As emissões de carbono não estão apenas alterando o clima — elas também podem prejudicar uma técnica bastante usada por cientistas. Estipular a idade de amostras por radiocarbono pode se tornar mais incerto: em algumas décadas, ela não conseguiria distinguir entre objetos modernos e artefatos que estavam na Terra há um milênio.
A datação por radiocarbono é bastante conhecida por seu uso em paleontologia e arqueologia, usada em objetos com até 60.000 anos de idade, mas seu uso talvez precise ser revisado. De acordo com uma pesquisa publicada na Proceedings of the National Academies of Sciences, até 2050, humanos e animais podem ter a mesma idade de C-14 (ou radiocarbono) que seus antecessores de mil anos atrás.
Na atmosfera, raios cósmicos convertem nitrogênio-14 em carbono-14 em uma quantidade razoável. Plantas colhem parte desse C-14 durante a fotossíntese e, dessa forma, o elemento entra na cadeia alimentar. Mas o C-14 é um isótopo radioativo, ou seja, ele se decompõe naturalmente com o tempo, deixando para trás átomos de carbono estáveis. Comparar o número de átomos de carbono radioativo ajuda cientistas a determinar a idade de uma amostra.
Mas existe um problema: o combustível fóssil que humanos estão desenterrando e soltando na atmosfera é tão velho que ele tem pouco C-14 em sua composição. E a cada ano, esse carbono ‘C-14 morto’ deixa a atmosfera cada vez mais ‘velha’ — o que acaba fazendo tecidos orgânicos novos parecem mais velhos também.
Para descobrir se este problema poderá agravar ainda mais a datação de radiocarbono, a física Heather Graven, da Imperial College de Londres, modelou quanto o C-14 atmosférico mudará no decorrer do século XXI, examinando diversos cenários de emissão de combustível fóssil diferentes.
Caso a humanidade reduza agressivamente as emissões de carbono até 2020, Graven acredita que o C-14 atmosférico cairá até a concentrações pré-industriais e se manterá assim até o final do século (as concentrações de C-14 na atmosfera são atualmente maiores que as da época pré-industrial, devido a testes nucleares da Guerra Fria).
Mas caso as emissões de gás carbônico continuem a aumentar até a metade ou o final do século, o C-14 da atmosfera irá registrar nível menores que o da era pré-industrial, o que significa que as formas vivas da Terra começarão a parecem muito mais velhas. Até o final do século, tudo – das nossas colheitas aos nossos corpos – podem parecer mais velhos de acordo com análises de radiocarbono. Graven escreve:
Dadas as tendências de emissões atuais, o “envelhecimento” artificial da atmosfera, causado pela emissão de combustível fóssil, deve ocorrer muito mais rápido e com uma magnitude maior do que esperávamos. Essa descoberta tem implicações fortes e ainda não conhecidas em muitas aplicações do radiocarbono em diversos campos, e implica que a datação de radiocarbono talvez não mais forneça a idade definitiva de amostras de até 2.000 anos de idade.
Isso deve criar alguns problemas para os arqueólogos: por exemplo, será mais difícil datar itens recentes descobertos de forma isolada, que não deem outras pistas de sua idade além do método carbono-14. E cientistas que usam essa técnica em níveis mais precisos, como para estudar o envelhecimento de células humanas, também podem ser afetados.
Isso também pode tornar mais difícil de rastrear a caça ilegal: descobrir se uma caixa cheia de presas foi arrancada de um elefante em algum momento dentro dos últimos 2.000 anos não é muito útil. Em um mundo com mais carbono na atmosfera, talvez seja melhor depender de outros métodos de datação. [Imperial College London via Ars Technica]
Foto por Alexander F. Yuan/AP