O bilionário Elon Musk comanda alguns projetos bem ambiciosos: a SpaceX testa foguetes que voltam à Terra para serem reutilizados; o Hyperloop pode ser o futuro do transporte; e uma internet construída no espaço pode conectar mais pessoas com ajuda do Google.
Daqui a uma semana, em 30 de abril, Musk anunciará mais outra novidade: a empresa Tesla, que vende carros elétricos, vai revelar baterias para usar em casa. Por enquanto há poucos detalhes específicos, mas apenas com base no que sabemos, ela promete ser bem importante.
A Tesla vai anunciar uma bateria para uso doméstico, e outra bem maior, “com tamanho para serviços públicos”. Em comunicado à imprensa, a empresa diz: “vamos explicar as vantagens de nossas soluções, e explicar por que baterias anteriores não foram convincentes”.
A busca por uma boa bateria que armazene energia gerada em casa é como o Santo Graal para um futuro de energia renovável. Um artigo do New York Times publicado esta semana basicamente define o problema que a bateria da Tesla vai resolver.
O que fazer com tanta energia
No Havaí, 12% dos lares usam algum tipo de energia solar – de longe, a maior taxa em qualquer lugar dos EUA. Na verdade, essa taxa está crescendo rápido demais: os clientes estão devolvendo tanta energia de volta à rede elétrica que acabam sobrecarregando a infraestrutura delicada – e muitas vezes antiga – que foi projetada só para fornecer energia às casas.
O que está acontecendo no Havaí indica o problema que deve acontecer à medida que mais cidades passarem por um aumento no uso de painéis solares: muita energia será gerada, mas não haverá onde colocá-la.
As empresas de eletricidade podem gastar dinheiro para modernizar a rede, mas mesmo assim é difícil para elas prever quanto deveria ser o aumento de capacidade – e, claro, os custos certamente serão repassados para os consumidores.
Uma ideia melhor é fazer as casas instalarem baterias que possam armazenar a energia para uso posterior, em vez de devolver energia para a empresa de eletricidade. E essa energia pode ser eólica, por exemplo, não apenas solar.
Baterias da Tesla
Aí entra a Tesla. Em sua busca para projetar o carro elétrico perfeito, a empresa também criou a melhor bateria no mercado. Agora, basicamente, a empresa vai fabricar baterias de carro elétrico para uso doméstico.
Elas já existem, na verdade: a Tesla instalou baterias em cerca de 400 locais, incluindo empresas como o Walmart. Supostamente, este novo conceito de bateria vai melhorar o que está disponível agora. Mas a real virada de jogo aqui, como quase tudo sobre energia, é o preço.
Graças a empresas como a Tesla, o custo por quilowatt-hora dessas baterias está caindo muito mais rápido do que o previsto. Agora, as baterias da Tesla custam cerca de US$ 300/kWh, o que é comparável ao preço de mercado que a indústria espera para 2020.
Esse custo está ligado à proliferação de energia renovável, porque as baterias mais baratas reduzem o custo de investir em energia solar nas residências. Isso significa que mais pessoas serão capazes de usar energia alternativa.
A maior novidade aqui – e o motivo para deixar empresas de eletricidade preocupadas – é que, com uma bateria mais barata e mais acessível, os lares poderão alcançar independência energética de forma mais fácil. Você pode guardar energia para usar em horários de menor demanda, e vender seu excedente para um vizinho.
Há outro detalhe importante a se observar: a Tesla também vai anunciar uma bateria “com tamanho para serviços públicos”, sem explicar ainda o que isso significa. Se for algo que as empresas de eletricidade possam usar para arcar com parte da carga extra vinda da energia solar, então isso também poderia ser um divisor de águas para essas empresas. Isso poderia ser vantajoso tanto para elas, como para os clientes.
Brasil
No Brasil, a geração individual de energia solar ainda é minúscula: havia apenas 83 microgeradores no ano passado, segundo a Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica). Na Alemanha, líder em energia solar, há aproximadamente 1,5 milhão de microgeradores nas residências.
O maior empecilho está no custo dos equipamentos, piorado por causa dos impostos – só Minas Gerais é isenta de tributos. A própria Aneel diz que “não é correto cobrar esse imposto sobre essa geração”.
Talvez isso mude com o tempo. O Plano Nacional de Energia (PNE), elaborado pelo Ministério de Minas e Energia, prevê que 15 milhões de domicílios vão instalar placas para captar luz solar até 2050, gerando 13% da demanda residencial por energia.
O Brasil ainda não aparece na lista dos dez países do mundo que mais usam energia solar. Isso pode mudar: em dezembro, o governo organizou o primeiro leilão de energia solar, e contratou 31 novos projetos. Serão 16 novas usinas solares, com energia suficiente para abastecer mais de 900 mil residências. É algo importante, dada a perspectiva de racionamento neste e nos próximos anos.
Primeira foto por Greens MPs/Flickr