“Estávamos encerrando as buscas no sítio após encontrar poucos fragmentos ao longo do dia. Foi quando notei o que parecia ser um pedaço de osso mais alongado, e apenas no momento de sua coleta é que percebemos que se tratava de um pedaço do crânio em perfeitas condições!”
Anfíbio gigante mais antigo que dinossauros é descoberto no Rio Grande do Sul
O crânio de uma nova espécie de anfíbio gigante foi encontrado por pesquisadores da Universidade Federal do Pampa (Unipampa), no Rio Grande do Sul. Estima-se que o bicho viveu há, aproximadamente, 250 milhões de anos.
Isso localiza a descoberta no início do período Triássico, antes mesmo dos primeiros dinossauros. De acordo com os pesquisadores, o fóssil foi encontrado em fazenda na área rural do município de Rosário do Sul, na região da fronteira oeste do estado.
O bicho ganhou o nome de Kwatisuchus rosai. “Kwati” em referência ao termo Tupi para focinho comprido (a cabeça do bicho era afilada como a dos crocodilos atuais). Já o “sobrenome” rosai homenageia o paleontólogo Átila Stock Da-Rosa, da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM).
O professor Da-Rosa foi um pioneiro na localização de sítios fossilíferos desta idade, dentre os quais o local onde foi encontrada a nova espécie, bem como no seu estudo e proteção.
O estudo foi publicado na revista científica especializada The Anatomical Record. Além dos cientistas brasileiros, o trabalho contou com a participação de Tiago Simões, da Universidade de Princeton, e da paleontóloga Stephanie Pierce, da Universidade de Harvard.
Como era o ambiente que o anfíbio vivia
Os pesquisadores descrevem o Kwatisuchus como um sobrevivente. “Viveu em um ambiente devastado pela maior extinção em massa da história do planeta”, explicou em um comunicado o paleontólogo da Unipampa, Felipe Pinheiro, que coordenou a pesquisa.
O cientista explica que os animais eram adaptados a condições de alto estresse ambiental, e, por isso, acabaram se tornando abundantes em todo mundo. “Eles nos ajudam a entender como as extinções afetaram o planeta e como podemos reconhecer seus efeitos atualmente”, esclarece.
Os temnospôndilos, grupo ao qual pertence o anfíbio, eram animais carnívoros e raramente pequenos. Além disso, eram abundantes em ecossistemas aquáticos, mas também tinham representantes terrestres.
Estima-se que os maiores poderiam chegar a quase 5 metros. Embora gigantesco para os padrões atuais, o Kwatisuchus, que tem um tamanho estimado de 1,5 m, era um temnospôndilo de médio porte.
“Este foi o grupo mais diverso de tetrápodes primitivos, com registro em todos os continentes da Terra”, conta o paleontólogo Estevan Eltink Nogueira, da Universidade Federal do Vale do São Francisco (Univasf).
Detalhes da descoberta
O crânio do Kwatisuchus foi descoberto em agosto de 2022. Em seguida, passou por um delicado processo de limpeza e preparação nas instalações da Unipampa.
Após completamente livre da rocha, o animal foi estudado em detalhe e a nova espécie ganhou um nome. Assim, com seu estudo detalhado, os cientistas ficaram surpresos com o fato de que os parentes mais próximos de Kwatisuchus são todos encontrados na Rússia.
Segundo a pesquisa, essa semelhança mostra que as faunas brasileiras e russas tinham uma intrigante conexão em um passado distante.
“Naquele momento, os continentes estavam unidos em um supercontinente chamado Pangeia e a distância entre o Brasil e a Rússia era menor”, explica a ecóloga e paleontóloga Arielli Fabrício Machado, pesquisadora da Unipampa, em parceria com a Universidade de Harvard.