Arquivo de Steve Jobs no Pentágono: Medo de chantagem, prisão na adolescência e LSD
Steve Jobs achava que alguém poderia sequestrar sua filha a fim de chantageá-lo, de acordo com um documento escrito na década de 80 e divulgado recentemente pelo Departamento de Defesa sobre quando Jobs passou por uma verificação de antecedentes para uma investigação confidencial de segurança.
Essa revelação, juntamente com alguns novos detalhes sobre o uso de drogas de Jobs e uma prisão não revelada anteriormente de quando ele ainda era menor de idade, vem de um questionário que Jobs preencheu para uma investigação, que foi enviado para a Wired depois de um pedido por causa da Lei da Liberdade de Informação.
Enquanto estava sendo interrogado pelos investigadores em 1988, perguntaram a Jobs de que maneiras ele poderia estar suscetível à chantagem. Ele respondeu que tinha uma filha ilegítima e sentia que “o tipo de chantagem ou ameaça que poderia ser feita contra mim seria se alguém sequestrasse [a menina].” Mas ele adicionou que se ele fosse chantageado, seria “primariamente para o propósito de ganhar dinheiro, não porque eu posso ter acesso a materiais ou documentos confidenciais.”
“Se passar por uma investigação,” ele disse, “existe uma possibilidade de chantagem e eu sei disso.”
Uma mulher não identificada que também foi entrevistada por investigadores para fornecer uma referencia de caráter para Jobs, teve uma visão contrária na questão da chantagem. Ela indicou que como Jobs era uma figura pública cuja “roupa suja” já estava exposta, ela achava que ele não seria suscetível à chantagem.
As declarações, junto com anotações feitas pelos agentes que conduziram a investigações, ampliam um pouco as informações que haviam sido reveladas no arquivo do FBI de Jobs, que o Bureau divulgou em fevereiro passado atendendo a um pedido da Wired e de outros meios de comunicação. Algumas das informações também apareceram na biografia de Jobs feita por Walter Isaacson que foi publicada pouco após a morte dele em 5 de outubro de 2011.
O novo documento revela que Jobs foi detido por um curto período em 1975 por causa de uma leve infração, que não havia sido revelada anteriormente. O assunto surgiu depois que os investigadores descobriram que o titã da tecnologia não havia divulgado o incidente em seu questionário de investigação de segurança.
Quando perguntado sobre o assunto, Jobs respondeu que ele não mencionou a prisão no Questionário de Segurança Pessoal (PSQ), porque ele não considerou isso como uma “prisão de fato”.
A prisão foi devido à falta de pagamento de uma multa por excesso de velocidade.
Jobs disse que a prisão ocorreu em Eugene, Oregon, mais de uma década antes, quando ele estava sendo questionado pela polícia por suspeita de porte de álcool enquanto ainda era menor de idade. A polícia descobriu que havia um mandado de prisão pendente devido à uma multa de trânsito que não havia sido paga e aparentemente prendeu-o imediatamente. Jobs disse que então ele pagou a multa por excesso de velocidade, que era cerca de US$50, e esse foi o fim da questão. Mas ele não considerou que aquilo era uma prisão real que precisasse ser relatada.
“Eu não tinha intenção de falsificar meu PSQ por não listar este incidente e não lembrei dele no momento que respondi ao PSQ”, ele escreveu em uma declaração.
Em seu depoimento para os investigadores, Jobs também falou abertamente sobre uma alteração ilegal que ele fez em telefones quando era mais jovem – usando um dispositivo Blue Box para fazer ligações interurbanas de graça.
“O desafio não era que eu pudesse fazer ligações interurbanas de graça, mas ser capaz de montar um dispositivo para fazer a tarefa”, ele disse. “Eu não queria ter lucros a partir do que eu considerava ser simplesmente um ‘projeto’. Com mais ou menos 14 anos, aquilo era um desafio técnico para mim, não um desafio para burlar as leis.”
Ele também forneceu detalhes adicionais sobre seu uso de drogas. Já existiam relatos de que Jobs havia usado LSD, maconha e haxixe quando era mais jovem, mas ele explicou um pouco mais sobre isso para o Pentágono. Na declaração assinada por ele na investigação de segurança, Jobs disse:
“Eu usei LSD de 1972 a 1974 aproximadamente. Durante esse período eu usei o LSD cerca de 10 a 15 vezes. Eu ingeri o LSD em um cubo de açúcar ou em forma de gelatina. Eu normalmente usava o LSD quando estava sozinho. Eu não tenho palavras para explicar o efeito que o LSD tinha em mim, embora eu possa dizer que foi uma experiência positiva que mudou minha vida e eu estou feliz por ter passado por isso.”
Existe uma anotação manuscrita no formulário com as iniciais de Jobs onde se lê “Este foi o motivo pelo qual eu usei LSD.”
Ele disse que havia fumado maconha com amigos e também ingerido a droga em forma de brownies, mas que última vez que ele havia usado a droga foi em 1977.
“A melhor maneira que eu poderia descrever o efeito de maconha e haxixe é dizendo que elas me deixavam relaxado e criativo”, ele contou aos investigadores.
Em um formulário que pedia para ele descrever o uso de álcool, Jobs, ou um dos investigadores, escreveu “Não se aplica.”
O temperamento volátil de Jobs tem sido parte de sua tradição, e ele nunca tentou negar que tem problemas para controlar sua raiva. Mas, nas declarações que deu ao Departamento de Defesa em 1988, apesar de ter admitido ter perdido a cabeça no passado “quando as coisas não estão indo bem”, ele disse que havia deixado esse comportamento ruim no passado. Ele atribuiu seus acessos de raiva ao perfeccionismo, e disse que agora tinha suas emoções sob controle.
Jobs disse aos investigadores que ele se considerava uma pessoa emocionalmente e mentalmente estável, mas admitiu já ter passado por surtos de depressão anteriormente. Apesar de nunca ter recebido tratamento médico ou aconselhamento para qualquer transtorno mental, ele disse que uma vez participou de um curso de dois meses no Oregon Feeling Center.
“O curso trata principalmente de entrar em contato com seus sentimentos e compreendê-los”, disse ele. Uma declaração por escrito diz que o curso foi intitulado “Primal Scream”, mas isso foi riscado depois no documento. As iniciais de Jobs aparecem próximas ao texto que foi riscado.
De acordo com uma mulher não identificada que foi entrevistada na investigação, Jobs estava propenso a “auto-reflexão espiritual” através da meditação que ele fazia em casa.
Os documentos também detalham as viagens de Jobs ao longo dos anos, incluindo uma visita que ele fez à União Soviética em 1985 em uma tentativa de promover os produtos da Apple por ali. A viagem foi facilitada por um advogado internacional que morava em Paris e encontrou depois Jobs e um de seus colegas da Apple na União Soviética. Jobs contou aos investigadores que ele tinha uma “sensação” que o advogado que os acompanhou “trabalhava para a CIA ou KGB”, apesar dele não ter oferecido explicação para isso. Durante a viagem, que durou dois dias, Jobs e o seu colega da Apple se reuniram com um professor da Academia de Ciências, cujo nome foi omitido no documento, “para discutir a eventual comercialização de um produto”.
O fato de que Jobs tinha uma investigação confidencial de segurança foi mencionado brevemente no arquivo do FBI de Jobs que foi divulgado no começo deste ano.
O arquivo do FBI continha detalhes principalmente de uma verificação de antecedentes diferente de Jobs que havia sido feita devido a um compromisso no Conselho de Exportação do presidente em 1991, do ex-presidente George HW Bush. Mas o arquivo também mencionou que Jobs tinha passado por uma investigação confidencial de segurança do governo enquanto trabalhou na Pixar. Entretanto, o arquivo não revelou outros detalhes.
Os documentos do Departamento de Defesa enviados para a Wired não indicam porque Jobs passou por uma investigação confidencial de segurança, mas de acordo com a biografia de Jobs de Walter Isaacson, a investigação da Pixar foi necessária devido a contratos que a Pixar assinou com agências de inteligência para usar o Computador de Imagens da Pixar para renderizar informações de voos de reconhecimento e satélites.
A investigação de segurança aconteceu em 1988 enquanto Jobs era presidente do conselho da NeXT, empresa que ele havia fundado em 1985, depois de ter saído da Apple e enquanto ainda era dono da Pixar. Jobs havia comprado a Pixar da LucasFilm em 1986, quando ela era conhecida como Graphics Group.
Nos documentos do Departamento de Defesa, uma nota dos investigadores indica que eles tentaram obter na NeXT os registros de emprego de Jobs em setembro de 1985, mas o gerente de Recursos Humanos da empresa falou para eles que como Jobs era fundador e presidente do conselho da NeXT, “não haviam sido mantidos registros” sobre ele. Os investigadores não se saíram muito melhor na Apple. Uma nota diz que tudo que eles conseguiram nos registros de Jobs foi seu nome, endereço, data de nascimento e número do Seguro Social.
Arquivo do Departamento de Defesa sobre Steve Jobs
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