Às vezes, nós, humanos, deixamos que nossos valores nos impeçam de levar a sério as realidades biológicas. Por exemplo, defecar. As pessoas decidiram que defecar é nojento, mesmo que seja algo que fazemos todos os dias. Agora, alguns cientistas acham que até mesmo o canibalismo precisa ser reavaliado.
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O canibalismo ocorre naturalmente em muitas espécies de insetos, peixes e até mesmo mamíferos. E, apesar da nossa aversão a ele enquanto espécie “civilizada”, o canibalismo parece servir para um propósito. Uma equipe liderada pelo pesquisador da Universidade da Califórnia em San Diego Benjamin Van Allen analisou pesquisas anteriores sobre o canibalismo e chegou à conclusão de que ele poderia ajudar a limitar a propagação de doenças em algumas populações.
“Temos observado os canibais individualmente”, em vez dos efeitos do canibalismo em espécies inteiras, escreveu o coautor Bret Elderd, da Universidade do Estado da Louisiana, ao Gizmodo. “Não estamos defendendo que o canibalismo é bom, mas, sim, que o canibalismo não é automaticamente prejudicial.”
O benefício de comer a própria espécie é que os membros da mesma espécie têm todos os nutrientes que você precisa, nas quantidades certas. Mas eles também podem carregar os exatos patógenos que deixam você doente. Ainda assim, as doenças não têm taxas de transmissão perfeitas, e não há garantia de que um canibal fique doente por comer alguém doente.
A equipe analisou muitas pesquisas anteriores sobre certas doenças em várias espécies diferentes de insetos, peixes e sapos. Uma espécie de lagarta e mariposa (Spodoptera frugiperda), por exemplo, pode sofrer de um vírus específico que a impede de crescer, fazendo com que pareça um lanche gostoso para uma lagarta saudável. Mas se as lagartas saudáveis estão comendo as doentes, pergunta surge: a espécie vai sucumbir com a doença ou menos hospedeiros ajudarão a população a seguir em frente?
Ao analisar a literatura e depois de realizar experimentos, os pesquisadores descobriram que o canibalismo pode ajudar a reduzir um patógeno em uma espécie. Mas isso não é necessariamente verdade. Em comunidades onde vários indivíduos consomem o mesmo cadáver doente, a população poderia sofrer, devido ao número de infecções maiores do que o número de hospedeiros infectados comidos. O time publicou seu trabalho no periódico The American Naturalist.
Eu enviei o artigo a alguns pesquisadores que disseram que ele era interessante, mas não tiveram tempo para enviar comentários específicos.
Eldert acha que o conhecimento dos benefícios do canibalismo para uma população pode ajudar as pessoas a lidar com coisas como surtos de pragas. A Spodoptera frugiperda, por exemplo, é uma praga tanto nos Estados Unidos quanto na África. Mas “o canibalismo pode ter aplicações potencialmente amplas e impactos no biocontrole”, ele disse. “Se você não entendê-lo, não pode usá-lo como uma ferramenta para controlar surtos de pragas”.
Vale ressaltar, que você obviamente não deve devorar o seu vizinho. No entanto, Eldert gostaria que as pessoas dessem uma outra olhada crítica sobre como o canibalismo funciona na natureza. Pode dar algumas dicas científicas importantes.
Imagem do topo: Youtube (Captura de Tela)