A droga fantástica, que já foi obtida da casca de salgueiros, hoje em dia é usada para prevenir ataques cardíacos e AVCs (derrames). Mas nem todo mundo se beneficia ao tomar uma aspirina por dia.
O que é a aspirina?
Desde Hipócrates (400 a.C.) as pessoas já colhiam salgueiros para tratar a dor. Hoje, a aspirina é:”ácido acetilsalicílico… um derivado sintético do composto salicilina, que existe naturalmente em plantas, especialmente no salgueiro”.
Quando derivado diretamente da salicilina, ácido salicílico é “difícil de engolir, causando irritação na mucosa da boca e do estômago”. Então foi desenvolvido um sistema tampão para deixar o remédio mais fácil de tomar e foi desenvolvido um “processo de sintetizar o ácido salicílico”.
Como ela funciona, em geral?
Para reduzir a dor e a inflamação, a aspirina bloqueia “uma enzima conhecida como cicloxigenase. O corpo precisa dessa enzima para criar precursores para a maioria das meia dúzia de prostaglandinas (substâncias similares a hormônios) conhecidas, (…) [incluindo] aquelas que tornam mais fácil o processo de as células nervosas, aquelas que causam o aumento da febre e que promovem o inchaço de um tecido inflamado, transmitirem sinais de dor umas para as outras.
Como a aspirina previne ataques cardíacos e AVCs?
Quando você sofre um corte ou outro ferimento que sangra, as plaquetas (células de coagulação do sangue) correm para o ferimento e se acumulam, formando uma barreira que faz o vaso parar de sangrar. Para estar disponível imediatamente para esta tarefa que pode salvar uma vida, as plaquetas devem estar presentes em todo o sistema circulatório. Ainda que em um vaso sanguíneo perfeitamente saudável as plaquetas não ofereçam ameaça, quando a pessoa sofre de ateriosclerose (estreitamento ou endurecimento das artérias devido ao acúmulo de substâncias, incluindo o colesterol), as plaquetas podem se juntar ao acúmulo e formar um bloqueio que leva a um ataque cardíaco ou AVC.
Por sorte, o tromboxano, que ativa e agrega plaquetas, é tão suscetível aos efeitos anti-inflamatórios da aspirina quanto as prostaglandinas que causam febre, dor e inchaço: “a droga bloqueia a cicloxigenase, a enzima das plaquetas, ao acetilar o local ativo da enzima. A inibição da enzima bloqueia a produção de um importante agente trombótico conhecido como tromboxano A2 (…)”.
Ou, em linguagem simples, “a aspirina previne ataques cardíacos e derrames ao bloquear permanentemente um modo de a plaqueta de ser ‘ativada’ e causar um acúmulo num vaso sanguíneo… [o que] bloqueia o fluxo sanguíneo e causa o ataques cardíacos e AVCs”.
Claro, mesmo tomando a aspirina, o sangue ainda coagula – mas não com tanta eficiência. Seria contraproducente tomar um remédio que faria você sangrar até a morte.
Por que não está todo mundo tomando uma aspirina por dia?
Porque a aspirina diminui a capacidade das plaquetas de coagularem: “nós sangramos mais quando tomamos aspirina. Além disso, a aspirina irrita o estômago, então ela pode causar úlceras que sangrarão demais, já que as plaquetas não vão coagular tão bem para parar o sangramento”.
Pra piorar o que já estava ruim, “a aspirina inibe a formação de substâncias que protegem a delicada mucosa do estômago“, uma condição que contribuiu para ainda mais sangramento no abdômen. Além disso, um estudo recente sobre saúde da mulher mostrou que a terapia com aspirina está “ligada a um crescimento no risco de AVC hemorrágico” em mulheres.
Então, quem deve começar a terapia com aspirina?
Em geral
Recentes “testes clínicos parecem mostrar que a aspirina pode não prevenir o primeiro ataque [cardíaco]” ou AVCs, ainda que especialistas peçam que as pessoas não levem isso muito a sério. Primeiro, eles alertam que é difícil conduzir uma pesquisa sobre a eficácia de um tratamento em pessoas que nunca sofreram de uma doença e, segundo, a aspirina funciona de formas diferentes dependendo de como você a toma (comprimidos revestidos, de liberação controlada, etc). Então as descobertas podem não ser definitivas como parecem.
Após considerar os custos e benefícios de tomar a aspirina diariamente, pelo menos um médico concluiu:
A aspirina provavelmente é benéfica na prevenção de derrames e ataques cardíacos em pessoas com um risco relativamente alto de tê-los [aqueles com um histórico familiar de morte por ataque cardíaco com menos de 60 anos] e provavelmente prejudicial, causando sangramento excessivo, em pessoas com um baixo risco de tê-los [aqueles cujos parentes viveram até pelo menos os 80 anos].
Mulheres mais velhas
Um estudo de 10 anos sobre a saúde da mulher, com a participação de 40 mil mulheres com mais de 45 anos, revelou que, em geral, “a aspirina não teve efeito em ataques cardíacos, nem influenciou as mortes por doenças do coração ou AVC”.
Os pesquisadores descobriram, no entanto, que a terapia com aspirina reduziu o risco de AVC em 17%, um fato considerado “importante… uma vez que as mulheres têm mais derrames do que ataques cardíacos por ano. Isto é o oposto do que os estudos mostraram nos homens – que a aspirina previne ataques cardíacos, mas parecem ter pouco efeito contra o AVC”.
Além disso, os autores do estudo descobriram algo entre os 10% de participantes com mais de 65 anos “neste grupo, a aspirina preveniu um número significativo de derrames e ataques do coração… no mesmo patamar do que preveniu nos homens [segundo outro estudo].”
Saiba mais
Depois que a aspirina foi apresentada como capaz de prevenir ataques cardíacos, as vendas aumentaram. Em 2007, a Aspirina da Bayer ostentava vendas de 1,1 bilhão de dólares.
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