Texto: Agência Bori
Highlights
- Sargentinho (Abudefduf saxatilis) alimenta-se principalmente de pequenas larvas e crustáceos que flutuam na água
- No período da tarde, o peixe aumenta o consumo de algas, que acumulam açúcares com a fotossíntese e passam a ser mais nutritivas
- Embora a espécie seja muito comum nos recifes do oceano Atlântico, cientistas ainda não conheciam seu comportamento alimentar
As listras pretas e prateadas e um toque de amarelo renderam um apelido simpático a uma das espécies de peixes mais avistadas na costa brasileira. O sargentinho (Abudefduf saxatilis) tem uma dieta composta por detritos, algas, invertebrados, larvas e pequenos crustáceos, grupo que inclui camarões, siris, lagostas e caranguejos. Pesquisadores das universidades federais de Santa Catarina (UFSC) e Fluminense (UFF) e da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) verificaram pela primeira vez o comportamento alimentar natural da espécie e constataram que sua abundância pode ter relação com a dieta variada. Os resultados estão em artigo publicado nesta sexta (25) na revista “Neotropical Ichthyology”.
As equipes de pesquisadores das três universidades observaram mais de 2700 indivíduos em recifes costeiros de Arraial do Cabo, no Rio de Janeiro, e do litoral de Santa Catarina para registrar os comportamentos do peixe, que pertence a um gênero com grande importância na cadeia alimentar em todo o mundo devido à sua abundância. Os resultados das pesquisas mostram os alimentos escolhidos pelos animais, assim como os locais e horários das refeições. Em todas as fases da vida, o sargentinho se alimenta principalmente de invertebrados que flutuam na água e formam o zooplâncton.
Já a partir do período da tarde, o sargentinho aumenta o consumo de algas, que acumulam açúcares durante a fotossíntese e ficam mais nutritivas e calóricas ao longo do dia. Em termos de fase da vida, os peixes mais jovens comem mais, apresentando uma dieta com opções mais proteicas e calóricas do que os adultos. O padrão de alimentação da espécie sofre alguma variação entre os machos em época reprodutiva, pois tomam conta dos ovos depositados pela fêmea no fundo do recife e passam a se alimentar muito pouco para ficarem atentos o tempo todo e evitar predadores.
Segundo Sergio Floeter, professor e pesquisador da UFSC e um dos autores do estudo, um dos objetivos do trabalho foi entender a opção dos animais por ambientes compostos por organismos que flutuam na água ou por algas e corais. “Ou seja, já sabemos que os peixes escolhem o que preferem comer”.
Floeter reforça a importância de conhecermos o padrão de alimentação dos peixes no sistema marinho, incluindo o sargentinho. Assim, por meio de estudos sobre a dieta alimentar do peixe, observou-se “onde a espécie está se alimentando, se mais na coluna de água no plâncton, ou se próximo ao recife, que reflete a via de entrada de energia no sistema recifal. Além disso, já sabemos que ele transporta elementos do plâncton para os recifes, para onde ele vai ao longo do dia e defeca ou é predado, uma forma de garantir a dieta de outros peixes e invertebrados que vivem próximo ao fundo recifal”, comenta o pesquisador.
Além do Brasil, a espécie ocorre em outros recifes tropicais e subtropicais do oceano Atlântico. O peixe é bastante conhecido no Nordeste brasileiro, onde costuma ser alimentado por turistas, prática prejudicial aos indivíduos e aos recifes. A julgar pela competência do sargentinho, ele sabe como garantir suas preferências alimentares e seguir entre as espécies mais abundantes do oceano.