A fascinação do planeta pela Copa do Mundo não se contenta com o torneio a cada quatro anos. Nos intervalos (ou mesmo durante as disputas), vale ampliar o conhecimento sobre seus 92 anos de existência através de documentários ou até mesmo filmes com enredos inspirados no mundial.
Alguns documentários biográficos, mesmo os bons, são muito chapa branca e exageram na exaltação a um jogador. Mas selecionamos alguns que valem ser vistos. Alguns vivem nas plataformas de streaming, outros não são muito difíceis de encontrar para assistir na internet. Há também algumas dando sopa em DVD nas lojas.
1- Pelé (2021)
Começamos pelo maior de todos. A produção da Netflix lançada no ano passado é enxuta e, produzida com o público internacional em mente, se concentra nas quatro Copas que Pelé disputou pela Seleção Brasileira. Também aborda a posição política do Rei e sua delicada relação com a ditadura militar a partir de 1964.
“Pelé Eterno”, de 2004, é mais longo, mas vale apenas pelos gols espetaculares. Os depoimentos de Pelé e amigos e os gols em computação gráfica são totalmente dispensáveis.
2- Garrincha, Alegria do Povo (1962)
Atualmente disponível no Globoplay, é uma produção feita no calor da hora sobre o melhor jogador da Copa do Mundo de 1962, que o Brasil venceu mesmo sem Pelé nos quatro últimos jogos porque Garrincha resolveu jogar pelos dois.
Foi dirigido por Joaquim Pedro de Andrade, que depois filmaria “Macunaíma” em 1969. E produzido pelo lendário homem do cinema brasileiro Luiz Carlos Barreto e pelo jornalista Armando Nogueira.
Além das cenas de jogadas de Mané nos mundiais de 1958 e 1962, também traz várias cenas curiosas do jogador em sua Pau Grande (RJ) natal e em contato com o povo nas ruas do Rio de Janeiro.
3- 1958: O Ano em que o Mundo Descobriu o Brasil (2008)
Ainda no tema Era de Ouro da Seleção, este documentário competente foi feito para celebrar o cinquentenário do primeiro título brasileiro. Começa a história ainda nas eliminatórias de 1957 e segue relembrando a campanha com depoimentos dos jogadores daquela equipe. As imagens de jogos são basicamente aquelas poucas disponíveis, mas é curioso ver como o domínio do Brasil nas Copas teve seu início.
4- Filmes oficiais da Fifa (1930-2018)
Hoje estão todos reunidos na plataforma FIFA +. Cada filme faz um resumo cinematográfico de um mundial. Os das Copas do século 20 foram lançados em cinemas pouco tempo após os torneios. Atualmente, já saem em formato digital.
O filme da Copa pioneira em 1930 é uma produção mais recente, terminada no século 21. Os de 1934, 1938 e 1950 não tiveram seus próprios filmes individuais. O primeiro lançado logo após a disputa foi o de 1954 e seu nome oficial era ” German Giants”, hoje abandonado.
Como filmes e pelo futebol, os mais recomendáveis são:
- “Goal!” (1966), o primeiro em cores;
- “The World at Their Feet” (1970), apesar da historinha besta do “menino mexicano” que é obviamente europeu;
- “G’olé!” (1982), que teve narração original do ator Sean Connery, eterno James Bond;
- “Hero” (1986), com narração original do ator Michael Caine);
- “Todos os Corações do Mundo” (ou “Two Billion Hearts”, 1994, com direção do brasileiro Murilo Salles).
5- Diego Maradona (2019)
Um documentário realizado pelo diretor inglês Asif Kapadia, que já tinha feito os ótimos “Senna” (2010) e “Amy” (2015, sobre a cantora Amy Winehouse). Com essas credenciais, ele teve a oportunidade de concluir este documentário um ano antes da morte do mito argentino Maradona, com muitas imagens de arquivo pessoal do jogador. Apesar de optar em se concentrar nos anos de Maradona no Napoli da Itália, a Copa de 1986 que ele ganhou quase sozinho está no meio desse período.
6- Les Bleus (2016)
Produção da TV francesa que chegou ao Brasil via Netflix, conta a trajetória da seleção da França durante 20 anos. Começa em 1996, com um time em reconstrução para a Copa em seu território depois de cair nas eliminatórias para 1990 e 1994.
Passa, é claro, pela glória no mundial de 1998 e a Eurocopa de 2000. Pelo vice de 2006 que escapou depois da famosa cabeçada de Zidane no italiano Materazzi na final. E termina em 2016, ano em que a França sediou a Eurocopa e perdeu a final para Portugal.
7- The Game Of Their Lives (2002)
O diretor britânico Daniel Gordon conseguiu acesso a sete jogadores que disputaram a Copa de 1966 pela Coreia do Norte e ainda estavam vivos na época desta produção da britânica BBC. Também dão depoimentos ingleses que viram nos estádios a vitória por 1 a 0 dos norte-coreanos sobre a Itália e a épica derrota de virada para Portugal por 5 a 3. Uma história importante e muitas vezes esquecida por causa do isolamento mundial que o regime comunista do país asiático impõe.
8- Duelo de Campeões (2005)
O título original deste filme americano também é “The Game of Their Lives” como o documentário acima. Mas é uma recriação com atores que relembra a maior zebra de todas as Copas, a vitória dos Estados Unidos sobre a Inglaterra por 1 a 0 em Belo Horizonte. O astro do filme é Gerard Butler, tradicional galã de comédias românticas.
Apesar de a partida ter acontecido no Estádio Independência, a aparência do local mudou muito desde 1950. Por isso, as cenas de jogo foram filmadas no Estádio das Laranjeiras, no Rio de Janeiro, que mantém um design antigo. A recriação visual da partida é bem decente.
9- O Milagre de Berna (2003)
Outro filme que não é documentário mas merece menção pela esmerada reconstituição visual da Copa de 1954. A produção segue a seleção da Alemanha Ocidental que voltou a disputar uma Copa depois de ser punida por alguns anos pela Fifa por causa da Segunda Guerra Mundial.
As imagens da vitória de virada por 3 a 2 sobre a fantástica Hungria do craque Puskas em Berna, na Suíça, são muito convincentes. E é acompanhada pela marcante narração original de uma rádio alemã, célebre pelo emocionado berro “Tor! Tor!” (“Gol! Gol!”) do locutor quando o atacante Rahn faz o terceiro gol, a poucos minutos do fim da partida.
Em 2004, foi lançado na Alemanha um documentário sobre aquela vitória com o mesmo nome original deste filme, “Das Wunder von Bern”.
10- Fakementários
Dois falsos documentários sobre Copas feitos em tom cômico mas que fingem ser sérios merecem destaque. Um é o sueco “Konspiration ’58” (2002), que se propõe a provar que a Copa de 1958 não existiu. Foi uma encenação filmada pela agência de espionagem americana CIA.
Entre as “provas”, a posição das sombras de jogadores e bola em imagens dos jogos daquele torneio. A posição do sol sobre a Escandinávia em junho supostamente não proporciona sombras naqueles ângulos…
Já o italiano “A Copa Esquecida” (“Il Mundial Dimenticato”, 2011) jura que ocorreu um mundial em 1942 na Patagônia, no sul da Argentina, durante a Segunda Guerra Mundial, com presença das seleções da Alemanha nazista e da Itália fascista.
A “revelação” da existência dessa Copa (que, obviamente, não aconteceu na vida real) se deu com a descoberta de um esqueleto com uma câmera cinematográfica na Patagônia. Na filmadora, estariam as cenas dos jogos daquele torneio, vencido por uma seleção de indígenas mapuches numa final contra os alemães.
