma prática traiçoeira conhecida por “obsolescência programada”, e donos de iPhones especulam sobre ela há anos. O maior momento da conspiração ocorreu com um artigo de Catherine Rampell para o New York Times em 2013:

A princípio, achei que fosse minha imaginação. Por volta do lançamento do iPhone 5s e do 5C, em setembro, notei que meu triste iPhone 4 ficava cada vez mais lento. A bateria também acabava muito mais rápido. E o mesmo parecia ocorrer com um monte de gente que, como eu, continuava a usar os produtos da Apple. Quando liguei para os técnicos, eles disseram que o novo sistema operacional (iOS 7) que estava disponível para os antigos usuários tornava modelos anteriores do iPhone insuportavelmente lentos. As baterias dos celulares da Apple, que têm um número finito de cargas, eram gastas pelo novo software. Me foi dada a opção de pagar US$ 80 dólares para trocar a bateria do meu celular antigo, ou gastar US$ 20 a mais para comprar um iPhone 5C. Parecia que a Apple me mandava uma mensagem não muito sutil para trocar o meu celular.

Mas essa foi só mais uma revolução da troca de modelos anual. Cinco anos atrás, a Apple lançou o iOS 4, que oferecia novíssimas (em 2010) funções como multitarefa e foco da câmera por toque. Ela também aleijou o iPhone 3G por completo, um modelo muito popular que vendeu mais de um milhão de unidades só na semana de lançamento. Adam Frucci, do Gizmodo EUA, descreveu os apuros que passou com a atualização:

Digitar se tornou quase impossível com o meu celular. A primeira letra que eu aperto levanta e assim fica, mesmo que eu continue a digitar. Depois de um tempo o restante das letras aparece, mas sem o retorno de que estou apertando os botões certos, o que, inevitavelmente, gera erros.

Além disso, abrir aplicativos básicos ficou muito mais lento e o travamento deles também se tornou algo frequente. Tive que tentar três vezes abrir o painel de configurações depois da instalação, por exemplo. Carregar o álbum de fotos pode demorar até 10 segundos. Atualizar o Instapaper leva o dobro do tempo que costumava levar. Ocorre uma pausa toda vez que aperto o botão Home de dentro de um aplicativo, e quando ele finalmente fecha, a animação dos aplicativos retornando é estranha.

Isso foi, obviamente, próximo de quando a Apple anunciou o iPhone 4, um dos mais chamativos e ambiciosos já lançado. Este talvez tenha sido um dos casos mais evidentes da lentidão do iPhone, mas dificilmente é o único exemplo. Quando o iOS 7 foi lançado em 2013, muitos usuários acreditavam que seus celulares funcionavam melhor antes da atualização. E aí, quando o iOS 8 saiu, usuários documentaram como seus celulares eram mais rápidos com o iOS 7:

E isso não é trabalho da nossa imaginação. Um artigo do New York Times de 2014 mostra que buscas no Google para “iphone lento” aumentam todo o ano, coincidindo com a atualização destes produtos; uma olhada no Google Trends mostra os picos destas buscas:

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Levando em consideração que os fãs da Apple são tipicamente mais leais à companhia do que às próprias mães, relatos de conspiração encontram resistência. Rene Ritchie, editor do site iMore, repudiou as suspeitas de uma possível obsolescência planejada no iPhone, chamando-as de “sensacionalistas”, uma campanha de “desinformação” feita por desinformados. Defensores da Apple usam dois tipos de argumento: quebrar os iPhones de proposito é arriscado e faz perder clientes, e a lentidão é inevitável quando se continua a adicionar novas funções. O segundo argumento é até que real: funções novas e melhores precisam de hardware mais rápido e, diferente de um desktop, não existem maneiras de se colocar mais memória e um melhor processador em um celular antigo. Como disse Christopher Mims no Quartz, “Não há uma cortina de fumaça aqui, nenhum memorando incriminador” de que Apple agiu de má fé. E ainda assim:

Existe uma maneira de evitar obsolescência programada, você acreditando que ela seja intencional ou não. Uso produtos da Apple há cerca de 25 anos. E uma das primeiras coisas que aprendi foi: exceto por atualizações pequenas, não atualize o sistema operacional do hardware que você está usando.

Mesmo em 2015, ainda não podemos confiar que a Apple realmente pensa nos consumidores, nem podemos supor que cada coisinha que ela faz como uma companhia é intencional e calculada; mesmo que seu iPhone não esteja sendo sabotado, ninguém decidiu que baterias que duram menos e email que abre mais devagar não é um problema quando um novo modelo está a caminho. Não vamos ser inocentes.

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Algum dia, quando a iOS 28 for lançada juntamente do iPhone 26, não será realista esperar que seu fiel iPhone 25 funcione tão bem como o novo modelo. E não tem problema. O preço do progresso talvez seja perder algumas das novas funções, mas isso também não significa que o seu celular deva se transformar em um peso de papel. Não é porque não tenho a Nova Função X que meu teclado deva congelar toda vez que eu tentar dizer “oi” para alguém, ou que as fotos que já tirei devam demorar décadas para abrir. Não peço para que meu celular se torne melhor, mas não é pedir muito quando desejo que ele não se torne ainda pior. Estes parecem problemas com os quais a Apple poderia lidar sem muita dor de cabeça se ela realmente quisesse que o celular que você comprou há dois anos continuasse a valer alguma coisa. Mas por que a Apple faria isso por você?

Ilustração: Jim Cooke

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