No futuro, todos seremos o Homem-Aranha. Pelo menos, aqueles que puderem comprar botas-aranha super grudentas, controladas pela luz e que escalam paredes. Um time de cientistas alemães criou um forte adesivo que consegue rapidamente colar e descolar apenas com um flash de luz. O novo dispositivo poderia ter aplicações na indústria, construindo microeletrônicos precisos sem deixar resíduos viscosos. Ou poderia, eventualmente, transformar um humano em uma pessoa-aranha.
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“O objetivo principal é fazer um adesivo de escalar para humanos”, contou Emre Kizilkan, autor principal do estudo do Zoological Institue, da Universidade de Kiel, na Alemanha, ao Gizmodo.
O dispositivo incorpora uma fita inspirada em patas de lagartixa em cima de um filme poroso e sensível à luz — principal avanço da pesquisa. Este filme consiste de azobenzeno, uma molécula que se enrola sob luz ultravioleta. A superfície adesiva contém milhares de pilares de 70 micrômetros em formato de cogumelo que realizam o processo de colagem via forças de van der Waals.
Essas forças inatas ocorrem porque os elétrons não são uniformemente distribuídos em alguns átomos, então a carga naturalmente se acumula nos topos, fazendo-os se agarrar a qualquer coisa a que o adesivo esteja colado. Junte tudo, e os cientistas conseguem controlar quantas dessas torres minúsculas tocam a superfície, ligando e desligando a luz ultravioleta.
Perguntei a Taylor Ware, cientista de materiais da Universidade do Texas, em Dallas, qual sensação tal superfície teria se você a grudasse à sua mão. “Cada um desses pilares é como borracha, assim como seu apoio, o que seria semelhante a um elástico de borracha”, contou. “Teoricamente, não deixaria mais resíduo do que uma borracha, se engendrarem o material de tal forma que você possa efetivamente prevenir a quebra dessas colunas.”
Essencialmente, os pesquisadores criaram uma máquina de pegar doces controlada por ultravioleta, mas com uma microestrutura adesiva em vez de uma garra. A luz UV faz o dispositivo se enrolar, o que afeta a quantidade de área grudenta da superfície tocando seja lá o que os pesquisadores decidam. Os cientistas usaram essa propriedade de duas diferentes maneiras: primeiro, escolheram superfícies de duas dimensões, como placas de vidro, com a luz desligada. Depois, ligaram a luz e usaram a fita enrolada para pegar as esferas. Essas esferas, então, poderiam então ser soltas ao desligar a luz novamente e nivelar o adesivo. Isso seria especialmente útil “em um ambiente limpo”, disse Kizilkan. “Por exemplo, o transporte de wafers de silício.” Os pesquisadores publicaram seus resultados nesta quarta-feira, na Science Robotics.
Imagem: Emre Kizilkan and Jan Strueben
A demonstração de Kizilkan impressionou Ware. “As características mais legais deste trabalho são o fato de que ele é rápido, reversível, retorna à aderência rapidamente e responde à luz”, disse. Ele concordou ainda que o dispositivo seria mais útil transportando pequenos objetos em um ambiente industrial.
Kizilkan, por fim, quer usar essas superfícies com a robótica para criar um adesivo para escalar paredes, já que a criação é bastante pegajosa — um quadrado de 20 centímetros com o objeto é suficiente para levantar um homem adulto, ele disse, embora ainda não tenham testado em pessoas. Ware já foi mais cuidadoso: “Ainda há uma série de preocupações com a durabilidade do material, ao longo de vários ciclos. E, quando eles ficam sujo, isso pode limitar sua utilidade.” Kizilkan apontou que sujar não mudaria o material em si, apenas o entupiria.
Esperamos que os cientistas consigam construir logo as botas-aranha, já que sabemos que há vários homens-aranhas esperando para escalar seus arranha-céus favoritos.
Imagem do topo: reprodução/Gizmodo