Uma nova pesquisa mostra que a exposição à poluição de ar pode ser “um dos mais importantes contribuidores para a fatalidade” causada pelo novo coronavírus.
No estudo, publicado no periódico Science and Total Environment nesta segunda-feira (20), o pesquisador Yaron Ogen, do Instituto de Geociência e Geografia da MLU, Universidade Martin Luther King de Halle-Wittenberg, na Alemanha, examinou dados de satélite mostrando a concentração de dióxido de nitrogênio, um poluente de ar que danifica o trato respiratório humano produzido por veículos a diesel e por outras atividades de queima de combustíveis fósseis. Ele também analisou os dados de movimento do ar para avaliar as condições atmosféricas e ver onde o poluente estava preso nas concentrações mais altas da atmosfera.
O estudo comparou os principais pontos de poluição com os locais com o maior número de mortes pelo novo coronavírus. A análise se concentrou na Itália, França, Espanha e Alemanha, sendo que os dois primeiros países são epicentros da pandemia na Europa. Os resultados mostram uma correlação clara entre os dois. Áreas que viram um alto número de mortes vinculadas ao COVID-19 tenderam a ter concentrações significativas de dióxido de nitrogênio e pouco movimento vertical do ar.
“Quando olhamos para o norte da Itália, a área em torno de Madri e a província de Hubei na China, por exemplo, todos eles têm algo em comum: estão cercados de montanha. Isso torna ainda mais provável que o ar nessas regiões seja estável e os níveis de poluição sejam mais altos”, afirmou Ogen em comunicado.
Dos 4.443 casos de mortalidade na Itália, Espanha, França e Alemanha, 3.487 (78%) ocorreram em cinco regiões específicas e essas cinco regiões apresentaram as maiores concentrações de óxido de nitrogênio.
A correlação, não importa o quão grande é, não é o mesmo que causalidade. Mas a pesquisa sugere que aqueles constantemente expostos à poluição que causa doenças respiratórias são particularmente suscetíveis ao novo coronavírus.
“Envenenar nosso ambiente significa envenenar nosso próprio corpo e, quando ele experimenta um estresse respiratório crônico, sua capacidade de se defender de infecções é limitada”, diz o estudo.
O estudo é a mais recente evidência de que a poluição do ar pode tornar as pessoas mais vulneráveis ao COVID-19. Outro estudo separado divulgado no início deste mês constatou que apenas um pequeno aumento de exposição a longo prazo a outro tipo de poluente, o material particulado, levou a um aumento de 15% na taxa de mortalidade de COVID-19.
Essas descobertas são particularmente preocupantes, porque, globalmente, as comunidades mais pobres estão expostas a níveis elevados de poluição do ar e também enfrentam desproporcionalmente os custos de planos de saúde. E nos EUA, pesquisas mostram que pessoas pretas e pobres são mais propensas a lidar com a poluição causada por dióxido de nitrogênio e material particulado. Além de muitos outros fatores, como a menor probabilidade de ter trabalhos que podem ser realizados em casa, a exposição à poluição do ar pode ser outro motivo pelo qual, pelo menos nos EUA, a população afrodescendente tem sido atingida a uma taxa desproporcionalmente alta pelo COVID-19. Portanto, à medida que os cientistas aprendem mais sobre como a poluição de ar contribui para a propagação da pandemia, é importante ter em mente que nem todos têm o mesmo nível de risco.
Os bloqueios e quarentenas criadas para conter o vírus levaram a uma diminuição da poluição do ar em muitos locais ao redor do mundo, em grande parte devido à diminuição de viagens aéreas e de carro. Talvez essas medidas de distanciamento social estejam nos protegendo de várias maneiras.