O que dizem Correios e Mercado Livre sobre o aumento no preço das entregas (atualizado)
Os Correios farão um reajuste no preço das entregas que valerá a partir do dia 6 de março. Segundo a estatal, haverá um aumento médio de 8% nos valores atuais. Além disso, quem mora no Rio de Janeiro precisará pagar uma “cobrança emergencial” de R$ 3 devido à violência que pode atingir a operação – valor que será suspenso “desde que a situação de violência seja controlada”.
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A mudança nos preços das entregas fez o MercadoLivre iniciar uma campanha contra o aumento do preço do frete dos Correios. A hashtag #FreteAbusivoNão tomou conta do Twitter durante a tarde desta terça-feira (27) e chegou a ficar em primeiro lugar dos assuntos mais comentados do Brasil.
A mobilização ganhou força com um texto da companhia que diz que algumas localidades pagarão até 51% a mais pelas entregas, afetando o consumidor e pequenos e médios empreendedores que vendem pela internet.
O comunicado publicado pelo MercadoLivre aponta que o preço do frete ficará mais caro principalmente para quem mora fora dos grandes centros e lembra até do vacilo dos Correios com o fim do e-Sedex, modalidade de frete exclusiva do e-commerce e que oferecia entrega rápida (como a do Sedex) por valores menores (como o do PAC).
Porém, os números apresentados pelo MercadoLivre e pelos Correios são muito diferentes. Em comunicado enviado ao Gizmodo Brasil, a empresa estatal diz que “ao contrário do que foi divulgado, o reajuste não será de ‘até 51% no frete dos produtos a todos que compram e vendem pela internet’. A média será de apenas 8% para os objetos postados entre capitais e nos âmbitos local e estadual, que representam a grande maioria das postagens realizadas nos Correios”.
Acontece que a afirmação dos Correios não invalida completamente a reclamação do MercadoLivre. Os 8% dizem respeito a “objetos postados entre capitais e nos âmbitos local e estadual”. O ML, por sua vez, também não está isento – eles apresentam o número exagerado no início, mas no meio do texto afirmam que “o vendedor que optar por subsidiar o frete terá um aumento médio em suas despesas com logística de 29%”. Entramos em contato com a empresa para entender a disparidade entre os números.
A nota dos Correios critica as comparações realizadas pelo MercadoLivre em relação ao preço das entregas cobrados em outros países da América Latina:
Comparar o preço de frete praticado no Brasil com os países vizinhos, como faz a nota, é tendencioso e pode levar o consumidor a acreditar em uma falsa premissa. O maior dos países citados – a Argentina – tem cerca de um terço da extensão territorial do Brasil e 40% de toda a sua população concentrada na região metropolitana de Buenos Aires. A maior cidade brasileira, por sua vez, tem 10% da população do país. Outro exemplo citado na nota, a Colômbia, é cerca de seis vezes menor que o Brasil. Os desafios de transporte em um país com dimensões continentais são muito maiores e os custos para manter a presença dos Correios em todo o território nacional são altíssimos.
Sobre o posicionamento dos Correios, o Mercado Livre informa que os 8% reajustados pelos Correios dizem respeito apenas a rotas entre capitais, e que, segundo cálculos da empresa, o aumento médio será de 29% — podendo chegar em alguns casos a 50%.
Para explicar o cálculo, o Mercado Livre fez algumas estimativas baseado no que foi divulgado pelos Correios:
A título de comparação, fizemos estimativas baseadas no reajuste proposto pelos Correios, tanto para envios entre capitais quanto entre cidades distantes dos grandes centros. Uma postagem de um objeto que pese até 500g, via PAC, e tenha como origem São Paulo-SP e destino Brasília-DF, passará a custar, de R$14 para R$15 (8%).
Já um envio de um produto de até 500g que saia de Caxias do Sul-RS e seja enviado, via PAC, para Recife-PE passará a custar de R$ 54 para R$ 82, ou 51% a mais.
Com a postura de levar em conta apenas os envios entre capitais, os Correios ignoram o fato de que o Brasil tem mais de 207,6 milhões de habitantes e, desse total, apenas 24% residem nas capitais, segundo levantamento do IBGE divulgado em agosto de 2017.
O ponto da companhia é que as encomendas devem impactar prioritariamente em mora longe dos grandes centros e que isso vai “contra a democratização do comércio”.
Depois dos aplicativos de transporte iniciarem uma espécie de ativismo, é a vez do MercadoLivre tentar mobilizar consumidores contra a decisão de um braço do estado. O aumento é, de fato, prejudicial para compradores e vendedores – no entanto, o marketplace não oferece outra opção de entrega que não seja pelos Correios.