Você acha que a nossa galáxia é especial? Rá! O nosso chato catavento de gás e matéria escura pode ser um ótimo lugar para os humanos. Mas a mais ou menos 750 anos-luz de distância, existe uma galáxia elíptica, a Galáxia 0402+379, onde dois buracos negros supermassivos estão se orbitando a uma distância de 24 anos-luz um do outro. Sua massa combinada é cerca de 15 bilhões a do nosso Sol.
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Se você ainda não tiver sido convencido, um time liderado por cientistas da Universidade do Novo México identificou os buracos negros se movendo um em relação ao outro usando o Very Long Baseline Array, um sistema de dez telescópios por rádio ao longo dos Estados Unidos, em locais como o Havaí e o Caribe. Essa não foi somente a primeira medida direta de centros galácticos orbitando em volta de si mesmo como esse, mas também um cálculo desafiador de se fazer.
Um dos autores do estudo, Roger Romani, da Universidade Stanford, disse ao Gizmodo: “Acho que, para mim, é um enorme feito técnico fazer as medidas de movimentos tão pequenos no céu”. “Levou uma dúzia de anos de medidas com o maior conjunto de telescópios da Terra.”
Esses buracos negros são grandes, provavelmente alguns milhares de vezes mais massivos que o monstro no centro da Via Láctea, o Sagittarius A*. Eles são provavelmente o resultado de um conjunto inteiro de galáxias se unindo, de acordo com Romani. E, por mais que estejam a 24 anos-luz de distância, essa é na verdade uma distância incrivelmente pequena quando se trata de órbitas de buracos negros. “Dois buracos negros tão próximos é bem excepcional”, disse ele. Ainda assim, levaria cerca de 30 mil anos para os gigantes completarem uma órbita. Os pesquisadores publicaram esses resultados no The Astrophysical Journal.
Capturar esse movimento de fontes tão distantes no céu requer a VLBA, uma rede de radiotelescópios configurada para fazer interferometria de linha de base muito longa, ou VLBI, na sigla em inglês. Basicamente, a própria Terra é transformada em um telescópio, mas em vez de focar a luz no espelho como um único telescópio faz, a luz é captada em radiotelescópios individuais e focada por meio da comparação das informações feita em supercomputadores. Esses tipos de observações permitem aos pesquisadores resolver coisas muito distantes, mas (relativamente) pequenas. Uma rede de telescópios que executam VLBI está tentando identificar o ponto de não retorno ao redor de Sagittarius A*, por exemplo.
Outros pesquisadores ficaram empolgados com a observação. “É um resultado absolutamente lindo. É uma prova altamente convincente do que seria o primeiro binário visual de buraco negro supermassivo já observado”, o que quer dizer um par de buracos negros supermassivos que podem ser identificados separadamente com um telescópio leve, Grant Tremblay, astrofísico de Yale e Harvard, disse ao Gizmodo. “Será um alvo de acompanhamento extremamente interessante nos próximos anos.” Romani ressaltou que o estudo de buracos negros binários como esses poderia nos ajudar a entender como os buracos negros se fundem no centro das grandes galáxias.
Outro astrônomo, Sarah Spolaor, da Universidade da Virgínia Ocidental, afirmou o quão difíceis de encontrar são esses buracos negros binários supermassivos e que nenhum dos candidatos está completamente confirmado ainda (incluindo esse). Mesmo assim, ela achou essa informação empolgante.
“Sua fonte alvo 0402 + 379 é … um dos candidatos mais razoáveis por uma série de motivos; talvez um dos mais importantes seja que ele realmente foi “fotografado”, e podemos ver o material marcando separadamente os dois buracos negros “, ela disse. “Então, descobrir o movimento orbital do 0402 + 379 seria um sonho tornado realidade para muitos”, e talvez um dia os cientistas possam fazer um vídeo de onda de rádio de buracos negros se orbitando.
Mas ela ressaltou que “o movimento orbital não é a única explicação possível para o que eles viram”, algo com que Romani concordou. Ele vai se sentir mais confiante quando tiverem mais dados durante mais tempo. Ou talvez possam encontrar outro par se orbitando.
“Eu ficaria mais feliz se encontrássemos um par parecido que fosse mais rápido”, ele disse. “Então, ao invés de esperarmos 30 MIL anos para ele dar a volta, podemos esperar apenas 100.”
Imagem do topo: Joshua Valenzuela/UNM