Em 25 de junho de 2016, um flash de luz visível apareceu no céu que, dependendo da sua localização, poderia ter sido visível até mesmo com binóculos. Não era um avião ou uma estrela: era um estouro de raios gama, um dos tipos mais violentos de explosões no universo, a partir de uma fonte localizada a nove bilhões de anos-luz de distância, possivelmente um buraco negro. E você tem medo de explosões que acontecem aqui na Terra? Que fofo.
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Esta rajada de raios gama, chamada GRB 160625B, foi especial. O monitor de explosão de raios gama do Telescópio Fermi NASA a capturou, e apenas três minutos depois, o Large Area Telescope começou a monitorar a sua localização. O telescópio observou o show de luz ao vivo e sua evolução ao longo do tempo. Esse foi um novo tipo de observação que poderia ajudar os cientistas a entender exatamente o que causa essas explosões maciças.
“É a primeira medição deste tipo”, disse a autora do estudo, Eleonora Troja, cientista do NASA Goddard Space Flight Center. “Conseguimos resultados muito bons porque a explosão foi realmente brilhante”.
Apenas quatro minutos após a detecção inicial, o telescópio MASTER-IAC em Tenerife, Espanha, captou uma das características mais emocionantes da explosão: a luz óptica (a coisa que nossos olhos conseguem ver) que parecia estar polarizada. A luz não polarizada vibra em direções aleatórias perpendiculares à direção em que se move. As ondas de luz polarizadas vibram apenas em uma direção, como para cima e para baixo ou esquerda e direita. Imagine uma lente polarizada: ela só permite que a luz vibre em uma direção, então, se você empilha as lentes e elas não estão alinhadas corretamente, nenhuma luz passa e ela fica preta.
Mas isso é mais do que apenas uma observação interessante. Esta luz provavelmente se originou de jatos colimados de partículas que são expelidos de um buraco negro jovem. A natureza polarizada da luz significa que a área ao redor do buraco negro pode ter um campo magnético forte, o que seria uma informação importante que faltam nas observações, mas presente nas teorias, disse Troja. “Essa é a única coisa que pode explicar a polarização e todos os dados que coletamos”. Os pesquisadores publicaram seus resultados hoje (26) na revista Nature.
Outros ficaram entusiasmados com os resultados. O astrônomo Nissim Fraija, da Universidade Nacional Autônoma do México, disse ao Gizmodo que “é empolgante aprender sobre a estrutura do campo magnético em um estágio inicial do jato” que vem de um buraco negro.
“A detecção de polarização em uma rápida emissão de raios gama é algo importante”, disse o astrofísico Alexander Tchekhovskoy da Universidade da Califórnia ao Gizmodo. “Na verdade, não entendemos o que causa as emissões ópticas de rajadas de raios gama”, ou se a luz visível e os raios gama se originam do mesmo lugar.
Tchekhovskoy me lembrou que as rajadas de raios gama são complexas, o jato de energia ainda precisa passar pelo meio em torno de sua fonte, o que cria ondas de choque que se deslocam para frente e para trás. Essas ondas de choque podem ser da onde vem a luz visível. Ele ressaltou que este é um ótimo dado que apresenta um argumento convincente, mas que também foi uma observação difícil, com muitas peças em movimento.
“É uma possibilidade emocionante que a emissão óptica realmente venha dos mesmos lugares que os raios gama”, disse ele, “se detectarmos mais desses, poderemos dizer com certeza se esta é uma regra e não a exceção”.
A própria Troja disse que existem outras teorias sobre o que causa as rajadas de raios gama, como talvez as estrelas de nêutrons, mas imagina que as explicações convergem para a ideia de que elas são provenientes de processos baseados em buracos negros. Ela também apontou que a observação é limitada pela força dos telescópios e pela quantidade de tempo da coleta de dados.
Mas, independentemente, não há dúvida de que GRB160625B é especial.
“Qualquer astrônomo amador usando binóculos olhando para a parte direita do céu poderia ter registrado a explosão”, disse Troja. “Foi realmente muito brilhante, e durou muito tempo também… foi um evento tão único”.
[Nature]
Imagem do topo: Foto da rajada por S.Karpov, G.Beskin (SAO RAS e Universidade Federal deKazan, Rússia), S.Bondar, E.Ivanov, E.Katkova, N.Orekhova, A.Perkov (OJS RPC PSI, Rússia), A.Biryukov (SAI MSU e Universidade Federal de Kazan, Rússia), V.Sasyuk (Universidade Federal de Kazan, Rússia)