Biólogos brasileiros deram início, na última semana, à primeira expedição nacional ao Ártico. O intuito da viagem de nove dias, que termina nesta sexta-feira (21), é coletar exemplares de plantas, fungos e micro-organismos para estudar a biodiversidade do Polo Norte. Assim, será possível analisar sua conexão com a Antártida, que o Brasil estuda há 40 anos.
A expedição liderada pela Universidade de Brasília (UnB) acontece no arquipélago Svalbard, parte do Círculo Polar Ártico que pertence à Noruega. Professores da Universidade Federal de Minas (UFMG) e da PUC-Brasília também embarcaram na missão financiada pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).
A equipe está recolhendo briófitas, por exemplo, um grupo de plantas pequeninas que se dão bem em ambientes polares, e fungos extremófilos, que sobrevivem nas temperaturas congelantes do polo terrestre. Vívian Gonzales, cientista da UFMG, explicou à Folha de S.Paulo que eles iriam coletar as amostras em trilhas e fiordes.
Os biólogos também estão recolhendo amostras de sedimentos do Ártico – especificamente de permafrost, o solo congelado abaixo da superfície que tem diminuindo com as mudanças climáticas. Ele pode guardar vírus zumbis por dezenas de milhares de anos, e esta é uma das preocupações acerca do descongelamento.
Brasil no Ártico
Paulo Câmara, biólogo da UnB e um dos coordenadores da expedição, explicou à Agência Brasil que as pesquisas no Ártico têm importância geopolítica. Um dos motivos para isto é o fato de que o derretimento do gelo no Ártico, irreversível e fruto das mudanças climáticas, vai abrir novas rotas comerciais e diminuir a importância do canal de Suez – o que impacta o comércio e a segurança internacionais.
O pesquisador ainda destaca o fato de que 7% do território brasileiro está mais perto do Ártico do que da Antártica – e de que estes são dois importantes reguladores climáticos. “O que acontece no Ártico afeta o Brasil, então nós deveríamos ter direito a voz e a voto, mas isto não está acontecendo”.
O Brasil é o único entre as dez maiores economias do mundo sem decisão em questões relativas ao Ártico. Acredita-se que a presença de nossos cientistas no Ártico pode influenciar na inclusão do país como membro observador do Conselho do Ártico, um órgão internacional que discute estratégias de proteção ambiental ao território.