Como a IA pode prever a próxima crise alimentar do mundo
Ferramentas de IA (inteligência artificial) e aprendizado de máquina podem ser usadas para antecipar a chegada da próxima crise alimentar do mundo. É o que diz um estudo de pesquisadores da Universidade de Nova York publicado na revista Science Advances.
Na pesquisa, cientistas de dados usaram métodos de aprendizagem profunda para extrair textos de mais de 11 milhões de notícias voltadas para países com insegurança alimentar entre 1980 e 2020.
As análises mostraram que, a partir de 2009, 21 países “melhoraram substancialmente” os indicadores de notícias que traziam previsões de crises alimentares. Esses indicadores têm base no IPC (Classificação Integrada de Fases de Segurança Alimentar), programa aceito internacionalmente para detectar falta de alimentos com até 12 meses de antecedência.
Se o uso de IA se popularizar neste campo, será possível criar um sistema de alerta precoce e mais preciso que os mecanismos usados hoje em pelo menos 37 países da África, Ásia e América Latina com histórico de insegurança alimentar.
“Historicamente, as previsões feitas por esses especialistas são bastante imprecisas”, disse Samuel Fraiberger, co-autor do artigo e cientista de dados do Banco Mundial.
Segundo ele, a maioria dos modelos atuais têm base em índices locais de preços de alimentos. Por isso, não contemplam os países mais pobres em sua totalidade. Além disso, nem sempre é possível coletar os dados por falta de recursos e conflitos, por exemplo.
De olho nas notícias
Mas, quando uma IA analisa apenas os termos de notícias relacionados a possíveis crises alimentares, não é preciso que existam pessoas fazendo o levantamento in loco, necessariamente.
Um exemplo foram as notícias de infestação de pragas em 2016, que dizimaram colheitas em pelo menos 20 países africanos. O IPC só classificou o episódio como uma crise alimentar cinco meses depois do pico da infestação nos distritos mais expostos.
Além da crise alimentar em si, sistemas de IA também podem antecipar essa classificação com outros problemas, como choques climáticos e indisponibilidade de alimentos.
No final, é a notificação é que possibilita o envio de ajuda humanitária. E quanto antes, melhor. “Mesmo semanas podem fazer uma grande diferença [nessas crises]”, justificou Fraiberger.
Segundo o IPC, pelo menos 153 milhões de pessoas enfrentam níveis emergenciais de insegurança alimentar (IPC fase 3 ou mais), o que significa que estão à beira da fome. Quase 240 milhões estão em situação de estresse alimentar (IPC fase 2).