Pesquisadores de Cingapura desenvolveram um gel magnético que acelera a cicatrização de feridas em pacientes com diabetes. Segundo estudo publicado na revista Advanced Materials, a descoberta faz com que a cicatrização aconteça até três vezes mais rápido.
Em geral, o gel também tende a reduzir as taxas de recorrência e, consequentemente, diminuir as amputações de membros.
Entenda o contexto
Pessoas com diabetes têm a capacidade natural de cicatrização comprometida. Dessa forma, qualquer ferida pode demorar a fechar, aumentando o risco de infecções. Em alguns casos, isso pode levar até mesmo a amputação de membros.
De acordo com a OMS (Organização Mundial da Saúde), aproximadamente 422 mil pessoas no mundo têm diabetes. Ainda, tanto o número de casos como a prevalência da doença têm aumentado nas últimas décadas.
“As ataduras convencionais não desempenham um papel ativo na cicatrização de feridas. Elas apenas impedem que a ferida piore, e os pacientes precisam ser agendados para a troca de curativos a cada dois ou três dias”, afirmou Andy Tay, autor da pesquisa.
Dessa forma, representa um grande custo para o sistema de saúde e uma inconveniência para os pacientes. Ainda segundo o estudo, Cingapura tem uma das maiores taxas de amputação de membros inferiores devido à diabetes no mundo, com uma média de cerca de quatro casos por dia.
Já no Brasil, o SUS (Sistema Único de Saúde) realizou mais de 282 mil cirurgias de amputação de membros inferiores (pernas ou pés) entre janeiro de 2012 e maio de 2023.
De acordo com a SBACV (Sociedade Brasileira de Angiologia e de Cirurgia Vascular), ao menos 85 brasileiros sofreram pela rede pública de saúde a cada dia durante 2022.
Como funciona o gel
O gel de cicatrização de feridas é carregado com dois tipos de células da pele: os queratinócitos e os fibroblastos. A primeira é essencial para a reparação da pele, enquanto a outra ajuda a formação de tecido conjuntivo.
Além das células, o gel também contém pequenas partículas magnéticas. Assim, cada tratamento envolve a aplicação de uma bandagem com o gel.
Testes em laboratório combinaram a aplicação do gel com uma estimulação magnética por cerca de uma a duas horas. Assim, ele cicatrizou feridas diabéticas cerca de três vezes mais rápido do que as abordagens convencionais atuais.
Isso porque a combinação aumenta a atividade dos fibroblastos, o que gera crescimento das células e estimula a produção de colágeno, que é essencial para a cicatrização. Isso também melhora a comunicação com os queratinócitos para promover a formação de novos vasos sanguíneos.
“Nossa tecnologia aborda vários fatores críticos associados às feridas diabéticas, gerenciando simultaneamente os níveis elevados de glicose na área da ferida, ativando as células da pele inativas próximas à ferida, restaurando os vasos sanguíneos danificados e reparando a rede vascular interrompida dentro da ferida”, explicou Tay.
De acordo com os pesquisadores, embora o estudo se baseie na cicatrização de feridas nos pés de pacientes com diabetes, a tecnologia tem potencial mais amplo. A ideia é que ela possa tratar uma ampla gama de feridas complexas, como queimaduras.
Agora, os pesquisadores estão colaborando com um estudo clínico para testar a eficácia do gel usando tecidos humanos de pacientes diabéticos.