Como se formam as impressões digitais de um bebê durante a gestação
A maneira mais de distinguir cada um dos 8 bilhões de seres humanos da Terra – e todos os outros que já existiram e existirão — é apelar para as impressões digitais. Mas cientistas ainda não sabiam exatamente como elas se forma no útero.
Um artigo publicado por pesquisadores da Universidade de Edimburgo na revista científica Cell na última semana investiga essa questão.
O estudo descobriu que, quando ainda estamos em formação na barriga da mãe, as partes da pele que vão definir as impressões digitais se expandem a partir de três pontos diferentes em cada uma das pontas dos dedos.
Na prática, as voltas e arcos que fazem com que cada marca seja única nascem a partir de ondas de pequenas saliências. A partir daí, essas ondas se espalham e colidem umas com as outras – um mecanismo parecido com a coloração das zebras, por exemplo.
Isso tem a ver com a ação de duas proteínas. De um lado, uma estimula a formação de sulcos na pele, enquanto a outra inibe o processo. É a localização precisa dessas regiões e as “colisões” entre as ondas que fazem com que cada padrão seja único.
“Para criar esses diferentes padrões de arcos, loops e espirais, a chave não são apenas os ingredientes moleculares”, explicou Denis Headon, coautor do estudo e biólogo da Universidade de Edimburgo, à Nature. “É como eles são implantados na anatomia da mão”.
Sistema complexo
Em 2022, a mesma equipe de cientistas publicou um trabalho em que descreve quais genes influenciam os padrões das impressões digitais. A conclusão foi que a maioria deles tinha relação com o desenvolvimento dos próprios membros do corpo.
À época, os pesquisadores perceberam que esses genes davam uma “base” para as marcas dos dedos, mas muitos deles ficavam inativos durante o processo. Isso, então, sugeriu que não tinham nenhuma influência na formação das saliências.
Agora, eles acompanharam o desenvolvimento das impressões digitais ao longo de todo o desenvolvimento fetal. Para a surpresa do grupo, os estudos mostraram que as células que formam essas marcas imitam algo já conhecido: o movimento de um folículo piloso – ou seja, o pêlo e a glândula sebácea que o acompanha.
Mas, diferente da atividade de um folículo, as células dessas saliências não incorporam células mais profundas abaixo da superfície da pele.
É tudo matemática
Nesse caso, as pontas dos dedos reproduzem o sistema de reação de Turing – teoria de 1952 do matemático britânico Alan Turing.
Em sua tese, Turing descreve como os produtos químicos interagem e se espalham para criar padrões na natureza. Como há uma molécula que ativa o processo e outra que inibe, o resultado é um sistema auto-organizado que cria padrões próprios e intransferíveis.
Na explicação, Turing aponta porque as plantas têm diferentes arranjos em suas folhas. Desde então, os mecanismos descritos pelo matemático serviram para explicar a variedade em espécies biológicas, como as escamas de peixes e padrões nas penas de pássaros.