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Como a coluna do meio salvou o Facebook da irrelevância

Dez anos atrás, em um dormitório de estudante universitário, Mark Zuckerberg criou aquilo que daria origem ao Facebook que conhecemos hoje. O site começou com o propósito de avaliar a beleza das estudantes do campus, mas em vez de se tornar um Lulu e cair rapidamente na irrelevância, a rede social evoluiu e se tornou […]

Dez anos atrás, em um dormitório de estudante universitário, Mark Zuckerberg criou aquilo que daria origem ao Facebook que conhecemos hoje. O site começou com o propósito de avaliar a beleza das estudantes do campus, mas em vez de se tornar um Lulu e cair rapidamente na irrelevância, a rede social evoluiu e se tornou parte do dia a dia de 1,26 bilhões de pessoas em todo o mundo. Desde então, Zuckerberg se meteu em inúmeras polêmicas, se tornou um bilionário e virou até protagonista de um filme. Nada mal pra quem começou avaliando garotas depois de levar um pé na bunda particularmente doloroso.

Zuckerberg e sua equipe souberam trabalhar com timing, tiveram a sensibilidade de perceber uma série de necessidades que as pessoas tinham e revelaram uma imensa capacidade de adaptação. Mas ao final da primeira década do Facebook, embora ele já seja um sucesso sem precedentes, muita coisa ainda precisa melhorar.

A rede

O Facebook pegou o bonde da web 2.0 na hora certa. Quando ele se tornou uma rede social pra valer, com um bom número de usuários no mundo inteiro, o Twitter já estava ali com seu serviço de microblogging e os blogs eram o espaço para os textos maiores. No entanto, o Facebook acertou ao abocanhar a fatia do meio: a das pessoas que queriam escrever um tantinho a mais do que é possível no Twitter, mas não tanto e nem de maneira tão relevante a ponto de cogitarem criar um blog.

Com o tempo, essas mesmas pessoas quiseram mais: criar álbuns de fotos, compartilhar links e bater papo. Pouco a pouco, o Facebook foi suprindo todas essas “necessidades sociais” e no caminho, como era esperado, eles foram inventando algumas necessidades que não existiam e fazendo com que as pessoas acabassem acreditando nelas.

As pessoas

Mas o Facebook está longe de ser perfeito. Ele não é a maior maravilha já vista em termos de design de interface nem em usabilidade, mas o que estraga o Facebook no final das contas é o mesmo problema que acomete todo o resto da internet: as pessoas. O Facebook pode ser um imenso latão do pior tipo de chorume se você não escolher exatamente aquilo que quer ver. Pessoas que postam demais, pessoas que postam coisas que não deveriam estar ali, pessoas que postam coisas que imediatamente causam uma reação alérgica seríssima motivada por vergonha alheia.

Mas, infelizmente, o pessoal que ainda não entendeu a internet (e também o pessoal que ainda não entendeu a vida como um todo), estará sempre por aí fazendo um monte de coisas horrendas. A parte boa é que o Facebook já permitiu que com três cliques você simplesmente pare de receber o conteúdo pessoal que você não quer ver. Mais uma vez, a coluna do meio: você não precisa apagar (e magoar) a pessoa nem precisa continuar recebendo aquele conteúdo irritante só por consideração. Basta tirá-la da sua lista de visualização.

O Facebook tem feito com que o usuário consiga “customizar” o conteúdo que chega até ele por meio da rede social. Mas ele pode melhorar muito nesse quesito e o lançamento do Paper é um sinal de que a customização, uma característica forte da Web 2.0, ainda vai evoluir muito dentro da rede social.

O dinheiro

Com todo mundo usando uma rede social, não foi difícil transformá-la numa máquina de gerar dinheiro. Hoje em dia é até estranho que uma marca não tenha uma presença digital dentro do Facebook. As fanpages se tornaram uma ferramenta de divulgação para as marcas, geraram novos formatos de publicidade e até uma nova maneira de fazer o serviço de atendimento ao consumidor. Mas também abriu uma porta para toda sorte de lixo e anúncios vindos não se sabe de onde inundando a timeline. O algoritmo que escolhe a publicidade a ser mostrada está longe de ser uma maravilha, mas tem melhorado nos últimos tempos. Mas, claro, ajuda bastante quando as agências resolvem fazer social media digital de verdade e não somente uma transposição das campanhas offline para o online.

Nesse caso, o Facebook ainda está procurando pela coluna do meio. A empresa ainda não descobriu um jeito lucrativo de só te oferecer os anúncios que você realmente quer ver e, consequentemente, levar dinheiro aos anunciantes que procuram a rede social. Em algum momento, o Facebook precisará rever a questão das métricas: as marcas colocam muito dinheiro nele sem saber ao certo que resultados a rede social dá. Mas, como os números da rede são gigantescos, é fácil justificar a verba publicitária. Pelo menos por enquanto… as marcas já estão acordando e exigindo métricas mais acuradas do que um número de fãs ou de pessoas que deram like numa determinada campanha.

Os próximos desafios

Os desafios futuros do Facebook são inovar sem perder o propósito original da rede social, e implementar os recursos de que ainda sentimos falta. Hoje em dia, tirar um projeto do papel e levá-la para a vida real já não é um bicho de sete cabeças, e não faltam investidores pra apadrinhar boas ideias. Se o Facebook quiser se manter como o gigante que é, terá que continuar crescendo e expandindo suas funcionalidades sem alterar sua essência. Um exemplo claro de melhoria necessária: a busca. Atire a primeira pedra aquele que já não penou para encontrar uma mensagem ou um post de muito tempo atrás.

O algoritmo misterioso que forma seu feed de notícias escolhendo o que aparece lá também está longe da perfeição, mas dá pro gasto. É do refinamento dessas e de outras funções, e da criação de novas ferramentas que depende a permanência do Facebook no panteão dos gigantes da internet. O sucesso do Facebook depende de uma busca incessante pela coluna do meio, no final das contas.

O Facebook é uma empresa que efetivamente aprende com seus erros. Meu palpite para os próximos dez anos é que ele possa saltar do posto de gigante das redes sociais para o de conglomerado de comunicação. Posso estar delirando, mas se dez anos atrás eu dissesse que hoje o Google estaria comprando robôs você também ia duvidar da minha sanidade, não ia?

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