Ciência

Cientistas usam fígado de porco para filtrar sangue humano – e funciona por 3 dias

Experimento feito em paciente com morte cerebral usou fígado de porco com 69 modificações genéticas para garantir compatibilidade
Imagem: Olga Kononenko/ Unsplash/ Reprodução

Um fígado de porco geneticamente modificado conectado a um indivíduo com morte cerebral teve sucesso em filtrar sangue por três dias. Agora, pesquisadores acreditam que a conquista pode abrir portas para um tratamento temporário inovador destinado a pessoas que sofrem de insuficiência hepática aguda.

Esta não é a primeira vez que um órgão de animal é utilizado em organismos humanos. Pesquisadores da Escola de Medicina da Universidade de Maryland, nos EUA, transplantaram corações de porcos geneticamente modificados em pessoas vivas duas vezes — e, mesmo com sucesso, ambas morreram meses depois.

Além disso, rins de porcos geneticamente modificados também já foram conectados a pessoas que recebiam suporte de vida depois de perderem atividade cerebral.

Entenda o caso

O fígado usado no último procedimento veio da empresa eGenesis e continha 69 modificações genéticas. Em geral, essas edições foram feitas para eliminar vírus suínos incorporados no genoma dos animais e disfarçar proteínas da superfície celular, de forma que se tornassem mais parecidas com as humanas.

Então, para testar o funcionamento do órgão e adaptação ao sistema imunológico humano, pesquisadores ligaram o fígado de porco geneticamente modificado a uma pessoa que estava com morte cerebral, cujo corpo estava sendo mantido em suporte de vida. 

Assim, o órgão foi mantido em uma máquina, não foi realmente transplantado para dentro do corpo do paciente. Usando tubos, os cientistas criaram um fluxo de sangue que saía e entrava, passando da corrente sanguínea da pessoa ao fígado do porco.

Como resultado, o fígado fez o sangue circular normalmente e também produziu bile durante 72 horas. Depois disso, os pesquisadores encerraram o experimento.

Durante o experimento, não houve sangramento, perda de oxigênio, nem rejeição do sistema imunológico do paciente. Apesar do número de plaquetas cair nas primeiras 24 horas, o nível se estabilizou sozinho depois. 

Agora, os pesquisadores querem determinar quais funções o fígado de porco poderia desempenhar caso o transplante seja feito em um paciente vivo. Para isso, eles coletaram e estão testando amostras de sangue e plasma coletadas durante o procedimento.

O que a pesquisa representa

O sucesso do experimento traz esperança para outras aplicações da técnica. Por exemplo, quando há um paciente com insuficiência hepática, que é fatal em 90% dos casos. Nesse cenário, o fígado de poro pode filtrar o sangue da pessoa temporariamente, até que seu próprio órgão se cure ou um doador seja encontrado.

Por enquanto, o transplante total de um fígado de porco em humano está distante da realidade. “Por enquanto, acho que há tantas incompatibilidades que não vamos procurar a substituição de longo prazo do fígado humano”, disse Abraham Shaked, que liderou o experimento.

Bárbara Giovani

Bárbara Giovani

Jornalista de ciência que também ama música e cinema. Já publicou na Agência Bori e participa do podcast Prato de Ciência.

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