Como se formam as impressões digitais de um bebê durante a gestação

Na prática, os padrões que fazem com que cada marca seja única nascem a partir de "ondas" de pequenas saliências. Entenda
Cientistas mostram como se formam as impressões digitais
Imagem: Alan Levine/Flickr/Reprodução

A maneira mais de distinguir cada um dos 8 bilhões de seres humanos da Terra – e todos os outros que já existiram e existirão — é apelar para as impressões digitais. Mas cientistas ainda não sabiam exatamente como elas se forma no útero.

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Um artigo publicado por pesquisadores da Universidade de Edimburgo na revista científica Cell na última semana investiga essa questão.

O estudo descobriu que, quando ainda estamos em formação na barriga da mãe, as partes da pele que vão definir as impressões digitais se expandem a partir de três pontos diferentes em cada uma das pontas dos dedos. 

Na prática, as voltas e arcos que fazem com que cada marca seja única nascem a partir de ondas de pequenas saliências. A partir daí, essas ondas se espalham e colidem umas com as outras – um mecanismo parecido com a coloração das zebras, por exemplo. 

Isso tem a ver com a ação de duas proteínas. De um lado, uma estimula a formação de sulcos na pele, enquanto a outra inibe o processo. É a localização precisa dessas regiões e as “colisões” entre as ondas que fazem com que cada padrão seja único. 

“Para criar esses diferentes padrões de arcos, loops e espirais, a chave não são apenas os ingredientes moleculares”, explicou Denis Headon, coautor do estudo e biólogo da Universidade de Edimburgo, à Nature. “É como eles são implantados na anatomia da mão”. 

Sistema complexo

Cientistas mostram como se formam as impressões digitais

As impressões digitais são únicas e duram por toda a vida. Desde o século 19, são usadas para identificar indivíduos Imagem: Angelo Pereira/Flickr/Reprodução

Em 2022, a mesma equipe de cientistas publicou um trabalho em que descreve quais genes influenciam os padrões das impressões digitais. A conclusão foi que a maioria deles tinha relação com o desenvolvimento dos próprios membros do corpo. 

À época, os pesquisadores perceberam que esses genes davam uma “base” para as marcas dos dedos, mas muitos deles ficavam inativos durante o processo. Isso, então, sugeriu que não tinham nenhuma influência na formação das saliências.

Agora, eles acompanharam o desenvolvimento das impressões digitais ao longo de todo o desenvolvimento fetal. Para a surpresa do grupo, os estudos mostraram que as células que formam essas marcas imitam algo já conhecido: o movimento de um folículo piloso – ou seja, o pêlo e a glândula sebácea que o acompanha. 

Mas, diferente da atividade de um folículo, as células dessas saliências não incorporam células mais profundas abaixo da superfície da pele. 

É tudo matemática 

Nesse caso, as pontas dos dedos reproduzem o sistema de reação de Turing – teoria de 1952 do matemático britânico Alan Turing. 

Em sua tese, Turing descreve como os produtos químicos interagem e se espalham para criar padrões na natureza. Como há uma molécula que ativa o processo e outra que inibe, o resultado é um sistema auto-organizado que cria padrões próprios e intransferíveis. 

Na explicação, Turing aponta porque as plantas têm diferentes arranjos em suas folhas. Desde então, os mecanismos descritos pelo matemático serviram para explicar a variedade em espécies biológicas, como as escamas de peixes e padrões nas penas de pássaros. 

Julia Possa

Julia Possa

Jornalista e mestre em Linguística. Antes trabalhei no Poder360, A Referência e em jornais e emissoras de TV no interior do RS. Curiosa, gosto de falar sobre o lado político das coisas - em especial da tecnologia e cultura. Me acompanhe no Twitter: @juliamzps

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