O atleta de resistência, explorador polar e palestrante motivacional Ben Saunders se prepara para ir até a Antártica. Ele quer recriar a expedição heroica – e fracassada – de Robert Scott chamada “Terra Nova” que durou de 1910 a 1912. Saunders iniciou a sua própria Expedição Scott para chegar ao Pólo Sul a pé – e, mais importante de tudo, voltar à costa vivo. Se for bem sucedido, isso fará com que ele e seu companheiro de viagem, Tarka L’Herpiniere, sejam os primeiros seres humanos a fazerem isso.
Na semana passada, o Gizmodo se encontrou com Saunders em um bar de um hotel em Manhattan, em Nova York, Estados Unidos, para saber mais sobre a sua jornada, para ouvir sobre os dispositivos que vão acompanhá-lo na viagem, e sim, para tirar uma foto dele usando a sua roupa especial da expedição.
Seja se comunicando pelo mundo através de uma antena de transmissão via satélite redesenhada, dependendo de feixes de resgate de emergência (que esperam nunca serem necessários), ou documentando toda a experiência com um par de laptops da Sony rigorosamente testados, esses mochileiros – que vão partir para a Antártica em três dias – darão ao mundo uma vista fascinante da realidade diária de uma expedição moderna tecnológica.
Afinal, como Saunders explicou, ele vai transmitir toda a jornada, escrevendo em um blog sobre a viagem com todos os detalhes, com a intenção de mostrar a uma audiência global como bons equipamentos – e auto-controle em condições adversas – podem ser a diferença entre sobreviver a uma viagem e se perder no caminho.
Saunders – que já tem o recorde de ‘maior viagem no Ártico feita por um britânico – fez seu nome na última década em cima desta obsessão com a antártica. Ele quer chegar ao pólo sul e retornar, e quem sabe completar a jornada iniciada há mais de um século por Robert Scott.
Fotos da expedição “Terra Nova” de Robert Scott, via National Geographic.
É importante destacar aqui que isso não vai ser feito exatamente para fins científicos – a não ser que você considere o rigor atlético extraordinário e o teste pesado da resistência do corpo humano sob condições extremas – e Saunders já foi criticado por perseguir mais um projeto de vaidade como um atleta patrocinado do que uma descoberta que pode revelar algo cientificamente novo sobre a Terra.
Mas, mesmo tendo consciência disso, é difícil não se interessar nos desafios técnicos da viagem – dos detalhes angustiantes e o espírito inventivo de sobrevivência pura ao qual ele será submetido.
Esta será a “maior jornada polar sem apoio da história”, explica Saunders em seu website. Claro, isso ignora o incrível apoio tecnológico que ele e L’Herpiniere levarão junto com eles, mas, de fato, eles estarão sozinhos na Antártica, sem cães ou animais (Robert Scott, por exemplo, levou até cavalos para a sua expedição), caminhando cerca de 2.800km no fim do mundo, e a única ligação entre ele e o resto da civilização será uma conexão via satélite.
Saunders é uma pessoa bem humorada, e talvez relaxado demais em relação a toda essa história. Ele brincou que nos encontramos em sua fase de engorda, já que ele está acumulando gordura corporal para ajudar na sobrevivência em temperaturas extremas (ele estava um pouco relutante em pegar umas panquecas quando o encontramos no bar do hotel).
Enquanto conversávamos sobre a lendária cabana feita por Scott na Antártica – hoje, um local histórico que você pode até explorar pelo Google Maps – Saunders nos guiou para o processo de teste e desenvolvimento dos gadgets da sua viagem, assim como os satélites de comunicação que eles usarão enquanto estiverem no gelo.
O domo da imagem acima, por exemplo – que pesa cerca de 8kg e é mais ou menos do tamanho de um prato generoso de bolo – é uma grande conquista por si só. Em parceria com a Intel – que está dando apoio à expedição – Saunders e sua equipe conseguiram recriar uma antena de dados de alta velocidade usando o sistema Pilot encontrado normalmente em navios de oceano. Ela usa a constelação Iridium para comunicação.
O desafio foi manter esse sistema em um tamanho portátil, reduzir o seu peso, e encontrar uma forma dele sobreviver com energia mesmo em temperaturas baixas no Pólo Sul. A antena Pilot personalizada resultante vai ser carregada por um trenó (que, será amarrada ao peito de um dos mochileiros), fazendo, de certa forma, com que seja um experimento de telecomunicações móvel no meio da Antártica.
E então temos os laptops: ultrabooks Sony Vaio Pro de 11 polegadas, que foram testados em freezers gigantes na Inglaterra. Os laptops sobreviveram ao equivalente a 70 dias de experimentos, sobrevivendo a variações de 60 graus Celsius em algumas horas. Mesmo os cabos foram refeitos – embrulhados em silício – para evitar que eles simplesmente quebrem.
Então, a cada dia, após oito ou nove horas de ski, Saunders e L’Herpiniere vão montar a barrada, desempacotar os dispositivos e – encontrando energia depois disso – eles vão se conectar à constelação Iridium, aquelas estrelas artificiais voando acima do nosso planeta, e enviar os vídeos, fotos e posts do dia, se conectando à internet do extremo sul do planeta.
As vestimentas, enquanto isso, vão incluir roupa exterior Mountain Equipment personalizadas, barraca Hilleberg, e skis ultraleves da Sku Trab (e eles estarão com um par reserva caso algo ruim aconteça).
Redundância realmente é o nome do jogo: eles vão carregar câmeras reservas, baterias íon-lítio, fogões para cozinhar, e mais, para garantir que nenhum erro estúpido interrompa a jornada.
A expedição começa em três dias e o Gizmodo acompanhará as atualizações. De qualquer forma, você pode ficar de olho no blog da expedição (em inglês).