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Cena de sexo em “Oppenheimer” é considerada “ataque ao hinduísmo” na Índia

Em "Oppenheimer", Cillian Murphy e Florence Pugh protagonizam uma cena que cita uma frase do Bhagavad Gita, uma das escrituras mais sagradas do hinduísmo

Oppenheimer

Imagem: Reprodução/Universal Pictures

“Oppenheimer”, drama sobre o pai da bomba atômica, estreou na última quinta-feira (20) nos cinemas. No entanto, a produção dirigida por Christopher Nolan está provocando protestos na Índia. O motivo? uma cena de sexo que envolve a leitura de um verso do texto sagrado hindu “Bhagavad Gita”, com alguns pedindo um boicote e exigindo a remoção do trecho em questão. 

[ATENÇÃO, ALERTA DE SPOILER]. Na cena, os personagens Robert Oppenheimer, interpretado por Cillian Murphy, e Jean Tatlock, por Florence Pugh, encenam um ato sexual interrompido para que o protagonista leia um trecho do “Bhagavad Gita” – livro sagrado do hinduísmo. O verso lido é “Eu me tornei a Morte, a destruidora de mundos”. 

A frase é usada pelo físico na vida real após a explosão da primeira bomba nuclear. Segundo a Variety, antes de ser lançado, “Oppenheimer” chegou a ser aprovado com um certificado U/A pelo Conselho Central de Certificação de Filmes da Índia. No entanto, apesar do sucesso do longa no país, os protestos começaram quase imediatamente após a estreia. 

Protesto contra “Oppenheimer”

Entre os críticos estava Uday Mahurkar, jornalista nomeado pelo governo indiano como comissário de informação em 2020 e precursor da Fundação Save Culture Save India. Em uma carta endereçada a Christopher Nolan no Twitter, ele escreveu: “Chegou ao nosso conhecimento que o filme ‘Oppenheimer’ contém uma cena que faz um ataque contundente ao hinduísmo”. 

“Conforme relatos nas redes sociais, uma cena do filme mostra uma mulher fazendo um homem ler o Bhagwad Geeta em voz alta enquanto mantém relações sexuais. Ela segura o Bhagwad Geeta em uma mão, e a outra mão parece estar ajustando a posição de seus órgãos reprodutivos”, protestou Mahurkar em uma carta aberta em nome da Fundação.

“O Bhagwad Geeta é uma das escrituras mais reverenciadas do hinduísmo. Geeta tem sido a inspiração para inúmeros sanyasis, brahmacharya e lendas que vivem uma vida de autocontrole e realizam atos nobres desinteressados. Não sabemos a motivação e a lógica por trás desta cena desnecessária na vida de um cientista. Mas isso é um ataque direto às crenças religiosas de um bilhão de hindus tolerantes, mas parece ser parte de uma conspiração maior por forças anti-hindus”, continuou o jornalista. 

A carta de Mahurkar continua dizendo que Hollywood “é muito sensível ao fato de que o Alcorão e o Islã não são retratados de nenhuma maneira que possa ofender o sistema de valores de um muçulmano comum, mesmo que você faça algo baseado no terrorismo islâmico”, e ainda questiona: “Por que a mesma cortesia não deveria ser estendida aos hindus?”

Por fim, ele pede a Nolan que “remova esta cena do seu filme em todo o mundo” e completa: “Se você optar por ignorar este apelo, será considerado um ataque deliberado à civilização indiana”. Além Mahurkar, ministro da informação e transmissão da Índia, Anurag Thakur, também solicitou que o trecho de sexo que cita uma frase do sagrado livro hindu seja excluído.

Sucesso de “Oppenheimer” na Índia

O comitê de filmes da Índia deu a “Oppenheimer” uma classificação U/A, que é reservada para filmes que contêm temas adultos moderados e podem ser assistidos por crianças menores de 12 anos com a orientação dos pais. Até o momento, não há proibições do filme em nenhum dos estados e territórios da união do país.

Apesar das críticas, o longa de Christopher Nolan é um sucesso de bilheteria na Índia, arrecadando US$ 3,6 milhões nos primeiros dois dias de lançamento, superando confortavelmente “Barbie”, que arrecadou US$ 1,2 milhão. Importante destacar que esta não é a primeira vez que um verso do “Bhagavad Gita” é usado de forma polêmica em Hollywood. 

“Bhagavad Gita” em Hollywood

Uma cena de orgia no último filme de Stanley Kubrick, “De Olhos Bem Fechados” (1999), apresentava as linhas “Para a proteção dos virtuosos, para a destruição do mal e para a firme estabelecimento do Dharma, eu nasci e sou encarnado na Terra, de era em era”. Após protestos de grupos hindus, a Warner Bros. reeditou o filme sem a citação.

“Bhagavad Gita”, que se traduz como “Canção de Deus”, contém 700 versos e faz parte de um épico maior chamado “Mahabharata”, apresentado em uma conversa entre o protagonista do livro, o príncipe Arjuna, e uma entidade divina conhecida na religião hindu como Krishna. As frases do livro já foram inclusive citadas na música “Gita”, de Raul Seixas e Paulo Coelho.

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