Vênus é um planeta que derrete qualquer coisa que entra em contato, certo? Não totalmente. Dados da primeira missão da Agência Espacial Europeia (ESA, na sigla em inglês) foram analisados e trouxeram algumas informações fascinantes sobre a atmosfera do nosso vizinho mais próximo. Algumas partes de Vênus são muito, muito frias.
A missão Venus Express da ESA chegou em Vênus em 2006 e inicialmente deveria durar apenas 500 dias. Mas a sonda se mostrou excepcionalmente útil e continuou explorando o planeta pelos oito anos seguintes.
Mas uma hora a Venus Express ficou sem combustível. E então, como aconteceu com diversas outras sondas antes dela, ela fez um mergulho suicida na superfície do planeta. A Venus Express perdeu contato com a Terra em novembro de 2014, e agora podemos dizer com segurança que ela derreteu e se tornou uma poça de lixo eletrônico.
Mas antes disso tudo acontecer, em julho de 2014, a Venus Express realizou uma demonstração importante de tecnologia. Enquanto descia pelas regiões polares do planeta, a sonda foi desacelerada pela resistência atmosférica – um processo conhecido como “aerofrenagem”. Acelerômetros a bordo fizeram medições precisas da resistência, que foram usadas por cientistas para calcular propriedades atmosféricas como densidade e temperatura.
“Nenhum dos instrumentos da Venus Express foi feito para tais observações atmosféricas,” explicou Ingo Müller-Wodarg em um comunicado. “Só percebemos em 2006 – após o lançamento! – que poderíamos usar a espaçonave Venus Express como um todo para fazer mais ciência”, explicou o autor do estudo publicado na Nature Physics sobre as descobertas da sonda.
Além disso, a região polar é dominada por fortes ondas atmosféricas. Essas ondas são mais ou menos como ondulações em uma lagoa, mas viajando verticalmente em vez de horizontalmente. As ondas atmosféricas ajudam a modelar a atmosfera do nosso planeta, e elas são parcialmente responsáveis pelas incríveis camadas de bruma encontradas pela New Horizons em Plutão. É a primeira vez que conseguimos medi-las em Vênus.
Por fim, o mergulho suicida da Venus Express demonstrou que a aerofrenagem é uma forma eficiente de fazer uma descida controlada. A missão ExoMars da agência espacial, que deve chegar em outubro a Marte, também vai usar a técnica para se inserir em uma órbita de baixa altitude.
Particularmente, amo esses estudos que nos lembram como sabemos pouco sobre os planetas no nosso quintal. Há alguns anos, quem pensaria em dizer que o aparentemente quente planeta Vênus tem uma atmosfera polar bem gelada? Nosso vizinho mais próximo também está cheio de surpresas.
[ESA]
Imagem de topo: Conceito artístico para a aerofrenagem da Venus Express. Crédito: ESA–C. Carreau.