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Floresta Amazônica perdeu quase 3 bilhões de árvores em três anos

Cientistas avaliam impacto do fenômeno El Ninõ junto às ações humanas na floresta nos anos de 2016, 2017 e 2018.

Imagem: Erika Berenguer

Que os impactos das mudanças climáticas são imensos, nós sabemos, estamos sentindo e continuaremos a descobrir e presenciar. Agora, em um estudo feito por pesquisadores brasileiros e britânicos, publicado na revista Proceedings of the National Academy of Sciences (PNAS), os cientistas apresentam as consequências causadas na Floresta Amazônica pelo evento El Niño, mas agravado pelas ações humanas. 

O El Ninõ é um fenômeno atmosférico-oceânico que ocasiona o super aquecimento das águas do Oceano Pacífico. Como consequência, tem impacto na distribuição das temperaturas da água de todo o planeta e impacto no clima do mundo inteiro.

A passagem do fenômeno em 2015 e 2016, que foi considerada no Brasil uma das mais fortes da história, deixou um péssimo legado de secas e incêndios florestais. De acordo com o estudo, esse evento teve consequências nos anos seguintes e matou mais 2,5 bilhões de árvores e cipós em apenas uma pequena parte da floresta. A região chamada Baixo Tapajó foi a que concentrou a maior devastação. 

Além disso, o estudo também mostrou que 495 milhões de toneladas de dióxido de carbono (CO2), nocivo à atmosfera, foi liberado pela floresta. Estima-se que esse valor seja maior do que um ano inteiro de desmatamento. 

A pesquisadora brasileira Erika Berenguer, das Universidades Lancaster e de Oxford, do Reino Unido, e principal autora do estudo, disse à Agência Fapesp que a equipe viu que “as árvores localizadas em áreas da floresta que já tinham sofrido algum distúrbio antrópico no passado, como queimada ou extração de madeira, foram mais vulneráveis aos efeitos da combinação de seca e do fogo associados ao El Ninõ de 2015 do que as que estavam situadas em regiões mais conservadas do bioma”. 

E esse foi exatamente o ponto da pesquisa. Desde 2010, a equipe de pesquisa monitorava “21 parcelas” de terras da floresta amazônica espalhadas com até 100 km de distância umas das outras na região do Baixo Tapajós. Foi quando o El Ninõ causou imensa seca que os pesquisadores resolveram averiguar como o evento afetaria as plantas daquela região.

Nos três anos que sucederam o fenômeno, os pesquisadores voltaram a cada três meses para mapear aquelas 21 áreas marcadas e saber qual destino teria a vegetação. 

“O fogo iniciado em outras áreas entrou nas parcelas que monitoramos desde 2010 e queimou tudo”, disse Berenguer. Normalmente, esses incêndios podem ser causados pela seca ou por fogo humano (desmatamento ilegal). Quando as árvores são derrubadas, o fogo serve para “limpar” o mato no chão. A pesquisadora explicou, no entanto, que a Amazônia é muito úmida, e que se esse fogo “escapasse”, morreria como se estivesse em um pedaço de pano molhado. 

Para entender melhor a imensidão da devastação, as parcelas estudadas na floresta foram divididas em: floresta primária, que nunca sofreu qualquer impacto; floresta primária que já tinha sido cortada; um grupo que foi nomeado floresta primária que sofreu extração de madeira ou queimada; e mais uma parcela foi chamada de floresta secundária, locais totalmente desmatados que teve uma nova leva de vegetação.

Como resultado, os pesquisadores perceberam que os efeitos do El Niño, somados à interferência humana na área, desmataram cerca de 3 bilhões de árvores na área estudada, ou 1,2% do território da Amazônia brasileira. “Ver grande parte da floresta que monitorava havia anos de repente morta foi ‘difícil emocionalmente”’, lamenta Berenguer à BBC.

A pesquisa também apontou que as áreas de floresta secundária sofreram um impacto ainda maior. Isso pode ser explicado porque as árvores que cresceram em regiões já desmatadas podem ser mais suscetíveis a sofrerem com seca e incêndios, já que têm a casca muito fina e não possuem isolamento térmico. 

Carlos Joly, professor do Instituto de Biologia da Unicamp, disse à publicação que “os resultados do estudo estão em consonância com trabalhos publicados recentemente por outros grupos que mostram que a Amazônia pode deixar de ser um sumidouro e se tornar uma fonte de carbono”. E isso condiz com a pesquisa publicada recentemente na revista científica Nature, que indica que parte da floresta, impactada pelos efeitos climáticos, perdeu a capacidade de captar o carbono no ar. 

Mas nem tudo está perdido. Joice Ferreira, pesquisadora da Embrapa Amazônia Oriental e da Rede Amazônia Sustentável e uma das autoras do estudo, disse à BBC que é possível diminuir as consequências do El Ninõ reduzindo a degradação da floresta, e principalmente, investindo nos cuidados para manter o que já tem e restaurar o que foi perdido. 

[Revista Galileu, BBC]

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