Como um Monet de 12 milhões de dólares foi restaurado depois de levar um soco

A restauração de um quadro de Monet aparentemente arruinado levou anos e necessitou de um cuidado minucioso

Há quase três anos, um desequilibrado cavalheiro irlandês chamado Andrew Shannon socou um quadro de Monet de 141 anos que estava exposto na Galeria Nacional da Irlanda. A pintura Bacia de Argenteuil com um único veleiro foi arruinada, ou pelo menos era o que parecia.

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A pintura tinha três rasgos irregulares bem no meio, torcidos para fora de onde o punho de Shannon bateu na tela. Shannon, por sua vez, está agora cumprindo uma pena de cinco anos por seu crime, que o Metro UK explica como “uma tentativa de ‘voltar para o estado normal'”. Mas a restauração meticulosa tomou quase tanto tempo quanto o período dele na prisão.

Embora pareça impossível de ser consertado na imagem acima, os restauradores da Galeria Nacional da Irlanda postaram um relato detalhado do que foi feito, e o processo se parece muito com uma cirurgia angustiante.

Primeiro, eles conferiram se eles tinham todas as peças. Esta é uma pintura de 130 anos de idade, e quando foi perfurada, diz a galeria, “minúsculos fragmentos de pintura e terra se soltaram e se depositaram na superfície da pintura ou no chão nas proximidades.” Eles tiveram que escolher com cuidado e classificar todas essas migalhas e flocos de tinta para que eles pudessem ser restaurados.

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Mesmo assim, algumas das partes são muito pequenas para se descobrir de onde elas são. “7% dos fragmentos perdidos durante os danos eram tão pequenos que, mesmo com um poderoso microscópio, era impossível realocá-los de volta para a pintura”, diz a galeria. Eles ainda tiveram um papel útil na restauração, entretanto; o laboratório foi capaz de analisá-los quimicamente para descobrir a composição da tinta usada por Monet.

Sabendo mais sobre a procedência da tinta, era hora de começar. Para reparar a pintura, seria necessário virá-la de cabeça para baixo — ela foi posta em um “colchão almofadado” — e, para “estabilizar” o quadro, a equipe cobriu o lado pintado com “uma baixa concentração de cola animal à base de água”. A ideia era fortalecer a pintura ao mesmo tempo em que muita coisa estava acontecendo do outro lado da tela.

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Depois veio o verdadeiro trabalho:

Com o auxílio de um microscópio de alta potência e pequenas ferramentas de formato apropriado, as bordas do rasgo foram cuidadosamente alinhadas fio-a-fio. A reunião das fibras realinhadas e quebradas da tela envolveu a aplicação de um adesivo formulado especialmente para conseguir uma ligação forte, mas reversível entre os finais das linhas. Este material adesivo foi utilizado e desenvolvido pelos restauradores de pinturas na Alemanha nos últimos 40 anos.

Exemplos mostrados aqui incluem pequenos instrumentos cirúrgicos de aço para trabalhar em pequenas áreas, usando um microscópio; mini-espátulas quentes para aplicar calor controlado e localizado na pintura; placa de aquecimento e recipientes de vidro para manter o adesivo em uma temperatura constante. O adesivo de colágeno hidratado foi feito em estúdio.

Pode parecer uma cirurgia, e é de fato bastante semelhante. Os fios frágeis e envelhecidos são quase como vasos sanguíneos, que precisam ser cuidadosa e delicadamente amarrados ou religados. Qualquer erro e toda a pintura poderia ter sido perdida.

Mas ainda havia uma enorme cicatriz no meio da pintura. Então, como se estivessem montando um quebra-cabeça, a equipe colocou os fragmentos de pintura coletados de volta a onde eles pertenciam usando um microscópio — depois, usaram gesso e aquarela para retocar as linhas restantes.

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Uma das coisas mais interessantes sobre o relato detalhado da restauração é que, ao longo do caminho, cada uma das técnicas foi projetada para ser reversível. Esta é uma ideia que percorre toda a restauração de arte e até mesmo a arqueologia: embora possamos pensar que estamos melhorando ou estudando um pedaço da história da forma menos prejudicial possível, é provável que os restauradores do futuro terão melhores tecnologias e técnicas para o trabalho que estamos fazendo agora.

Por isso, eles precisam garantir que deixaram um caminho bem claro de migalhas de pão. Pistas que, daqui a algumas décadas, possam ajudar os futuros restauradores a entender qual a melhor forma de consertar esta bela e maltratada pintura. [National GalleryHyperallergic]

Todas as imagens via Galeria Nacional da Irlanda.

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