A Apple conseguiu tirar do Google seu chefe de buscas e inteligência artificial, John Giannandrea. A contratação é uma vitória significativa para a empresa, que tem ficado para trás de seus rivais na área de inteligência artificial.
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De acordo com uma reportagem do New York Times, a Apple contratou Giannandrea como parte de um esforço geral para melhorar a Siri, sua assistente digital que tem fama de ser “menos efetiva” do que o Google Assistente ou a Alexa, da Amazon. Tecnologias como reconhecimento de voz e reconhecimento de pessoas em imagens são algumas das áreas nas quais a Apple tem ficado para trás.
O mercado considera que Facebook, Google, Amazon e Microsoft estão bem à frente da Apple nesse campo, em parte pelo fato dos desenvolvedores da Siri não possuírem acesso aos dados disponíveis em alguns desses outros competidores, como aponta o The Verge. Além disso, a Apple tem menos “talentos de pesquisa e recursos” centralizados em inteligência artificial.
A empresa não publica pesquisa no campo de IA desde 2016, e, se esse status continuar, as assistentes virtuais rivais podem representar uma verdadeira ameaça à Apple em seus próprios dispositivos.
Adquirir mais talentos externos talvez seja um pré-requisito para continuar a melhorar produtos como o Apple Neural Engine, um componente presente nos processadores A11 recém-lançados e que tem como objetivo melhorar a performance da inteligência artificial. Recentemente, o VentureBeat noticiou que a Apple estaria numa corrida para contratar mais de 160 pessoas para a divisão da Siri. As últimas iniciativas correspondem à cobertura da Bloomberg em maio de 2017:
Em 2015, a Bloomberg noticiou que a cultura de sigilo frustrou a capacidade da Apple de atrair talentos para pesquisa de alto nível em inteligência artificial. Desde então, a Apple comprou várias companhias com fortes laços com IA, começou a publicar artigos relacionados à pesquisa de IA, se juntou a um grupo chave de pesquisa e realizou contratações na área. Em outubro de 2016, a Apple contratou Russ Salakhutdinov, da Universidade Carnegie Mellon, como diretor de pesquisa de IA.
“Nossa tecnologia deve ser infundida com os valores pelos quais todos nós prezamos”, escreveu o CEO Tim Cook em um email obtido pelo Times. “John compartilha do nosso compromisso com a privacidade e nossa abordagem ponderada à medida que tornamos os computadores ainda mais inteligentes e pessoais.”
O Times aponta que Giannandrea surgiu inicialmente no Metaweb, uma empresa de mecanismo de buscas que o Google adquiriu em 2010 para ajudar no desenvolvimento de um recurso que apresentasse respostas diretas a partir das pesquisas. O Google, de fato, mostra alguns cartões com respostas vindas de sites no topo dos resultados de busca – algo que tem prejudicado alguns sites independentes que dependem fortemente do tráfego vindo do Google e que recebeu críticas por manter os usuários presos à plataforma.
O MIT Technology Review lembra que Giannandrea acredita que a inteligência artificial não tornará os humanos “obsoletos”. Porém, ele está mais preocupado com o viés de algoritmos, que os especialistas alertam já estar presente em muitos sistemas de aprendizado de máquina.
“É importante que sejamos transparentes sobre o treinamento de dados que estamos usando e que procuremos por vieses escondidos nesses dados, caso contrário estaremos desenvolvendo um sistema preconceituoso”, disse ele aos participantes de uma conferência do Google em 2017. “Se alguém está tentando te vender um sistema de caixa preta para ajudar em decisões médicas e você não sabe como ele funciona e quais dados foram utilizados para treiná-lo, é melhor não confiar nele.”
De acordo com a CNBC, depois de Giannandrea anunciar sua partida na segunda-feira (2), o Google disse que dividiria a unidade em times independentes de inteligência artificial e mecanismos de busca e que estes seriam liderados respectivamente pelo cofundador do Google Brain Jeff Dean e por Ben Gomes.
Imagem do topo: Getty Images