Cientistas descobrem barulho esquisito vindo de plataforma de gelo da Antártica

A Antártica está bem familiarizada com sons esquisitos, desde antigas bolhas de ar presas estourando a mantos de gelo se desintegrando. Agora, podemos acrescentar à coleção de obras-primas geladas um outro som estranho. Cientistas que vem monitorando a plataforma de gelo Ross, na Antártica Ocidental, capturaram a esquisitice acústica. Usando uma série de sensores sísmicos […]

A Antártica está bem familiarizada com sons esquisitos, desde antigas bolhas de ar presas estourando a mantos de gelo se desintegrando. Agora, podemos acrescentar à coleção de obras-primas geladas um outro som estranho.

whatsapp invite banner

Cientistas que vem monitorando a plataforma de gelo Ross, na Antártica Ocidental, capturaram a esquisitice acústica. Usando uma série de sensores sísmicos ultrassensíveis, eles produziram uma paisagem sonora que se encaixaria perfeitamente com uma decoração de Halloween ou como faixa de um filme alternativo dos anos 1950 sobre alienígenas chegando à Terra. Mas, além de assustadores, os sons revelam como diversos processos, de ventos a aquecimento, estão mudando o gelo da Antártica.

Julien Chaput, especialista em monitoramento de ruído ambiente da Universidade Estadual do Colorado e professor da Universidade do Texas em El Paso, disse que os registros eram um “feliz acidente”. Em 2014, pesquisadores estavam implantando equipamentos sísmicos na plataforma de gelo Ross, o maior pedaço de gelo flutuante na Antártica, para estudar a crosta e o manto sob ela. Chaput embarcou no projeto esperando obter informações de mudanças sazonais na massa da plataforma de gelo “e, em vez disso, encontrou estranhas anomalias espectrais que escapavam de explicações fáceis, sugerindo ondas sísmicas aprisionadas em alta frequência nos dois primeiros metros de neve”.

Basicamente, perturbações na superfície ficam presas como ondas sísmicas que se propagam pela plataforma de gelo. A equipe documentou essas ondas selvagens em um artigo publicado na Geophysical Research Letters na terça-feira (16). Eles também divulgaram alguns dos sons que capturaram ao longo de mais de dois anos de registros contínuos (acelerado abaixo por conveniência).

Esses dois primeiros metros de neve e gelo soltos são chamados de neve firn. Eles são muito vulneráveis ao que está acontecendo acima da superfície, de mudanças no vento a mudanças em temperatura. E, com o equipamento sísmico sensível enterrado abaixo da superfície, Chaput conseguiu documentar intimamente muito mais do que apenas mudanças sazonais.

A frequência da melodia mudou depois de tempestades passarem, o que, por si só, é interessante. Mas o que realmente se destacou foi um período quente de janeiro de 2016, quando as temperaturas quebraram o gelo. O tom da melodia caiu durante esse trecho, indicando que a neve e pedaços de gelo derreteram, desacelerando a propagação de ondas sísmicas por meio da neve firn. Mais importante, a queda do tom não se reverteu depois que as temperaturas voltaram a esfriar, indicando mudanças permanentes ou semipermanentes na camada de neve firn.

“O derretimento da neve firn é amplamente considerado um dos fatores mais importantes na desestabilização de uma plataforma de gelo, que então acelera o fluxo de gelo para o oceano de mantos de gelo adjacentes”, disse Chaput.

A plataforma de gelo Ross fica na Antártica Ocidental, cujas algumas partes podem enfrentar um derretimento imparável devido à forma da base rochosa abaixo do gelo que permite que correntes oceânicas quentes minem por baixo as plataformas de gelo flutuantes. O derretimento dessa região instável poderia elevar os níveis do mar em aproximadamente três metros. O aquecimento da superfície poderia acrescentar uma outra camada de estresse que os cientistas precisarão monitorar de perto.

Chaput apontou o monitoramento sísmico como uma maneira de acompanhar um locais mais remotos do mundo e também de ajudar pesquisadores a responderem sobre o quão resiliente a neve firn poderia ser sob temperaturas crescentes. E, é claro, esse tipo de monitoramento poderia fornecer mais sons dignos de trilha sonora de filme de terror. Apesar de que, sendo sincero, o que está acontecendo na Antártica já é bem assustador por si só.

Imagem do topo: O.V.E.R.V.I.E.W. (Flickr)

fique por dentro
das novidades giz Inscreva-se agora para receber em primeira mão todas as notícias sobre tecnologia, ciência e cultura, reviews e comparativos exclusivos de produtos, além de descontos imperdíveis em ofertas exclusivas