Key Shirriff é um entusiasta de hardware que curte restaurar computadores antigos, incluindo o Xerox Alto, que teve uma grande influência no Macintosh e em Steve Jobs. Seu último projeto foi trazer à tona um dos computadores de orientação da era Apollo da NASA. Porém, sem uma visita à Lua marcada no curto prazo, Ken quis usar a máquina para minerar bitcoins. Aliás, por que não, né?
Desenvolvido nos anos 60 pela NASA para ser usado como o computador principal para controlar os sistemas de orientação e navegação da espaçonave Apollo, o Apollo Guidance Computer (AGC) foi um dos primeiros computadores a usar circuitos integrados; em vez de ser do tamanho de um quarto inteiro, ele foi comprimido em uma caixa de apenas alguns metros.
O AGC não tinha um processador dentro, pelo menos da forma como conhecemos. Em vez disso, ele usava 5.600 portas eletrônicas que permitiam executar aproximadamente 40 mil adições matemáticas por segundo. Pelos padrões de hoje, isso é muito primitivo, mas foi o suficiente para permitir o controle em tempo real dos veículos Apollo, além de ter durado o suficiente para sobreviver aos rigores de um lançamento espacial.
Fazer algo que você ama e ganhar dinheiro com isso é reunir o melhor dos dois mundos, não? Então, ele resolveu reconstruir e restaurar o AGC autêntico. Shirriff reprogramou o computador para minerar bitcoin. Ele até conseguiu iniciar o processo de mineração, porém há pouca chance de Shirriff desfrutar uma aposentadoria precoce devido ao seu recente hack.
Em vez de confiar em apenas um único computador controlado por uma organização, o bitcoin usa registros virtuais chamados blocos para armazenar informações sobre transações e propriedades da moeda virtual em milhares de computadores em todo o mundo. Os blocos são extraídos — ou oficializados — a cada 10 minutos, mas exigem uma enorme quantidade de capacidade computacional como outra forma de garantir que o processo de mineração não seja controlado por uma única organização ou máquina. Em resumo, tudo isso é o que chamam de blockchain.
O processo envolve a geração e trilhões de sequências numéricas aleatórias até que a correta seja encontrada, o que resulta em um bloco sendo minerado com sucesso. É uma busca tão aleatória quanto a loteria, mas encontrar uma dessas sequências especiais, também chamada de hash, atualmente vale 12,5 novos bitcoins, que vale mais de US$ 130 mil nos valores de hoje (mas lembre-se: o valor da moeda está sempre flutuando). Quanto mais computadores você puder dedicar à tarefa de gerar esses hashes aleatórios, melhores serão suas probabilidades de ficar rico.
Portanto, há uma boa razão para a comunidade de mineração de bitcoin não ter escolhido um computador de 50 anos de idade para minerar a criptomoeda. Por cerca de US$ 70, é possível comprar uma máquina de mineração de bitcoin básica que pode calcular 130 bilhões de hashes por segundo (alguns mineradores de bitcoin usam datacenters inteiros para minerar a criptomoeda).
O computador de orientação da Apollo, em comparação, levou pouco mais de 10 segundos para gerar apenas um hash. Nessa velocidade, calculou Shirriff, “o AGC levaria 4×10^23 segundos para encontrar um bloco”. Isso é cerca de 1 bilhão de vezes maior que a idade do universo, que os cientistas calcularem que é algo na casa dos 13,8 bilhões de anos.
Existe uma chance de Shirriff ter muita sorte e que o computador consiga calcular um hash em apenas alguns minutos de processamento de números. Mas, na realidade, provavelmente levaria mais de um quintilhão de anos (um bilhão de bilhões) para minerar um bitcoin. Mas como o computador de orientação da Apollo não pode jogar Doom ou até mesmo Pong, e a NASA há muito tempo atualizou seu hardware. Então, essa tarefa ainda é provavelmente a mais prática para a qual este hardware de 50 anos pode ser usado.