A aeronave X-51A Waverider tem potencial civil e militar. Seu motor permite atingir alvos em qualquer lugar do mundo em minutos, e ele pode revolucionar viagens transoceânicas de avião.
O X-51A custou US$140 milhões e foi desenvolvido pela Boeing. Ele é resultado dos esforços no Departamento de Defesa americano, que usou US$2 bilhões na última década para desenvolver o voo hipersônico – um der seis programas financiados pelo Pentágono.
A aeronave X-51 tem 8m de comprimento e 1.800kg. Ele usa a tecnologia Scramjet (ramjet de combustão supersônica), um derivado do motor Ramjet, tipo de motor a jato.
Ramjets e Scramjets ambos dependem da velocidade extremamente rápida do motor em comprimir ar para combustão. A diferença é que os Scramjets não desaceleram o ar a velocidades subsônicas antes da combustão: o ar viaja através do motor em velocidade hipersônica.
Isto permite aos Scramjets operar a velocidades muito maiores que Ramjets, teoricamente a até Mach 24 (~29.400km/h, ou 24 vezes a velocidade do som). Compare isso ao ramjet mais rápido do mundo, o Pratt & Whitney J-58, a bordo do avião SR-71 Blackbird, e sua mera velocidade de cruzeiro de apenas Mach 3.2 (~3.900km/h); ou o Concorde, que só atingia Mach 2 (~2.450km/h).
Por que um motor hipersônico?
Osama Bin Laden poderia ter morrido em 1998. Só que os mísseis enviados para atingir seu campo de treinamento levaram 80 minutos para ir de navios americanos no Golfo Arábico até o Afeganistão. Isso deu tempo o bastante para Bin Laden fugir. Se estes mísseis tivessem o motor a jato hipersônico do X-51A, eles teriam chegado em 12 minutos.
Atualmente, os únicos mísseis americanos que conseguem atingir um alvo em menos de uma hora são ICBMs, ou mísseis balísticos intercontinentais – só que eles têm ogivas nucleares que os EUA ainda devem apontar para a Rússia. Esses são mísseis enormes e caros, capazes de destruir áreas enormes de outros países, e eles levam poder de fogo demais para o que a situação exige. Mas eles são muitos mais rápidos que a segunda melhor opção: mísseis de cruzeiro.
O motor do X-51A Waverider vai reduzir esta diferença entre os dois.
Testes a Mach 6
Em todo voo de teste, a aeronave X-51A primeiro pega carona na asa do bombardeiro Boeing B-52 até chegar a 50.000 pés de altitude. Depois, ela cai em queda livre, em direção ao oceano. Isso dura quatro segundos: aí, um impulsionador é ativado e acelera a X-51A à velocidade Mach 4.5 (5.500km/h) em 30 segundos.
Daí, o impulsionador se separa e o motor scramjet do X-51A assume o comando. Primeiro ele queima etileno, depois muda para combustível JP-7 para foguete. O X-51A percorre sua trajetória por 300 segundos, chega a Mach 6, e sobe a até 70.000 pés antes de se desintegrar no oceano Pacífico.
A Boeing começou os testes do X-51A em 2006, e realizou seu primeiro voo de teste no fim de 2009 – porém sem ser ativado, apenas preso ao bombardeiro. Em maio de 2010, o X-51A conseguiu realizar seu primeiro voo real de teste. Mas o segundo voo, em março de 2011, não deu muito certo: o motor não se separou do impulsionador e caiu. Um terceiro teste, realizado recentemente no Oceano Pacífico, também fracassou. Desta vez, o motor se separou no meio do ar, menos de um minuto depois do lançamento.
Nos aviões
“Realizar um voo supersônico contínuo é como ir de aviões de propulsor para aeronaves a jato”, diz Robert A. Mercier, do Laboratório de Pesquisas da Força Aérea Americana, ao LA Times. “Desde os irmãos Wright, nós examinamos como tornar a aviação melhor e mais rápida. Voo hipersônico é uma dessas áreas que são uma fronteira em potencial para a aeronáutica. Eu acredito que estamos na porta, esperando para entrar nesta arena.”
Além de dar a chance para militares atacarem de forma rápida, o novo motor pode mudar as viagens de avião. “Os executivos que querem chegar a Nova York em três horas tornaram o Concorde altamente viável, e agora há interesse nos dois lados do Atlântico para saltar uma geração e ir do voo supersônico para o hipersônico”, diz Peter Robble, vice-presidente da EADS, à BBC.
“Um avião assim seria muito caro, é claro, devido à enorme quantidade de energia necessária para atingir essa velocidade. Mas a ideia de ir de Paris a Tóquio em duas horas e meia é muito atraente para executivos e políticos – e eu acho que até 2050, pode haver um avião comercial assim.”
Que 2050 não demore para chegar.
[LA Times – BBC – Wikipedia – Wikipedia]
Imagem por US Air Force