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Cientistas descobrem gelo azul mais antigo incrustado na Antártida

Com 6 milhões de anos, amostra de gelo azul da Antártida dá pistas sobre como era a Terra antes das eras glaciais

Cientistas descobrem gelo azul mais antigo incrustado na Antártida

Um novo estudo identificou que algumas amostras de gelo azul da Antártida têm cerca de 6 milhões de anos. Esse é o dobro do recorde de idade do gelo mais antigo já registrado até então.

Por enquanto, os resultados do estudo são preliminares e foram apresentados por Ed Brook, líder da pesquisa, na Assembleia Geral da União Europeia de Geociências.

Entenda o contexto

O gelo presente no interior e nas profundezas da Antártida são ouro para a ciência. Por lá, a neve se acumula ano após ano e, esmagada sob seu próprio peso, comprime-se em camadas de gelo azul com bolhas de ar em seu núcleo.

Em geral, o gelo antigo e profundo flui contra a rocha mãe e é impulsionado para a superfície, o que faz com que essas camadas sejam desorganizadas — nem sempre a mais antiga é a mais profunda.

O que diz a pesquisa do gelo azul

Em 2010, Brook e uma equipe de pesquisadores começaram a perfurar gelo na região das Colinas Allan, uma faixa de montanhas que fica na costa da Antártida. A ideia era verificar se o gelo azul poderia ajudar a encontrar camadas mais antigas das geleiras.

Então, em 2019, os cientistas relataram uma amostra de gelo com 2,7 milhões de anos. Agora, em nova análise, os pesquisadores utilizaram os isótopos de argônio contidos nas bolhas de ar das geleiras e conseguiram encontrar amostras ainda mais antigas.

Por enquanto, a equipe perfurou pequenos núcleos do gelo e descobriu que eles têm cerca de seis milhões de anos. Contudo, as amostras eram pequenas e, por isso, eles voltarão no próximo verão para recuperar gelos maiores.

Descobertas além da idade

Por meio da perfuração das bolhas de ar, os pesquisadores também encontraram gases do efeito estufa. Na descoberta de 2019, as análises indicaram que os gases encontrados tinham cerca de 1,5 milhão de anos.

Mas na última temporada, os pesquisadores conseguiram perfurar núcleos de gelo com até três milhões de anos. E, por serem amostras grandes, permitiram analisar também os gases. Os primeiros que foram encontrados pertenciam a era do Plioceno, um período com temperaturas mais altas, cujo fim deu origem às eras glaciais.

Os cientistas acreditam que os altos níveis de CO2 encontrados nas amostras foram responsáveis pelo calor do Plioceno. De acordo com os dados, os níveis de dióxido de carbono estavam tão altos quanto o de hoje.

Além disso, os pesquisadores conseguiram usar a análise para refutar uma hipótese forte sobre o período das eras glaciais. Até agora, muitos cientistas pensavam que a mudança climática que fez essas eras se tornarem mais longas e intensas tinha a ver com os níveis de CO2.

A ideia era de que esses níveis caíram, fazendo com que as camadas de gelo se tornassem muito espessas para derreter em um ciclo de 40 mil anos – assim, passaram a durar cerca de 100 mil anos.

Contudo, as análises de gases de efeito estufa no gelo azul sugerem que os níveis de CO2 se mantiveram entre cerca de 220 e 250 partes por milhão, o que é próximo ao padrão.

Agora, para descobrir o que realmente desencadeou a mudança das eras glaciais, os pesquisadores querem um núcleo contínuo que cubra a transição.

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