O Brasil está na mira do Google. E tem um espaço grande para traçar suas metas: em uma área de 9.000 m² divididas entre o 18º, 19º e metade do 20º andar de um enorme prédio recém-inaugurado na Avenida Faria Lima, em São Paulo, está instalado desde o fim do ano passado o escritório principal do Google Brasil que administra os planos de crescimento dentro do país.
Há algumas semanas fui convidado para conhecer as novas instalações da empresa por aqui. Nem todos os funcionários foram transferidos para o novo escritório – serão 400 pessoas quando a mudança se completar – e ainda tem algumas coisas incompletas, mas deu para perceber como, apesar de passar a imagem de um lugar descontraído, o Google é um ambiente de trabalho – e muito trabalho.
O Google tem tudo aquilo que falam. Tem redes de descanso para quem quiser dar um tempo no trabalho – ou quem quiser levar o notebook para um lugar diferente. Tem salas com videogame. Tem uma espécie de bar com uma vitrola e vários discos. Tem patinete para ajudar na locomoção. Tem até um estúdio musical! Mas isso tudo serve para minimizar o fato de que os funcionários passam a maior parte do dia por lá – se vai trabalhar mais de 10 horas, é bom ter um espaço para descansar um pouco.
Então o Google é isso. O relato de Daniel Bergamasco, em uma matéria publicada no dia 9 de fevereiro na Veja São Paulo, explica bem:
“Na sede nacional da companhia que criou o mais eficaz programa de buscas pela internet e desenvolve protótipos de engenhocas inovadoras, de carros elétricos a óculos que funcionarão como smartphones, as mesas dos funcionários são em geral customizadas por seus ocupantes com objetos variados, como uma bandeira do Rio Grande do Sul ou bonequinhos no estilo toy art. A combinação tênis, jeans e camiseta está entre as prediletas dos que lá trabalham. Nas instalações quase sempre silenciosas, é comum ver alguém com seu notebook em um pufe ou em uma poltrona confortável. Alguns trabalham em pé, pois as mesas são ajustáveis para isso. Um painel eletrônico vai sendo atualizado a todo momento com os termos mais procurados por internautas do mundo inteiro. Em outro espaço, é possível navegar pelo programa Google Earth num conjunto de cinco TVs de plasma de 55 polegadas.”
Ou seja, mesmo quando os funcionários sentam em um pufe eles estão trabalhando. Mesmo em redes de descanso.
As TVs com Google Earth citadas são impressionantes. Todas as imagens podem ser acessadas no nosso computador, é verdade, mas é bem diferente quando você tem as cinco telas enormes e computador bem potente feito especialmente para isso – você vai do Brasil à China em segundos para ver uma modelagem 3D da Grande Muralha da China. Vi um pouco da Terra, da Lua e até de Marte. Nunca imaginei que chegaria tão perto do planeta vermelho, mas consegui. Na foto abaixo, uma pequena viagem por Paris, na França:
As coisas receberam nomes brasileiros. O bar que eu citei acima chama “Baixo Augusta”, enquanto uma sala de reuniões com espaço para 250 pessoas recebeu o nome de “Maracanã”. Não apenas os espaços têm esses nomes. As impressoras têm nomes de animais típicos da fauna brasileira (Mico Laser e Tatu Laser foram dois nomes que eu lembro de ter visto). Tem um espaço com frutas e produtos naturais que recebeu o nome “Feira Livre”. Nele também tem uma mesa daquelas encontradas em praças e parques que tem um tabuleiro de xadrez (ou damas) pintado, então se você trabalhar um dia no Google vai poder parar tudo para jogar xadrez contra outra pessoa. Algumas pequenas salas de reunião receberam nome de alimentos, como a “Tapioca”, “Água de Coco” e a “Caldo de Cana”, que fica estrategicamente posicionada na frente da “Pastel”.
O Google teve uma motivação para construir um espaço enorme e que certamente não foi nem um pouco barato em São Paulo. O Brasil é um dos países que mais acessam os serviços da empresa. Fabio Coelho, o presidente do Google Brasil, escreveu ao blog Thing With Google sobre a importância do País para o Google:
“O Brasil está entre os cinco maiores usuários internacionais para praticamente todos os serviços do Google, das buscas ao YouTube e os mapas. O YouTube em particular é um trunfo porque brasileiros são completamente viciados em vídeos online. Mesmo que as conexões de banda larga não sejam boas como em muitos países (apesar de um plano de banda larga subsidiado pelo governo anunciado ano passado possa mudar isso), nós ainda somos a quarta maior audiência do YouTube no mundo. Em fevereiro, fizemos transmissão ao vivo de seis dias de Carnaval no YouTube, Orkut e Google+, permitindo visitantes remotos se identificarem em um mapa para mostrar o quão global este marco cultural brasileiro está se tornando”
O post de Coelho destaca o momento que o Brasil vive – a ascensão de uma nova classe consumidora, a proximidade de dois grandes eventos (Copa do Mundo e Jogos Olímpicos). Ele lembra que atualmente existem mais linhas de celular do que pessoas no Brasil, e que o crescimento da população com acesso à internet é bem grande – ele cita números do IBOPE Nielsen que dizem que entre fevereiro de 2012 e de 2013 a quantidade de pessoas com internet no Brasil cresceu 11% e já somos 78,5 milhões de pessoas acessando a rede. Mas bem antes disso – e antes das redes sociais terem a importância que têm hoje – os brasileiros já mostravam em um produto do Google a afinidade que tinham com o mundo digital.
“No Google nós vimos este entusiasmo em primeira mão. No começo de 2004, o Orkut (um projeto paralelo desenvolvido pelos nossos engenheiros), foi lançado silenciosamente em um momento em que a maior parte do mundo pensava que mídias sociais era uma moda passageira. Mas diferentemente da maior parte do planeta, os brasileiros estavam preparados para usar as tecnologias sociais no dia a dia, e o Orkut se espalhou rapidamente.”
Sobre o Orkut, aliás, no dia da minha visita, Coelho deu uma notícia que pode animar quem ainda acessa a rede social. “O Orkut tem uma base cativa de usuários e vamos continuar avaliando-a. Entendemos que há uma migração para outras plataformas”, disse. E ele garante que, pelo menos agora, não é o plano do Google desativá-lo completamente.
Então o Google Brasil é isso. A empresa considera o país importante, e vem demonstrando isso mesmo que de forma tímida – talvez nem tão tímida ao transmitir o Carnaval, mas na hora de lançar produtos como o Nexus 7 (saiu lá fora em julho de 2012 e só chegou aqui no começo de 2013) ou o Nexus 4 (pelo jeito chega em março) o entusiasmo não parece o mesmo. Ah, e uma ótima notícia para usuários de Android: o Google Now deve falar português ainda neste ano. Quem garantiu foi o Fabio Coelho. [Veja São Paulo, Thinking with Google]