A única grande dúvida que ainda resta sobre o iPad Mini
Assim como o iPhone 5, o iPad Mini já vazou o bastante para ser apenas um mero boato. Vamos supor por um segundo que nós sabemos como ele é, seu tamanho, e quais componentes virão nele. É um pressuposto seguro.
Com lançamento previsto para daqui a poucas semanas, temos um quebra-cabeça no qual falta apenas uma peça: o preço. E esse detalhe, que será decidido pela Apple, terá repercussões enormes para o iPad Mini – e para a própria empresa.
Eis o que podemos dizer com alguma certeza sobre o pequeno tablet da Apple: ele estará entre um iPhone grande e um iPad pequeno, terá uma tela de 7,85 polegadas que não é bem Retina, terá componentes semelhantes ao iPad 2 e iPod touch, e será anunciado nas próximas semanas. É provável que ele venha em alumínio anodizado preto, e possivelmente em branco também. E poderia muito bem haver uma versão 3G.
Portanto, a única dúvida realmente é o preço. E esta é a dúvida que será mais difícil para a Apple responder.
Mistura premium
Responder a essa pergunta parece ser fácil. Afinal, ao contrário do iPad – que estabeleceu o mercado de tablets de 10″, deixando a Apple em enorme vantagem – já existem diversos tablets de 7″ no mundo. E, por isso, já há mercado o bastante para estabelecer as expectativas do consumidor quanto ao preço de um tablet de 7″, pelo menos nos EUA. Quanto? Entre US$200 e US$250.
Então tudo bem! Digamos que o iPad Mini comece em 16GB (assim como os outros iPads). Isto o colocaria contra o Kindle Fire HD de US$200, o Nook HD de US$230, e o Nexus 7 de US$250. Assumindo que a Apple não se importe em cobrar um pouco a mais, até US$300 faz todo o sentido. Pronto.
Mas dê uma olhada na concorrência. O Nook HD tem a melhor tela de qualquer tablet de 7 polegadas, e um processador OMAP mais rápido que do Kindle Fire e do Nexus 7 (e mais rápido que o Apple A5, que consta nos rumores do iPad Mini). Na verdade, por US$300 você compra um Nook HD+ de 32GB e tela de 9 polegadas. Da mesma forma, o Nexus 7 ganha de qualquer tablet em design, tem Tegra 3 quad-core, 1GB de memória RAM, Android Jelly Bean rodando liso, uma tela quase Retina, e vários apps do Google Play. Então cobrar US$300 poderia ser demais para a Apple — e lembre-se que o iPad compete até hoje em preço.
E também há o Kindle Fire HD, de uma empresa com quase tanto reconhecimento de marca quanto a Apple, um ecossistema de conteúdo que ganha do iTunes (pelo menos nos EUA), e uma tela Retina. E tudo por US$200. E você leva muito mais por US$300: o Kindle Fire HD com tela Retina de 9 polegadas. Entre ele e um iPad menor (e menos equipado), a escolha seria óbvia.
Então, por que não cobrar bem menos? A Apple pode se dar ao luxo, afinal. Mas talvez ela não queira.
O precedente do iPod
O sucesso da Apple nos EUA se deve, em parte, ao esquema simples de preços que eles têm por lá. Quase todos os produtos da Apple Store (com exceção do Shuffle, Nano, e iPads 3G) custam múltiplos de US$100. Quer a versão um pouco melhor de alguma coisa? Pague mais US$100.
Na verdade, este é um sistema tão bem-estabelecido que a Apple talvez pague por isso. Um iPad Mini cairia diretamente entre dois dispositivos: o iPod touch e o iPad. Ele deve ter o mesmo processador de ambos, e ficar entre ambos quanto ao tamanho. O iPod touch de 32GB (o menor disponível) custa US$300. O iPad 2 de 16GB, por sua vez, custa US$400. É quase impossível imaginar o iPad Mini custando menos do que um Touch, ou mais que o iPad 2. Seria confuso, e a Apple odeia confusão.
Mas US$300 para um iPad Mini 16GB seria ideal, não? Especialmente considerando o fetiche da Apple por múltiplos de US$100. Pensemos no iPod Touch de 32GB. Ele custa US$300: adicione tamanho (+US$100), tire parte do armazenamento (-US$100), e você acaba voltando para US$300. Ou pensemos no iPad 2: ele custa US$400, mas descontando o tamanho menor (-$100), você também chega a US$300. E esse preço se encaixa direitinho nos preços de casa iCoisa há tempos (imagem ao lado por Ryan Jones).
Quando a Apple atualizou sua linha de iPod touch no mês passado, ela poderia ter facilmente definido um preço mais baixo em antecipação ao iPad Mini. Mas isso não aconteceu. E isso é preocupante.
Repensando suas origens
No passado, a Apple ficou famosa por cobrar mais por seus produtos do que a concorrência. E uma parcela das pessoas gastava mais no mesmo produto básico porque confiava na marca e gostava da parte estética do produto. A Apple ganhava bem menos dinheiro nesta época.
Só que isso está mudando. A Intel teve que pagar US$300 milhões para fabricantes equipararem os ultrabooks ao MacBook Air, tanto em design como em preço. E Androids top de linha já custam tanto quanto (ou mais que) o iPhone, tanto no Brasil como nos EUA.
E temos o iPad. Talvez você tenha esquecido, mas um dos aspectos mais notáveis sobre o tablet original da Apple era o seu preço. Ele era não era caro, e demorou um ano para os concorrentes da Apple produzirem um tablet razoavelmente decente de 10 polegadas por US$500, e mais outro ano para derrubar o preço para US$400. E ainda assim, as vendas da concorrência são baixas.
No entanto, muitos americanos estão comprando o Kindle Fires e Nexus 7. Milhões deles. O mercado de tablets pequenos é maduro e competitivo de uma forma que o mercado de 10 polegadas nunca foi. E tablets menores já custam menos de US$300.
O preço que a Apple dará ao iPad Mini afeta não só quantas unidades ela vai vender. Se ele custar menos de US$300, Tim Cook responderá a ameaça que Google e Amazon representam para o seu império de tablets. Será uma briga de gigantes. E se custar mais? Então é mais um sinal, assim como os Mapas, assim como o conector dock que deve custar R$100, de que os antigos problemas da Apple estão voltando. É o tipo de coisa que a Apple faria quando era de nicho, não como a maior empresa de tecnologia do mundo.
Então, talvez a maior questão sobre o iPad Mini não seja realmente o preço. Talvez a pergunta seja esta: Que tipo de empresa a Apple quer ser?