7 adolescentes entram com ação coletiva contra o ar poluído em cidade americana

O ar poluído e o apoio do governo de Utah aos combustíveis fósseis levou jovens ativistas americanos a processarem o Estado. Entenda.
Ar poluído
Imagem: Natalie R./Reprodução

Por Angely Mercado

Natalie R, de 15 anos, está cansada da má qualidade do ar em Utah, seu estado natal. Mais do que simplesmente reclamar, ela e outros jovens estão apontando quem eles veem como responsáveis pela poluição: oficiais do governo que continuam a permitir o desenvolvimento de combustíveis fósseis. 

No início do mês, sete jovens ativistas entraram com uma ação contra o estado de Utah com ajuda da Our Children’s Trust, um escritório de advocacia sem fins lucrativos com foco na justiça climática. O documento alega que o estado e seus funcionários eleitos favorecem inconstitucionalmente as companhias de combustíveis fósseis em detrimento dos direitos dos moradores a uma vida saudável e segura. Andrew Welle, advogado da Our Children’s Trust e conselheiro principal do processo, disse que a principal questão são os problemas de saúde pública que os jovens enfrentam no estado.

“Utah em particular tem sérios problemas com a poluição do ar baseada em combustíveis fósseis… Nós temos dados que mostram que isso é particularmente perigoso [para os jovens] por causa de seus corpos em desenvolvimento e vulnerabilidades únicas da idade,” disse Welle. “Ao invés de proteger seus jovens e abandonar os combustíveis fósseis, o estado realmente dobrou [a produção]”.

Em agosto de 2021, Utah teve temporariamente a pior qualidade do ar registrada em todo o mundo, causada pela fumaça de grandes incêndios na região. De acordo com um relatório de 2020 da Administração de Informações sobre Energia dos EUA, 61% da energia elétrica de Utah é gerada por carvão e apenas 14% de fontes renováveis.

“No geral, todos esses jovens têm menos de 18 anos. Eles não podem votar [nos EUA]. Eles não podem ir ao legislativo e mudar suas políticas através de processo político… Eles estão em uma emergência climática. Eles precisam respirar aliviados hoje,” Welle said.

Eu falei com Natalie, uma estudante do ensino médio em Salt Lake City, sobre a ação judicial e o que levou ao seu ativismo. Essa entrevista foi editada e condensada para maior clareza.

Angely Mercado: Como você se envolveu neste processo?

Natalie: Eu sou uma ativista com uma organização aqui em Utah chamada Fridays for Future Utah, então eu já estava planejando algumas greves climáticas. Eu não tinha ouvido falar sobre o Our Children’s Trust até o Dia da Terra do ano passado, quando eu estava apresentando com o Sierra Club. Eu me perguntei se existia um movimento em Utah, porque eu havia escutado sobre processos acontecendo em [outros] estados. Então nós começamos um processo de entrevistas para descobrir como poderíamos prosseguir com o processo, e desde então outras seis pessoas se juntaram ao grupo. Como minha reclamação é a primeira listada, ele parece no meu nome, mas todos nós fazemos parte disso igualmente.

Repórter: Por que seguir com uma ação judicial ao invés de organizar outro protesto climático ou encontrar outras formas de pressionar as autoridades eleitas de Utah?

Natalie: É diferente de fazer um protesto comum porque podemos tomar medidas legais nesse caso. E se a corte decidir que nossos direitos constitucionais estão sendo violados, então poderemos conseguir mudanças legais. Nós vivemos em uma sociedade em que a maioria das mudanças é feita através do governo. Eu encorajaria as pessoas a olharem como seus direitos legais e liberdades estão sendo violadas por ações de seus governos e como elas estão sendo impactadas pelas mudanças climáticas. Quando as pessoas puderem ver o que seus governos estão fazendo que está violando seus direitos como cidadãos – isso é muito poderoso para ajudá-los a agir.

Repórter: Você sente que o estado não protegeu seus direitos constitucionais. Você poderia falar mais sobre isso?

Natalie: Utah tem muitas leis em vigor que apoiam a indústria de combustíveis fósseis e permite a exploração, extração e exportação deles, além de sua queima no estado, o que está causando problemas significativos com a qualidade do nosso ar.

Pessoalmente, eu sou uma pessoa muito ativa e gosto de sair na rua, então [isso é sobre nossos direitos] de poder sair na rua e ter um estilo de vida fisicamente ativo e saudável, assim como manter a saúde mental. Às vezes eu não consigo sair porque a qualidade do ar é considerada tóxica e nociva. Essa é uma violação dos meus direitos, porque eu deveria poder sair da minha casa. Isso ocorre com certa frequência, principalmente nos últimos dois anos. Tivemos uma qualidade do ar muito ruim entrando em Salt Lake. E também tivemos avisos sobre o calor.

Repórter: Qual é a sensação de processar o governo do seu estado?

Natalie: É um pouco estranho, mas com a ajuda de todo mundo, com todos os demandantes e com [os advogados] Andrew e Amira, não parece uma tarefa tão assustadora. Há um monte de jovens, de nove a 18 anos, processando o governo, e isso não é algo que você ouve todos os dias. 

Repórter: Como as pessoas que você conhece reagiram à notícia? 

Natalie: Não têm muitas reações nesse momento, mas eu acho que se formos a corte um dia e conseguirmos mais publicidade para a situação, esperançosamente, vai ter mais apoio de estudantes da minha idade… isso é o que eu espero. 

Repórter: O que você mais quer que o público entenda sobre esse processo?

Natalie: Não é que o estado não esteja fazendo o suficiente para combater as mudanças climáticas. É que eles estão contribuindo ativamente para o problema através das leis que eles promulgaram. E assim, embora eles não estejam fazendo o suficiente, também estão contribuindo ativamente.  Uma vitória nesse caso reduziria as emissões, ajudaria a melhorar a qualidade do ar e, em geral, proporcionaria um clima melhor. 

Carolina Fioratti

Carolina Fioratti

Repórter responsável pela cobertura de saúde e ciência, com passagem pela Revista Superinteressante. Entusiasta de temas e pautas sociais, está sempre pronta para novas discussões.

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