Os criadores de Angry Birds querem que ele seja “o novo Super Mario” – será?
Em uma série de posts sobre os destaques da App Store, a Wired, talvez a mais respeitada revista de tecnologia e tendências do mundo, chegou com os dois pés no peito, comparando o simpático jogo dos passarinhos que surgiu no iPhone com a trajetória do maior clássico dos games, um jogo que até hoje ensina como os jogos devem ser feitos. Quanto mérito há?
Imagem por zero-lives
Não há dúvida de que Angry Birds é um sucesso estrondoso, como há muito não se via. Desde que foi lançado, em dezembro de 2009, pela Rovio, eu não lembro de jamais não ter visto o ícone do passarinho vermelho no Top 10 de apps pagos da App Store. Segundo a matéria da Wired, ele já foi baixado mais de 75 milhões de vezes – a maior parte desse número na própria plataforma da Apple, apesar de aí contabilizarem-se também as vendas no Marketplace do Android, assim como todos os outros canais em que Angry Birds pode ser comprado.
Sequências, spin-offs temáticos e atualizações gratuitas não deixam o jogo sair da mente das pessoas, mas piadas em programas de humor, manifestações espontâneas de adoração ao jogo e brinquedos causando comoção em homem barbado por aí sedimentam Angry Birds como mais do que um jogo. Ele já virou um fenômeno cultural.
No entanto, Super Mario também foi tudo isso, por mais tempo, e com uma diferença crucial: tem uma jogabilidade muito superior, além de ter sido capaz de se reinventar repetidas vezes, de modo manter a sua relevância até hoje.
Vai ter que comer muito alpiste
Podem atirar pássaros pretos explosivos contra mim, mas a minha posição é esta: eu não considero Angry Birds um ótimo jogo. É bom, é divertidinho e eu jogo (joguei hoje mesmo, por absoluta coincidência, depois de passar semanas sem abrir o app), mas não apresenta uma jogabilidade que eu possa dizer que admiro. É muita tentativa e erro, mas de um modo ruim – quando você consegue passar de uma fase depois de várias tentativas, a sensação raramente é de finalmente ter superado um desafio difícil, mas sim de que o jogo enfim decidiu colaborar, se comportando do jeito que você tinha em mente desde o início.
Ao meu particular ver, o sucesso de Angry Birds se dá por uma combinação de diversos fatores diferentes, entre os quais até incluem-se a mecânica de jogo e a tal “diversão”, mas cuja maior parte consiste em fatores como o carisma dos personagens*, o design de som, a baixíssima penalidade por falhas (você perde apenas dois ou três segundos para tentar de novo) e o preço e momento de lançamento no ecossistema da App Store.
Então, pra mim, Angry Birds pode ser no máximo comparado a jogos como Pac-Man ou Duck Hunt, que fizeram um sucesso animal e atingiram status de ícone cultural, mas que ao mesmo tempo deixaram esse sucesso todo no passado e hoje são queridos principalmente pelos saudosistas. Daqui a cinco ou dez anos, acho que estaremos lembrando com carinho de Angry Birds… enquanto jogamos o novo Super Mario. O que você acha? [Wired]
* Algo que ilustra bem isso é a história da origem do jogo: um dos designers apenas fez um desenho conceitual que mostrava um cenário parecido com os que o jogo tem hoje, com alguns pássaros redondos, coloridos e sem pernas. Não havia ainda uma proposta de jogabilidade em cima disso. Não havia inimigos. Não havia uma mecânica já bolada. Mesmo assim a empresa aprovou que o jogo fosse produzido apenas por ter gostado dos passarinhos. Todo o resto foi sendo inventado depois.