Ciência

Biogás: cotado para liderar setor, Brasil usa menos de 2% do potencial da energia renovável, aponta estudo

Biodigestor (foto) é responsável por transformar resíduos agropecuários em biogás, fonte de energia renovável
Foto: Marcos La Falce / Embrapa Gado de Leite

Texto: Agência Bori

Highlights

  • Pesquisa analisa o setor de biogás e biometano no país, a partir de dados de órgãos oficiais e instituições públicas e privadas
  • Setor registra 800% de crescimento em menos de uma década; produção equivale a 1,5% do potencial do país
  • Estudo alerta para necessidade de investimento em pesquisa, tecnologia e redução de custo de produção de energia renovável

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Com potencial para produzir mais de 84 bilhões de Nm³ (um normal metro cúbico equivale a mil litros do gás em condições padrões) de biogás por ano, o Brasil pode despontar como liderança mundial na produção de energia renovável e sustentável. A expectativa para o futuro do setor é otimista, mas dados recentes mostram também que hoje a produção anual é de cerca de 1,3 bilhão de Nm³, o equivalente a apenas 1,5% do potencial nacional. Embora promissor, o setor é subaproveitado no Brasil, como aponta estudo publicado nesta sexta (28), na “Revista Desenvolvimento e Meio Ambiente”.

A pesquisa, liderada pela Universidade de São Paulo (USP), descreve as características do setor de biogás e biometano no país a partir da análise de dados coletados em órgãos oficiais, como o Ministério de Minas e Energia, instituições públicas e privadas, além da literatura científica.

Os dados mostram que o setor vem ganhando espaço no Brasil. Entre 2011 e 2020, o país registrou crescimento de quase 800% da produção de biogás. Mas, o trabalho destaca a necessidade de avanços urgentes para que o setor deslanche, como legislações e investimento em tecnologias que favoreçam a produção e o ambiente de negócios.

O pesquisador da USP e autor do estudo Geraldo Lavigne de Lemos ressalta que o Brasil tem uma matriz elétrica essencialmente renovável e uma matriz energética com predominância de fontes fósseis, mas com a participação de renováveis superior à média global. Nos dois casos, o país está à frente da maioria dos países. Ainda assim, “é preciso estruturar uma nova cadeia de fornecimento de energia que seja capaz de atender a toda a demanda da sociedade”, explica o pesquisador. “Isso envolve a adoção de diversas fontes energéticas não fósseis, assim como investimentos no setor, desenvolvimento de tecnologia em casos específicos e a redução do custo de produção”.

O biogás e o biometano são combustíveis alternativos ao gás natural e àqueles derivados do petróleo. São obtidos a partir da biomassa, que inclui todo resíduo orgânico de florestas e de atividades agropecuárias e industriais. Estes biocombustíveis renováveis são considerados fundamentais no processo de descarbonização para a transição energética e na redução da emissão de gases de efeito estufa, principais responsáveis pelo aquecimento global do planeta. Além disso, servem para o fornecimento de calor e eletricidade e podem ser matéria-prima para a produção de gás de síntese e de hidrogênio.

Lemos destaca que é preciso olhar para a produção da matéria-prima do biogás e do biometano. “O Brasil tem muita matéria-prima para a produção de biogás e biometano. Sem o adequado aproveitamento, essa matéria-prima se perde (a exemplo dos resíduos agrícolas), gera apenas custos (a exemplo do tratamento de efluentes) e deixa de servir como uma fonte de energia limpa.’’

A pesquisa aponta ainda para um mercado em potencial, que além de estar em consonância com as demandas ambientais, pode desenvolver a economia e alavancar o Brasil entre as potências energéticas de fontes renováveis.

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