A humilde origem da tag HTML Blink

Lou Montulli foi uma das primeiras pessoas a trabalhar no navegador Netscape, que deu origem a muitos dos veneráveis (e a essa altura provavelmente depreciados) padrões web com os quais alguns de nós crescemos. E se não fosse por ele, a desprezada (ou talvez amada) tag HTML blink talvez nunca tivesse existido. Esta é a […]

Lou Montulli foi uma das primeiras pessoas a trabalhar no navegador Netscape, que deu origem a muitos dos veneráveis (e a essa altura provavelmente depreciados) padrões web com os quais alguns de nós crescemos. E se não fosse por ele, a desprezada (ou talvez amada) tag HTML blink talvez nunca tivesse existido. Esta é a história.

Recorrentemente creditam a mim a invenção da tag Blink. Para todos vocês que são relativamente novos na web, a tag Blink é um comando HTML que faz o texto piscar e muita, muita gente acha esse comportamento extremamente irritante. Não vou negar a invenção, mas a história tem algumas coisas a mais do que se conta por aí.

Em 1994 eu era um engenheiro de fundações no Netscape, e antes disso eu tinha escrito o navegador Lynx que tinha vindo antes de todos os navegadores populares da época. O Lynx era e ainda hoje é um navegador baseado em texto e é comumente usado em janelas de console em máquinas UNIX. No Netscape, nós estávamos construindo software que usava uma interface gráfica de usuário e poderia expressar vastamente mais estilos de texto e layouts, bem como imagens e outras mídias. Gastamos um tempão pensando no futuro da web e em novas tecnologias que permitiriam novas classes de documentos, aplicações e usos. Alguns exemplos daquele brainstorm são as tabelas HTML, SSL para comunicações seguras, plugins para extensões e JavaScript para habilitar HTML dinâmico.

Em dado momento no fim do verão, fiz uma pausa junto com outros engenheiros e fomos todos a um bar local na rua Castro, em Mountain View. O bar era o St. James Infirmary e ele tinha uma estátua de 9,1 metros da Mulher Maravilha, dentre outras coisas interessantes. Em dado ponto da noite, mencionei que era triste que o Lynx não pudesse exibir a maioria das extensões HTML que estávamos propondo, e também disse que o único estilo de texto que o Lynx poderia explorar dado o seu ambiente era texto piscante. Demos uma boa gargalhada da ideia de texto piscando e falamos sobre piscar assim e assado e o quão absurda a ideia como um todo era. A noite transcorreu normalmente dali em diante, com uma boa quantidade de bebida e eu conhecendo uma garota que, mais tarde, viraria a minha primeira esposa.

Chegou a manhã de sábado e fui ao escritório apenas para descobrir o quê? Texto piscando. Estava na tela, piscando em toda a sua glória, e dentro de um navegador. Como pode isso ter acontecido, você pode perguntar. Ocorreu que um dos engenheiros gostou tanto da minha ideia que ele saiu do bar pouco depois da meia noite, voltou ao escritório e implementou a tag Blink durante a madrugada. Ele ainda estava lá pela manhã, todo orgulhoso do trabalho que fizera.

Naquela época havia três versões do navegador que rodavam em UNIX, Windows e Mac. Em um período de 12 horas o pisca-pisca estava disponível só no UNIX, mas não levou muito tempo para que ele se espalhasse para o Windows e, então, para o Mac. Lembro-me de imaginar que esse seria um inofensivo easter egg, que ninguém o usaria de fato, mas eu estava muito errado. Quando lançamos o Netscape Navigator 1.0 não documentamos a funcionalidade do Blink de forma alguma e por algum tempo ela ficou em silêncio. Então em algum lugar, alguém com o arcano conhecimento da tag vazou-o para o mundo real e de repente estava tudo piscando. “Olhe aqui”, “compre isso”, “veja que legal”, tudo piscando. Grandes anúncios piscando em toda sua glória. Parecia muito com Las Vegas, exceto que era na minha tela e sem uma forma de desligá-lo.

No fim, muito foi dito, a maior parte na forma de posts inflamados em fóruns de discussão e a tag Blink será provavelmente lembrada como a mais odiada de todas as tags HTML. Gostaria de declarar publicamente que em momento algum eu realmente escrevi código ou fui favorável à tag Blink. É verdade que eu dei a inspiração inicial, mas era apenas um pensamento experimental. Não darei os nomes de nenhuma das pessoas que escreveram aquela coisa, se eles quiserem se revelar, o farão por conta própria. No fim das contas, a minha maior tristeza é que o Lynx nunca conseguiu piscar textos. Também me entristece saber que o St. James Infirmary foi ao chão após um incêndio em 1997. Era um lugar legal para sair com os amigos e faz muita falta.

/blink on,

:lou

Republicado com permissão de Lou Montulli.

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