Por que o BitTorrent pode ser o futuro da compra e venda de músicas
BitTorrent: é com ele que você consegue filmes e música de graça. Pelo menos é isso que a maioria das pessoas pensa. Mas se os cineastas e músicos que estão perdendo a guerra contra os piratas querem sobreviver, eles vão ter que abraçar o BitTorrent.
Baixe pelo Torrent
Este fim de semana, Thom Yorke se tornou o primeiro artista a vender suas músicas usando o BitTorrent, oferecendo seu novo disco Tomorrow’s Modern Boxes para download como um bundle de US$6. Lançado ano passado como um projeto experimental, os BitTorrent Bundles são basicamente pacotes de arquivos multimídia sancionados pelos artistas, que você baixa pelo protocolo BitTorrent da mesma maneira que todo o resto.
Alguns nomes grandes, como Moby e De La Soul, já usaram o serviço para distribuir conteúdo exclusivo para ajudar a divulgar a lançamentos pagos, disponíveis em outros lugares. Geralmente, este conteúdo estava disponível por trás de um “portão”, que você só conseguia ultrapassar depois de dar seu endereço de email. O disco do Thom Yorke é o primeiro a usar um “portão pago”, que precisa de dinheiro de verdade. E ele colocou o disco inteiro atrás dessa passagem.
Não é a primeira vez que Yorke inova na distribuição de músicas. Há oito anos, o Radiohead, a banda dele, lançou o disco In Rainbows como um download pague-quanto-quiser, com estrondoso sucesso. Antes do lançamento físico, In Rainbows já tinha gerado mais dinheiro que a totalidade de Hail to the Thief, o disco anterior. Alguns pagaram pelo download, enquanto outros compraram a caixa deluxe que estava disponível. Mas muita gente baixou sem pagar um centavo sequer.
O lançamento de Yorke é, de certa forma, uma evolução daquele primeiro experimento, levando em conta anos de mudanças nas marés digitais. Numa mensagem publicada na sexta-feira, Yorke se pergunta se as pessoas vão de fato usar a plataforma, e, talvez mais importante, se ela não poderia ser uma fonte legítima de renda para artistas. Não é uma certeza, mas é um teste importante.
Essa é uma experiência para ver se a mecânica do sistema é algo que o público em geral consegue compreender. Se funcionar bem, pode ser um jeito efetivo de devolver uma parcela do controle sobre o comércio na internet a quem cria o conteúdo. Permitindo que aqueles que fazem música, vídeo ou outro tipo de conteúdo digital vendam seu trabalho sozinhos.
De fato, o modelo de preços faz muito mais sentido para os criadores. O BitTorrent pega 10% do valor, enquanto iTunes e outros ficam com até 40%. É uma diferença e tanto.
Nós não temos números para saber como o disco de Yorke está se saindo. Provavelmente deve ser alguma coisa considerável pois, você sabe, é o Thom Yorke. Um artista menor ou desconhecido pode não ganhar tanto dinheiro vendendo discos, mas isto não significa que os Bundles e, de maneira geral, o BitTorrent não possam ser úteis para ele.
É apenas o começo
No começo do ano, o BitTorrent anunciou que o pacote gratuito promovendo o último disco do Moby, Innocents, foi baixado 9 milhões de vezes. A partir daí, 150 mil pessoas clicaram para ver o disco no iTunes. Entretanto, o BitTorrent me disse que não sabe quantos desses cliques se tornaram compras, infelizmente.
Sem este último número, fica difícil dizer se o BitTorrent está gerando dinheiro, mas dá para supor que ele está direcionando algumas vendas — o que é um feito notável, pois estas pessoas usam o BitTorrent. Está tudo ali. Piratear ao invés de comprar seria uma decisão trivial.
Dessa forma, o pacote do Thom Yorke é meio que uma contradição imediata. Agora, alguns dias depois do lançamento, você já pode pegar o Tomorrow’s Modern Boxes no próprio BitTorrent de graça, na forma de um torrent pirata. Porque, enquanto algumas pessoas escolhem pagar, outras sempre irão pegar a música e refazer o upload.
Mas os BitTorrent Bundles não querem parar a pirataria. Eles querem trazer a venda de músicas para mais perto da fonte, e talvez ajudar a ganhar algum dinheiro. O BitTorrent tem 40 milhões de usuários por dia, e esta é uma oportunidade enorme, mesmo que o BitTorrent (a empresa) ainda esteja entendendo a mecânica que poderá fazer com que ele se torne uma plataforma para distribuição legítima.
E nem todo mundo precisa entrar nessa como Thom Yorke. Pode haver níveis de entrega. Talvez você possa oferecer algum conteúdo exclusivo, e depois fazer uma liquidação, ou talvez usá-lo apenas como um portal para outras experiências. Há alguns meses, o vice-presidente da empresa, Matt Mason, insistiu para mim que os BitTorrent Bundles são adaptáveis para plataforma de monetização que os criadores de conteúdo vêm usando nos últimos tempos — seja o iTunes, o Spotify, ou outras coisas, como venda de ingressos para shows.
O BitTorrent custa menos para os artistas e dá mais opções que concorrentes com o iTunes, em parte porque a operação é muito barata. Os usuários —tanto piratas quanto legais— são a espinha dorsal da rede do BitTorrent. É isto que torna o BitTorrent tão ágil e flexível, de forma que ele pode tentar atrair consumidores que pagam ou transformar piratas em pagantes. Há muito espaço para experiências e se o sucesso repentino dos Bundles pode ser tido como um sinal, há muitas oportunidades nestes 40 milhões de usuários, mesmo que milhões deles tenham estejam lá pela música grátis.
Isto não quer dizer que o iTunes e outros intermediários deixarão de existir. Mas como estamos entrando num mundo digital em que consumidores pagantes são cada vez mais difíceis de se encontrar, o que precisamos é de mais opções para que eles possam pagar. E o BitTorrent não é nada além disso.