Caso Skyhook escancara a mão pesada do Google em relação ao Android

A relação entre Google, fabricantes e operadoras sempre foi algo nebuloso. Quem decide quais apps serão pré-instalados em um aparelho? Ou melhor, quem decide se um aparelho vai ser mesmo lançado? A tendência é acreditar que a decisão final será da fabricante. Mas o processo envolvendo o Google a empresa Skyhook mostra que a gigante […]

A relação entre Google, fabricantes e operadoras sempre foi algo nebuloso. Quem decide quais apps serão pré-instalados em um aparelho? Ou melhor, quem decide se um aparelho vai ser mesmo lançado? A tendência é acreditar que a decisão final será da fabricante. Mas o processo envolvendo o Google a empresa Skyhook mostra que a gigante das buscas tem poder absoluto sobre tudo que envolva o Android.

O processo entre Google e Skyhook teve novo capítulo na última semana, quando a corte negou o pedido de julgamento sumário do Google. Assim, um processo de 750 páginas foi revelado e dissecado na espetacular matéria de Nilay Patel no This Is My Next. A Skyhook, empresa de serviços de localização, fechou acordos com Motorola e Samsung para ter seu serviço nos Androids da empresa, substituindo a API do Google de localização. O pessoal de Mountain View ficou sabendo da história pela imprensa e não gostou nem um pouco do que ficou sabendo. E a história revela a pesada mão da empresa em seu sistema operacional considerado aberto.

Teste de fidelidade

A Skyhook acusa o Google de usar o Teste de Compatibilidade de Android como arma anticompetitiva, ou uma forma de manter seus parceiros em suas mãos. Pelos arquivos, o Google pode modificar os testes a qualquer momento se considerar necessário para barrar um aparelho ou alguma especificação.

Independente do processo da Skyhook, o teste é uma das prinicpais armas para manter as fabricantes de hardware nas mãos do Google. Como já comentamos por aqui, um gerente do Android enviou um e-mail dizendo que as empresas obviamente sabiam que “nós estamos usando a compatibilidade como um porrete para que eles façam o que nós queremos”. E esse porrete pode até adiar lançamento de aparelhos.

Em dois casos distintos, o Google forçou a retirada do Skyhook alegando que o serviço “poluiria seu sistema de coleta de dados de localização” e que derivações da API de localização do Google não eram permitidos pelo Teste de Compatibilidade — mas, meses antes do posicionamento, o Skyhook havia passado pelo teste e e-mails internos da empresa mostram o receio em perder prestígio com as empresas na área de localização (leia-se perder parceiros e diminuir a coleta de dados, algo que os documentos provam ser algo muito importante para o Google).

A relação submissa das fabricantes

No primeiro caso, ao descobrir indiretamente que a Motorola pretendia usar o Skyhook como serviço oficial nos aparelhos Droid X e Droid 2 (o Milestone 2), o próprio Andy Rubin, vice-presidente sênio da área móvel do Google, trocou e-mails com o CEO da Motorola, Sanjay Jha, pedindo explicações em relação à mudança. Alegando problemas na relação entre a localização Wi-Fi e o GPS, Rubin fala que o caso poderia “impedir a distribuição” dos aparelhos, e que não queria ter “surpresas de último minuto”.

Em poucos dias, a Motorola explicou o caso à Skyhook deixando claro que as aprovações do Google eram obrigatórias para a venda dos aparelhos, e que a ausência de serviços do Google (sim, eles podem impedir a distribuição do Gmail, Gtalk, Mapas e afins para os fabricantes) seria reconhecido como uma quebra de contrato com as operadoras, que obrigam a presença dos pré-instalados. Em outras palavras, as fabricantes de hardware ficam de mãos atadas perante o Google.

A submissão se confirma em um e-mail de Sanjay para Rubin, relatando que o serviço já havia sido tirado do Droid X (na época, Shadow), e que “utilizaria a sugestão recomendada pela equipe do Google em todos os outros aparelhos da empresa”.

O problema é que, ao mesmo tempo, a Samsung começou a vender o Galaxy S em alguns países com o Skyhook pré-instalado. A Motorola não gostou nada, pediu explicações ao Google, que respondeu apenas que a empresa “não deveria se preocupar com outros fabricantes e outros aparelhos”. Faz sentido?

Com a Motorola fora da jogada, era vez de educar a Samsung. Com o mesmo argumento em relação aos problemas de contaminar a base de dados de localização do Google com dados de outra empresa — algo que o Skyhook fez questão de comprovar que era algo fácil de ser desativado — o Google pediu uma atualização para os aparelhos já vendidos com a nova API “o mais rápido possível”.

A Samsung também baixou a guarda e disse que faria o máximo para ser “uma boa cidadã dentro do ecossistema Android” e fez uma atualização de software. Mas, ao mesmo tempo, pediu encarecidamente o direito de vender mais 27 mil unidades do Galaxy S com Skyhook, por pressão de operadoras. O Google negou o pedido e disse que o Galaxy S “não poderia mais ser vendido enquanto o problema não fosse corrigido”.

Semanas depois, o Galaxy S chegava aos EUA com o software novo — e pouco depois, no Brasil — com incontáveis reclamações em torno de seu GPS, que teria problemas de triangulação wireless (reclamação constante também por aqui). Sabendo que a Samsung teve que modificar seu sistema aos 45 minutos do segundo tempo para se adequar ao formato Google, é difícil não associar a falha ao caso.

E o que tudo isso significa?

Com a palavra, Nilay Patel:

No mínimo, fica muito claro que o Google é o ator principal quando o assunto é o desenvolvimento de aparelhos com Android, a ponto de o próprio Andy Rubin aprovar e negar pedidos das fabricantes. Também fica claro que o Google dá um enorme valor à coleta de dados de localização. (…) Um dos chefes do Google disse sumariamente que o “Skyhook não tem o direito de acabar com o direito contratual que o Google tem de coletar dados de localização de aparelhos da Motorola”. Não poderia ser mais direto do que isso. E o Google não hesita em usar sua força para tirar o que quer das fabricantes.

Outra questão fica clara em todo o processo: a Open Handset Alliance, que em tese é uma união entre operadoras, fabricantes e Google para discutir e colaborar com o Android, não manda em nada. Ela não é citada uma mísera vez nas 750 páginas do processo. Parece claro que a cobrança por parte de usuários e imprensa — por atualizações, menor fragmentação e correção de falhas — deve ser maior em cima do Google, e não pelas fabricantes, que aceitam as escolhas do Google de mãos atadas (mas que ainda têm muito o que explica quando o assunto são as malditas skins). Se ele tem tanto poder, ele mesmo tem de responder pela busca de uma experiência mais coesa no Android, desde seu princípio.

E você, caro leitor — principalmente usuário de Android — o que acha disso tudo? Confira todos os detalhes do processo, com uma interessante linha do tempo, no link ao lado: [This Is My Next]

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