O principal componente ativo em cogumelos alucinógenos, a psilocibina, é extraordinariamente efetivo em reduzir ansiedade, depressão e outras formas de angústias mentais em pacientes com câncer, segundo alguns novos estudos.
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Uma nova pesquisa publicada no Journal of Psychopharmacology mostra que apenas uma dose de psilocibina, junto com a psicoterapia, reduz depressão, ansiedade e outras aflições emocionais em pacientes com estado avançado de câncer. Além disso, o componente ajuda a aumentar o sentimento de bem estar. Importante notar que esses efeitos duraram meses.
Este é um grande exemplo de como psicodélicos podem ser usados para tratar várias doenças graves. Essas descobertas também escancaram o preconceito da comunidade médica sobre estas drogas — sem contar em agências governamentais que baniram experimentos do tipo — que precisa ser repensado.
Pequenos testes mostram que a psilocibina também pode ajudar no tratamento de alcoolismo, dependência de opiáceos e depressão. A última pesquisa oferece uma das provas mais interessantes já obtidas para o uso de psicodélicos no tratamento de doenças emocionais profundas e complexas, particularmente em pacientes com enfermidades sérias que podem levar à morte.
Uma dose de longo efeito
Pesquisadores da NYU Langone mostraram que um tratamento único com psilocibina rapidamente aliviou o sofrimento emocional por mais de 6 meses em 80% das 29 pessoas que participaram do estudo. Os pacientes foram avaliados de acordo com as medidas padrões para depressão e ansiedade, como pressão sanguínea, batimento cardíaco, testes clínicos e questionários.
Um estudo similar feito pela Johns Hopkins teve conclusão parecida. Como a psilocibina é proibida nos Estados Unidos, os pesquisadores tiveram de obter uma licença federal para conduzir os testes.
“Nossos resultados representam a mais forte evidência dos benefícios clínicos da terapia com psilocibina com o potencial de transformar o tratamento de pacientes de câncer com aflições psicológicas”, informou Stephen Ross, que liderou o estudo da NYU Langone, em um comunicado. “Se testes clínicos maiores provarem isso, então nós poderíamos ter uma medicação barata, efetiva e segura para aliviar o mal-estar que costuma aumentar as taxas de suicídio entre pacientes de câncer.”
Durante os tratamento, metade dos pacientes tomou uma dose de 0,3 miligramas por quilo de psilocibina, e a outra metade tomou placebos, sendo um com baixíssimas doses de psilocibina e o outro com a vitamina niacina (que reproduz uma adrenalina que imita drogas alucinógenas). Os pesquisadores escolheram estes placebos em particular, pois se não tivessem feito dessa forma, ficaria claro para os participantes de que eles estavam sendo enganados com um autêntico placebo, como uma pílula de açúcar — como qualquer um que já tomou alucinógeno sabe, os efeitos não são sutis.
Durante cada uma das sessões, os participantes sentavam em um sofá, vestiam uma venda e ouviam música. Os pesquisadores encorajaram os pacientes a prestarem atenção em suas experiências interiores. Análises posteriores mostram que uma dose do tratamento com psilocibina produziu efeitos quase imediatos. Além de reduzir os sentimentos de desespero, angústia e depressão, a droga ajudou a melhorar a perceção de qualidade e sentido de vida, aceitação da morte e otimismo. Vários pacientes disseram ainda que passaram a ter sentimentos relacionados a espiritualidade, uma paz incomum e altruísmo.
Poucos efeitos negativos
Os efeitos negativos foram poucos e pequenos, incluindo náusea, dor de cabeça e um pouco de ansiedade — muitos dos pacientes estão prestes a morrer de câncer, então os cogumelos alucinógenos não aliviam todo o estresse emocional.
Roland Griffiths, que liderou a pesquisa do Hopkins, disse que a droga oferece aos pacientes um senso de unidade e um sentimento de que tudo está conectado em algum nível.
“Após este tipo de experiência, as pessoas sentem que aprenderam algo de significado profundo e passam a valorizar isso”, explicou Griffiths à New Scientist. “Eles perceberam as mudanças em como eles passaram a lidar com a vida, interagir com as pessoas e seus sistemas de valores para a experiência.”
Os pesquisadores alertam que os pacientes não devem se medicarem com cogumelos alucinógenos sem supervisão médica. “A terapia com psilocibina pode não funcionar com todo mundo, e alguns grupos, como pessoas com esquizofrenia e adolescentes, não devem ser tratados com a substância”, observou Anthony Bossis, um psiquiatra da NYU Langone e que também é um dos coautores de estudo com a psilocibina.
[Journal of Psychopharmacology via New Scientist]
Imagem do topo: Divulgação