A temperatura média global chegou a 17,18ºC na terça-feira (4), marco que pesquisadores acreditam ser o maior calor dos últimos 125 mil anos e parece ter relação direta com as mudanças climáticas e o fenômeno El Niño.
Os dados do Climate Reanalyzer, vinculado aos Centros Nacionais de Previsão Ambiental dos EUA, mostram que o calor superou o recorde anterior, de segunda-feira (3), quando a temperatura média global ficou em 17ºC.
Até segunda-feira, o recorde era de 17,01ºC, registrado em 14 de agosto de 2016, na última formação de El Niño. Agora, o aumento das temperaturas vem na esteira de uma onda de calor escaldante na China e acima do normal na Antártida. No norte da África, os termômetros chegaram a 50ºC. Veja no mapa:
Cientistas climáticos registram a oscilação climática desde 1979 com base em dados de estações meteorológicas, navios, bóias oceânicas e satélites. As informações anteriores a essa data vêm de evidências de anéis de árvores e núcleos de gelo.
“Esses dados nos dizem que não era tão quente desde pelo menos 125 mil anos atrás, que era o interglacial anterior”, explicou Paulo Ceppi, cientista climático do Grantham Institute de Londres, ao jornal Washington Post.
O período interglacial foi o momento da história em que houve uma onda de calor incomum entre as duas eras glaciais da Terra.
Por que tem a ver com El Niño?
É comum haver ondas de calor durante a instalação do El Niño, que se caracteriza pelo aumento temporário do nível do mar e águas oceânicas mais quentes. O ano de 2016, a última ocorrência, foi o mais quente já registrado por causa desse fenômeno climático.
A diferença é que, agora, o El Niño ocorre em um mundo em aquecimento. Por causa da emissão de dióxido de carbono na atmosfera, em especial pela queima desenfreada de combustíveis fósseis, a temperatura global já subiu 1,25ºC acima da média pré-industrial, e avança pelo menos 0,25ºC por década.
“A mudança climática causada pelo homem é como uma escada rolante ascendente para as temperaturas globais, e o El Niño é como pular de pé nessa escada rolante”, afirmou Deke Arndt, diretor do Centro Nacional de Informações Ambientais dos EUA, à Associated Press.
Os cientistas insistem há anos que é essencial zerar a emissão de dióxido de carbono para estancar o aquecimento. Por isso, o Acordo de Paris pede que países se comprometam a cumprir medidas que limitem o aumento da temperatura em 1,5ºC até 2030. O termo foi assinado por 196 países, incluindo o Brasil.
Se nada for feito, especialistas acreditam que o recorde de terça-feira é só o primeiro de muitos que virão. “Podemos esperar que o aquecimento global continue no futuro”, alertou Ceppi. “A menos que ajamos rapidamente para reduzir as emissões de gases de efeito estufa a zero líquido”.