Flashes brilhantes de luz, mais luminosos e poderosos do que o Sol, ocorrendo a cada 26 minutos e se alongando tanto quanto os olhos podem ver. Essa é a essência de uma tempestade solar maciça que foi vista recentemente, pela primeira vez, perto do polo norte de Júpiter.
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“Quando eu vi isto pela primeira vez, pensei que tinha cometido um erro”, disse Will Dunn, candidato a PhD em astrofísica na Universidade College London, ao Gizmodo. A aurora boreal que Dunn observou em Júpiter é centenas de vezes mais brilhante do que o mesmo fenômeno na Terra. “Nós ainda não temos certeza exatamente do que está causando isso.”
A aurora boreal de Júpiter vem fascinando há tempos os cientistas planetários. Ela é criada quando o campo magnético do gigante de gás interage com as partículas eletricamente carregadas do Sol.
Mas, após décadas de observação, permanece um grande enigma em uma aurora brilhante de raios-x localizada perto do polo norte de Júpiter. Ele nunca some, e desde 2006, cientistas notam que seu brilho aumenta e diminui a cada 45 minutos, como uma lâmpada em um dimmer. Agora, as observações de Dunn com o observatório de raios-X Chandra e outros telescópios deixam este enigma ainda mais intrigante.
A aurora de raios-x de Júpiter, sobreposta numa imagem capturada pelo Telescópio Espacial Hubble. (Joseph DePasquale, Smithsonian Astrophysical Observatory/Chandra X-ray Center)
Dunn e seus coautores descrevem no Journal of Geophysical Research o que aconteceu quando a magnetosfera de Júpiter foi atingida em 2011 por uma ejeção de massa coronal – isto é, uma gigantesca nuvem de plasma magnetizado que eclodiu a partir da superfície do Sol.
Quando isso acontece na Terra, temos a aurora boreal. Em Júpiter, a aurora constante se torna maior e mais chamativa. “Vimos a pulsação de luz ficar muito mais rápida: ela acontece aproximadamente a cada 26 minutos durante uma tempestade solar”, disse Dunn. “E detectamos um aumento no brilho em uma região onde nós nunca tínhamos visto isso antes.”
“Se seus olhos pudessem ver raios-x, você veria algo semelhante à aurora na Terra”, continua Dunn. “Exceto que o brilho no céu seria muito maior e mais brilhante. As auroras de Júpiter cobrem uma região maior do que toda a Terra, por isso elas se estenderiam até onde os olhos podem ver.”
Por que a aurora de Júpiter pulsa em um ritmo particular? E por que essa cintilação se acelerou durante a tempestade solar de 2011? “Nós pensamos que a ejeção de massa coronal bate na magnetosfera de Júpiter e a comprime em cerca de 2 milhões de quilômetros”, disse Dunn.
Mas, para obter mais detalhes, teremos de esperar pela missão Juno da NASA, que atingirá a fronteira entre o campo magnético de Júpiter e o vento solar ainda este ano.
A aurora de Júpiter não é apenas um fenômeno meteorológico curioso: ela fornece mais um ponto de referência para entender como os campos magnéticos protegem os planetas de poderosas erupções estelares. E esse conhecimento pode, no futuro, ajudar na busca da vida fora do nosso sistema solar.
“Temos um bom entendimento de como a magnetosfera da Terra funciona”, disse Dunn. “Mas o universo está repleto de objetos magneticamente ativos, incluindo bilhões de exoplanetas. Compreender a diversidade de campos magnéticos é relevante para compreender se qualquer um desses outros planetas pode sustentar a vida”.
Imagem: conceito artístico da magnetosfera de Júpiter interagindo com o vento solar/JAXA