Quem vai se livrar de seus brinquedos sexuais e da sua pornografia quando você morrer?

Certa vez, Andy Warhol disse, brincando, que morrer era a coisa mais constrangedora que poderia acontecer com uma pessoa. Muitas pessoas pensam cuidadosamente no que querem que seja feito com suas coisas depois de passar dessa para melhor, chegando até mesmo ao ponto de dizer o que deve ser feito com suas propriedades digitais, mas […]

Certa vez, Andy Warhol disse, brincando, que morrer era a coisa mais constrangedora que poderia acontecer com uma pessoa. Muitas pessoas pensam cuidadosamente no que querem que seja feito com suas coisas depois de passar dessa para melhor, chegando até mesmo ao ponto de dizer o que deve ser feito com suas propriedades digitais, mas poucas pensam nos detalhes mais vergonhosos da sua vida.

Numa coluna no New York Times, Joyce Wadler reflete sobre a existência de um vibrador que um antigo namorado deu a ela e que continua em algum lugar nas profundezas do seu closet.

Mas agora, com a iminente cirurgia do antigo namorado, o brinquedo –mais que seu lugar– estava na minha mente. Ele era um problema. Não era um daqueles itens que você pode doar para a Housing Works [ONG novaiorquina que ajuda moradores de rua e portadores de HIV]; eles não pegam nem lençóis. Eu sou uma pessoa ecologicamente consciente, mas não conseguia me ver levando um vibrador para a feira de eletrônicos velhos da Union Square. Eu poderia colocar na lata de lixo reciclável apropriada do andar do meu prédio, mas meus vizinhos poderiam deduzir: é dela. Todo dia, toda noite, eu ouvia o chiado saindo daquele apartamento. Agora está explicado porque ela está sempre sorrindo. Eu poderia tentar colocá-lo junto com o lixo da cozinha, escondendo no meio de filtros cheios de pó de café e comida estragada da geladeira, mas aí eu estaria violando a lei da reciclagem.

Mas jogar fora a parafernália sexual –na verdade, todos os itens constrangedores que você espalhou ao longo dos anos pela casa– é uma coisa com que todo pobre diabo deve estar preocupado. Os dias estão passando, restam alguns poucos, você tem aquela tossezinha mas nunca foi ao médico ver o que é, e pode ser grave. Você quer que as pessoas que forem limpar a sua casa, particularmente seus filhos, encontrem estes itens plumados, metálicos, emborrachados, feitos de polímeros que você comprou pela internet numa noite em que estava bêbado, alguns meses depois de ser forçado a se aposentar precocemente? Você quer que eles saibam que o pai durão e trabalhador gostava de ficar de salto alto e chapéu e cantar números de musicais ruins da Broadway?

(…) Eu sei, ninguém gosta de pensar na própria morte. Mas, assim como uma pessoa designa alguém para tomar decisões médicas caso ele ou ela esteja incapacitado, nós deveríamos todos designar alguém, vamos chamar de Erradicador, para vir à nossa casa e limpar a casa depois de nossa morte. Lembre-se da Marilyn Monroe. Não que eu possa provar alguma coisa, estou só dizendo. Seu Erradicador deveria ter as chaves da casa, uma lista de itens para ser destruídos e os lugares onde eles estão escondidos — você não quer estar numa UTI gritando, “No fundo da gaveta de meias! Bem no fundo!” Até porque tudo que fariam seria aumentar sua medicação.

Depois de ler este texto, um dos meus melhores amigos se ofereceu para ser meu erradicador. Eu pedi a ele para tweetar a descoberta meu tesouro do prazer — se ele não quisesse fazer isso, sem acordo. Ele me disse que eu não entendi. Eu acho que entendi, mas estou no negócio do prazer sem estigmas, então eu acho que não tenho interesse em esconder, viva ou morta, as coisas que me levam ao orgasmo. Eu quero que as pessoas pensem, “bem, ela tinha um desses, talvez valha a pena experimentar!”

Eu sei que isso não é para todo mundo, claro, mas antes de oferecer ao meu amigo para ser sua erradicadora, eu fiquei morrendo de curiosidade para descobrir qual é o fim apropriado de brinquedos sexuais. Revistas, livros, DVDs — se é que alguém além de mim ainda tem estas coisas, eu sei o que fazer com elas (eu checaria para ver se queria ficar com alguma delas e o resto iria para a reciclagem), mas e os brinquedos? Não há como reutilizar, não importa o grau de intimidade do amigo em questão. Eu não tinha ideia de como jogar fora estes brinquedinhos de um jeito ecologicamente correto.

Primeiro, eu liguei para um sex shop em Oakland, o Good Vibrations. Eles têm um museu de vibradores — com certeza eles devem saber tudo sobre como jogar fora! Eu fiquei muito surpresa quando descobri que a rede de lojas não tem um programa de reciclagem de vibradores. O representante do serviço ao consumidor que falou comigo disse que eles simplesmente desmontam os brinquedos e reciclam os motores, como qualquer outro eletrônico.

Para ver se havia mais detalhes sobre a reciclagem dessas partes, eu liguei para o Departamento de Serviços Públicos de Mountain View, que fica mais perto de mim que Oakland. Uma mulher me atendeu e disse, friamente, que “eles (os brinquedos sexuais) vão direto para o lixo, senhora”. Você poderia pensar que o Vale do Silício teria todo tipo de reciclagem de eletrônicos, já que é, como sabemos, o centro tecnológico do país. Mas não, Mountain View aparentemente não está interessada nos motores que foram feitos para entrar na gente.

Eu achei que poderia me dar melhor em Los Angeles, com o Vale do Pornô (como é conhecido o Vale de San Fernando) ali do lado e coisa e tal. Então, liguei para o Pleasure Chest, em West Hollywood, onde uma assistente de vendas me disse que esta era uma boa pergunta, mas não tinha respostas para me oferecer. O Pleasure Chest não tem um programa de reciclagem para brinquedos sexuais nem os desmonta para reciclagem. A mulher com que eu falei me sugeriu ligar para o Centro de Reciclagem de West Hollywood e perguntar a eles o que fazer.

Como esperado, eles foram muito compreensivos e não me fizeram sentir como se estivesse pedindo o que fazer com a versão vibrante da trinitita (se bem que, pense nisso, eu aposto que a maioria das cidades dos EUA tem programas para descarte adequado de material radioativo). Infelizmente, a pessoa que tinha a resposta para as minhas perguntas não estava por lá, então eu deixei uma mensagem na caixa postal. Atualizarei isso, se me responderem.

Ainda curiosa, liguei para a Babeland, para ver se em Nova Iorque ou em Seattle eles teriam uma solução melhor. Eles me disseram para ir pessoalmente às lojas para ver se eles ofereciam opções de reciclagem e que não havia nenhum programa para a rede.

Procurando na internet, cheguei ao 69AdultToys, que em 2010 criou um programa de reciclagem no Dia da Terra, em sua loja em Tanzana, Califórnia. Eu tentei entrar em contato com eles para ver se isso tinha virado um programa anual, mas não obtive resposta. Eu não tenho nem certeza se o site ainda está funcionando.

Outra busca me levou ao SexToyRecycling.com, um site que diz representar um programa que transforma brinquedos sexuais usados em novos. A página diz que eles têm latas de reciclagem nas principais lojas do ramo, mas nenhuma das que eu entrei em contato parecia saber alguma coisa sobre eles. Também não há um número de telefone no site. Eu usei o formulário de contato para mandar um email pedindo mais informações. Se responderem, eu conto para vocês.

A busca acabou esbarrando no assunto dinheiro. Depois do que pareceram ser um milhão de cliques, eu cheguei ao ScarletGirl.com, um loja de brinquedos de Portland, Oregon, que oferece reciclagem para brinquedos sexuais usados de todos os tipos. O site deles tem as instruções que você precisa saber para empacotar e enviar os seus para eles. Como incentivo, eles dão um desconto de dez dólares na loja online.

Eu contatei a sede para ter certeza de que eles continuam com esse programa. Falei com Regina, a faz-tudo na Scarlet Girl, que me disse que eles ainda reciclam e estão abertos para brinquedos de qualquer lugar do país. Ela ainda contou que eles não se opõe a pessoas de outros países que queiram mandar suas coisas, mesmo que o preço do frete e a burocracia provavelmente façam uma opção local parecer mais sensata.

Eu contei a Regina algumas das respostas que recebi aqui na Califórnia e ela riu. Quando a Scarlet Girl criou o programa, foi para tentar a sorte, mesmo numa cidade tão verde quanto Portland. Eu não posso dizer que fiquei constrangida ao perguntar sobre vibradores, mas eu me senti meio ridícula depois de tantas pessoas me dizerem para simplesmente jogá-los num terreno baldio. Então, é bom ouvir de alguém do ramo da reciclagem de produtos de prazer pessoal que estas reações são comuns, não importa o quão evoluída ecologicamente seja a cidade.

Então, aí está –esteja você fazendo uma limpeza de fim de ano nas suas coisas ou com a incumbência de ser o “erradicador” de algum amigo– agora você já sabe o que fazer com os brinquedos velhos: ajude o planeta e ganhe um desconto para o seu próprio prazer.

(PS: Eu estou aceitando pedidos para ser erradicadora apenas de amigos próximos.)

Este post foi publicado originalmente por AV Flox no The Slantist. Imagem via Shutterstock.

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