Made in Brazil Morte ao desktop!
John Herrman, um dos nossos camaradas do Gizmodo US, escreveu um post polêmico onde decreta a morte – lenta, mas inexorável – dos PCs de mesa. Para John e muita gente, não existe qualquer motivo para um consumidor médio escolher um desktop ao invés de um laptop. E os números da indústria mostram sinais dessa tendência. Tenha em mente que sempre vai haver gente querendo cortar o dedo e montar por conta própria uma caixa matadora, pelo prazer do hobby ou simplesmente para rodar Crysis bem; ou governos que comprarão milhares de Semprons em licitação. Mas e para o resto do mundo (o que dá, pelas minhas contas, a maioria das pessoas)? O Desktop morreu? Vejamos as evidências.
Vendas de PCs: desktops estão morrendo
Segundo a consultoria IDC, ano passado foram vendidos 11,8 milhões de PCs no Brasil, aumento de 10% sobre 2007. Mas as vendas de desktops caíram 6%. O que aconteceu? As vendas de laptops vêm aumentando de forma impressionante: em 2008, foram vendidos 3,1 milhões de notebooks no Brasil — aumento de 100% sobre 2007. Entendeu? Enquanto menos desktops foram vendidos, as vendas de laptops dobraram.
Nos EUA não é diferente: segundo relatório da iSuppli, as vendas de PCs no primeiro trimestre deste ano caíram 8% em relação ao primeiro trimestre de 2008. A venda de desktops despencou em 23%. E os laptops? Venderam 10% a mais.
Netbooks ainda são minoria no Brasil, mas têm potencial: foram vendidos 100 mil em 2008; espera-se vender 300 mil este ano. No mundo, foram vendidos ano passado 11 milhões de netbooks.
No Brasil, a consultoria IDC espera que sejam vendidos 15% a menos de PCs em 2009. Pelo exemplo dos EUA, os desktops devem sofrer mais com essa queda.
Como é trocar um desktop por um laptop
Imagine que você é um usuário que não sabe muito dessas coisas de tecnologia — se você lê o Giz, não é o caso, mas imagine! O que você faria em um PC? Acessar e-mails, trocar mensagens no MSN, Orkut, usar processador de texto, ouvir música, ver suas fotos e assistir vídeos no Youtube. Daí tiramos duas conclusões: 1) sem internet, um computador de nada serve; 2) pra que um usuário médio precisaria de um computador potente?
Sim, existem muitos laptops potentes por aí. E você não paga muito a mais por isso (falaremos disso já, já). Mas que tal comprar um computador barato, que satisfaz suas necessidades e é portátil? Para que ter um trambolho que fica encostado em algum lugar na sua casa, que não pode ser levado para o banheiro (não na banheira, que fique claro), quando você poderia comprar um notebook tão bom quanto e que custa quase a mesma coisa?
Ah, você não gosta de trackpad? Compre um mouse, custa uns R$20. Não curte teclado de notebook? Existem modelos com teclado parecido com o de desktops, como os Thinkpads da IBM Lenovo (foto acima). Mas eu (Felipe) também não curtia, e agora não largo meu teclado do notebook — digitar num computador desktop ficou pouco prático e até estranho.
Ou seja, a menos que você seja um gamer ou saiba montar um computador peça a peça, comprar um desktop hoje não é apenas uma decisão questionável — é uma decisão péssima.
Mas laptop não é caro?
Não é novidade que os laptops estão ficando mais baratos: segundo a IDC, o preço médio de notebooks caiu pela metade entre 2005 e 2008, passando de absurdos R$ 5.912 para razoáveis R$ 2.925. Isso tem a ver com maior demanda e redução de alguns impostos. E mesmo com esse aquecimento do mercado os desktops não acompanharam com o bom momento com a mesma intensidade: um laptop custava, em 2005, 160% a mais que um PC de mesa, em média. Em 2008, custava 80% a mais.
A diferença é ainda menor quando comparamos desktops e laptops de configurações semelhantes. Um exercício simples na loja virtual da Dell comprova: um desktop simples sai por R$2040; um laptop semelhante custa R$ 2288 — só R$ 250 a mais. (Essa é a hora que o montador de PCs diz que isso é um absurdo, que consegue fazer uma bela máquina por R$ 1.000, bla bla. Suponha que você é um consumidor médio, ok?)
Claro que certas coisas não são possíveis com um laptop. A expansibilidade, por exemplo: colocar mais memória, uma placa de rede ou um leitor de Blu-ray (coisas que aumentam a longevidade de uma máquina (diminuindo, na prática, o custo) é mais fácil em desktops. Em laptops, expansibilidade é possível só usando as portas USB. A performance de placas de vídeo e de drives ópticos geralmente é melhor num desktop. Discos rígidos de desktops são mais rápidos que em laptops — apesar de que netbooks e alguns laptops virem com drives SSD, que leem mais rápido e apresentam menos falhas que drives HDD, usados em desktops.
Mas essas diferenças perderam importância ao longo do tempo, e só devem continuar desaparecendo. Os laptops estão cada vez mais populares em grandes mercados como Europa e EUA: logo, muito da inovação voltada para PCs já é pensada antes para notebooks. Por exemplo, hoje existem boas placas de vídeo para notebooks: não ótimas, porém suficientes para reproduzir DVDs e rodar alguns jogos. E já falamos sobre chips como o Tegra, da Nvidia, projetado para reproduzir vídeos em alta definição — e voltado, entre outros, para netbooks. Chips e processadores gráficos para notebooks só devem melhorar com o tempo.
Ou seja, você não perde quase nada em trocar seu desktop por um notebook — e o que perde, é compensado por maior mobilidade e praticidade.
A morte dos jogos para PC?
Muita gente me pergunta se vale a pena montar um computador matador para jogar no PC. Normalmente eu (Pedro) digo para as pessoas comprarem um Xbox 360 ou um PS3, especialmente para dar conta da "capacidade ociosa" das TVs de LCD e Plasma. Ano após ano tem aumentado a participação dos videogames nas vendas de jogos. Veja ano passado: segundo a consultoria NPD, as vendas de "software de jogo" totalizou US$ 8,5 bilhões nos EUA, e os games de PC representaram apenas US$ 700 milhões. É bem verdade que a estatística do NPD não conta distribuição digital (como a Steam) nem assinaturas (como os 12 milhões que jogam WoW). E a própria NPD reconhece, em outro estudo, que a maior plataforma de jogos online é o PC. Mas isso, na verdade, reforça o nosso ponto.
Basta ver o tipo de jogo sendo vendido nos PCs, um bom medidor de que potência não é fundamental. World of Warcraft, o maior hit "exclusivo" dos computadores, pode ser jogado em virtualmente qualquer bom notebook hoje. Mesma coisa para o recém-lançado The Sims 3, que talvez justamente por causa das meninas dos gamers de notebooks tenha vendido 1,4 milhão de cópias na semana de lançamento do jogo. Sem falar de jogos em browser, leves, como as mil variações de Desktop Tower Defense no Kongregate.com; os torneios virtuais de pôquer que fazem viciados passarem madrugadas acordados; ou Pogo.com (que dá mais dinheiro à EA que todos os FIFA). Minijogos independentes também fazem bonito: basta ver genialidades baratinhas como World of Goo (que roda até em Linux) e Plants vs Zombies, este último que coloco em qualquer notebook que eu testo.
Resumindo: dizer "roda Crysis?" é cada vez mais apenas uma piada. Os últimos jogos do ano, aqueles com gráficos bonitos, como Fallout 3 ou GTA IV, foram lançados simultaneamente em consoles e PCs (ou até antes nos consoles), o que quase elimina o velho argumento dos "melhores jogos só no computador". Foi-se o tempo em que alguém podia falar "fique aí com seu Alex Kid que eu vou jogar Doom". As coisas estão niveladas. É claro que ainda virão Starcraft II ou Diablo 3, mas se você é um consumidor médio, você vai continuar sendo um cara cool e atualizado em jogos sem precisar ter uma placa de vídeo que custa o preço de um Xbox 360.
Morte ao desktop!
O desktop é hoje uma escolha quase irracional para quem quer comprar um computador, e terá uma morte lenta. Mas não deve sumir da face da Terra: não só os (cada vez menos) gamers que usam o PC para jogar, mas também empresas, escolas e pessoas pouco familiarizadas com tecnologia devem continuar comprando desktops. Sempre vai ter algum desinformado comprando aquele Celeron com 1 GB de RAM e monitor de 15” na "oferta relâmpago" do Extra, achando que é um bom negócio.
Mas a tendência é clara: desktops se tornarão um formato morto-vivo, cada vez mais abandonados em favor da praticidade, mobilidade e — como esperamos para o futuro — desempenho dos notebooks.
[Imagens via Flickr e Notebook Check]