Astronauta de verdade fala sobre as aterrissagens lunares americanas do passado e do futuro
Nosso amigo e blogueiro astronauta Leroy Chiao foi convidado nosso na festa do 40º Aniversário da Apollo 11 na noite de segunda-feira. Aqui ele compartilha algumas fotos, suas memórias da aterrissagem da Eagle e suas reflexões sobre a próxima missão lunar.
Um sanduíche de presunto enlatado e pasta de amendoim (com nacos): este foi o almoço, há 40 anos, logo antes de assistir junto com o resto do mundo a Eagle tocar na superfície da Lua.
Era um dia quente em Danville, Califórnia. Minha família vivia em uma casa bacana em um bairro bacana. No entanto, a nossa casa, assim como muitas construídas naquela época, não possuía ar condicionado. Assim, o meu pai arrastou a TV da família (um aparelho de 19”, preto e branco, antenas de orelha de coelho) para a varanda parcialmente protegida do Sol. Ele borrifou água no concreto, o que ajudou a tornar o ambiente surpreendentemente mais fresco.
Meus amigos, dois irmãos chamados Mike e Russ, estavam ali nos visitando. Éramos amigos já há muito tempo (dois anos era muito tempo para um moleque de 8 anos de idade). Eles já estavam acostumados com meu pai inventando umas misturas estranhas e servindo pra eles provarem. Surpreendentemente, elas não eram nada ruins. Uma vez eu fui experimentar um sanduíche só de presunto enlatado, mas rapidamente voltei a incluir a pasta de amendoim grossa.
Eu consigo me lembrar como se fosse ontem, vendo a TV granulosa em preto e branco e ouvindo a Eagle se aproximar da superfície da Lua e aterrissar. Mesmo sendo um garotinho novo, eu sabia que o mundo havia acabado de mudar. Eu também sabia que eu queria ser como aqueles caras lá na Lua. Eu queria ser um astronauta!
Vinte anos mais tarde, eu me via em Houston, sendo entrevistado na NASA para ser membro de um grupo de treze astronautas. Mas que tempos impetuosos eram aqueles – o presidente Bush (pai) havia acabado de anunciar a Iniciativa de Exploração Espacial (SEI), apelando para um retorno à Lua e desta vez para ficar, seguida de uma missão tripulada a Marte. E nós tínhamos astronautas em cargos principais de gerência da NASA, inclusive o próprio Administrador.
A SEI caiu por terra, logo após o presidente não conseguir se reeleger. A etiqueta de 400 bilhões de dólares estimada pela NASA possivelmente também tinha algo a ver com isso. Quinze anos após o primeiro anúncio da SEI, eu me via de pé ao lado de um pequeno grupo de colegas astronautas na sede da NASA, enquanto o presidente Bush (filho) anunciou a Visão pela Exploração Espacial (VSE) nas águas do acidente com o ônibus espacial Columbia. A Visão prepararia, entre outras coisas, um retorno tripulado à Lua até 2020 e uma missão tripulada a Marte, esta sem data definida.
O programa Constelação, que saiu da VSE, era descrito pelo então Administrador da NASA Mike Griffin como uma “Apollo bombada”. De fato, ele exigia a criação de uma espaçonave de cápsula (ou seja, muito maior). Cinco anos de programa Constelação, os EUA se vêem em uma encruzilhada. O programa teve a sua quota de desafios e controvérsias e o orçamento todos concordam que era inadequado. O recém-empossado presidente Obama solicitou uma avaliação e um relatório definindo um conjunto de opções para a NASA e o novo Administrador da NASA (eu sou membro da Inspeção do Comitê de Vôo Espacial Humano dos EUA).
Agora, no 40º aniversário da aterrissagem lunar da Apollo 11, o nosso retorno à Lua é, no máximo, tênue. Quem em 1969 imaginaria que não teríamos viagens regulares de e para bases lunares até o 20º aniversário da Apollo 11? O anúncio da SEI em 1989 nos deu esperanças de que voltaríamos à Lua para ficar dentro de outros 20 anos. E estes 20 anos já se passaram.
Na terça-feira à noite eu fui convidado à celebração do 40º aniversário da Apollo no Museu Nacional de Ar e Espaço. Tudo estava perfeito: a tripulação da Apollo 11 – Neil Armstrong, Buzz Aldrin e Michael Collins estavam elegantes e imponentes contra o pano de fundo da histórica espaçonave. Outros astronautas da era da Apollo, como o meu amigo Walt Cunningham, também eram honrados e majestosos convidados. Eles todos fizeram parte da missão!
Foi uma lembrança dos velhos tempos, do grandioso passado e da maravilha da era Apollo. A época quando nós, como uma nação, achávamos que nada era impossível! Uma época quando presunto enlatado e pasta de amendoim (com nacos) eram mais saborosos que qualquer outra coisa.
Deveríamos olhar pra trás nos últimos 40 anos e ficar decepcionados? Eu acredito que isto seria um equívoco. O Skylab foi um sucesso estrondoso. Apesar dos desafios, os ônibus espaciais e a ISS são máquinas voadoras maravilhosas. Nós começamos com a cooperação internacional com o Projeto Teste Apollo-Soyuz, o que levou à formação e ao desenvolvimento da atual parceira internacional de altíssimo sucesso. Não havíamos acertado em cheio desde a Apollo, mas pelo menos tivemos um avanço constante.
Para onde os próximos 20 anos nos levarão? Por mais bizarro que possa parecer, o presunto enlatado ainda é firme e forte nos EUA. Vamos continuar indo pra frente também.
Leroy Chiao, Ph.D, serviu como astronauta da NASA de 1990 a 2005. Durante a sua carreira de 15 anos, ele voou quatro missões para o espaço, três vezes em ônibus espaciais e uma vez como o co-piloto da espaçonave russa Soyuz para a Estação Espacial Internacional. Naquele vôo, ele foi o comandante da Expedição 10, uma missão de seis meses e meio. O Dr. Chiao já fez seis caminhadas espaciais, tanto dentro de trajes espaciais americanos quanto russos, além de já ter somado quase 230 dias no espaço.
O Dr. Chiao é o astronauta oficial do Gizmodo (e “astroblogueiro”). De vez em quando, ele ainda come sanduíches de presunto enlatado e pasta de amendoim (com nacos).
Arte do Clip Art Guide