Apesar das quedas periódicas nos mercados de criptomoedas, elas estão se distanciando do estigma de nicho e começando a afetar o mundo real de formas imprevisíveis. Operações de mineração de bitcoin gastam mais energia do que o consumo doméstico na Islândia, as principais operadoras de cartões de crédito estão banindo sua compra e há diversos golpes na praça, por exemplo.
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Uma reportagem do New York Times aponta agora que pessoas com muito dinheiro em criptomoeda estão ficando preocupadas, devido ao “alarmante número” de roubos a mão armada relacionados com esse mercado.
Os casos estão aumentado e os ladrões conseguem ficar impunes porque é simples fugir com grandes quantidades – basta forçar a vítima entregar as carteiras em hardware ou as senhas para contas online – e porque a polícia às vezes não possui sofisticação técnica suficiente para rastrear as transações que não são ligadas a uma identidade específica, como acontece com contas bancárias normais.
“A vantagem do Bitcoin é que muito difícil de verificar”, disse o investigador Chanut Hongsitthichaikul, da polícia da Tailândia, que trabalhou em um caso envolvendo um homem russo que perdeu aproximadamente US$ 100 mil em um resort na cidade de Phuket. “Perguntamos à vítima como rastrear o dinheiro, uma vez que ele conhecia mais sobre Bitcoin do que nós. Perguntamos como poderíamos verificar o receptor. Nos disseram que não tem como. É difícil de lidar”.
Nesse caso, a polícia localizou um laptop roubado em Kuala Lumpur, onde não conseguiram encontrar novas pistas. Entre outros crimes relacionados a criptomoedas estão a extorsão a partir de um pedido de “resgate” para cessar trotes por telefone para a polícia (uma prática conhecida como swatting), uma série de roubos em vendas presenciais de criptomoeda e diversas tentativas de sequestrar telefones celulares para alterar as senhas de contas de depósito e ficar com a grana.
Incidentes como o sequestro de um executivo responsável por câmbio de criptomoedas no ano passado – que causou prejuízo equivalente a US$ 1 milhão – parecem ter se tornado mais comuns, o que está aumentando a paranoia de quem tem muita grana nesse negócio. Conforme a reportagem do Times:
Um mês antes, um homem de negócios turco foi forçado a entregar as senhas de suas carteiras virtuais – contendo quase US$ 3 milhões em Bitcoin – depois de ter seu carro parado por uma gangue armada em Istambul, que aparentemente sabia sobre sua posse de criptomoedas, de acordo com um jornal local.
Muitas pessoas que possuem criptomoedas dizem em particular que não viajarão mais para Rússia, Turquia ou outros países que acreditam que os ataques serão mais fáceis devido ao crime organizado.
Criminosos armados também atacaram um câmbio de Bitcoin canadense em Ottawa, um investidor de Ether na cidade de Nova York e um negociador conhecido que vive próximo de Oxford, na Inglaterra.
Os entusiastas milionários das moedas digitais estão se tornando mais cautelosos. No recente Satoshi Roundtable, em Cancun, México, os organizadores “trouxeram uma força de segurança particular e instituiu medidas de privacidade significativas para os hóspedes protegerem-se contra criminosos enquanto estavam presentes”.
Em pelo menos em alguns casos nos Estados Unidos, pessoas escolherem se armar – apesar de alternativas como o armazenamento das moeda em contas que exigem múltiplas logins ou simplesmente não se gabar em público sobre ter um tesouro digital serem ideias melhores do que publicar vídeos com rifles de assalto para dissuadir os possíveis criminosos.
Bitcoin security pro tip: protect your software with hardware. pic.twitter.com/R4KeRGRcTP
— Jameson Lopp (@lopp) 26 de outubro de 2017
Dica profissional de segurança do Bitcoin: proteja seu software com hardware.
Embora a queda do Bitcoin no início de 2018 possa ter esfriado um pouco o mercado, esses caras tendem a ser otimistas nas perspectivas de longo prazo, em parte porque novas moedas continuam emergindo.
Algumas evidências da consultoria forense Chainalysis sugerem que o Bitcoin sofreu essa queda em grande parte por conta de usuários da dark-web que se envolvem com atividades ilegais e que passaram a utilizar outras moedas com tempo de transação mais ágil e mais camadas de anonimidade para tornar mais difícil o rastreio por autoridades, como aponta a Fortune.
Embora essas características possam facilitar roubos presencias, é provável que sejam mais utilizadas em fraudes online não violentas. De acordo com uma reportagem do ZDNet, sucessores como o Monero que escondem o histórico de transação estão associados a ataques e ransomware e malwares que roubam o poder de processamento ocioso para minerar as moedas.
Segundo a BBC, a Europol acredita que cerca de US$ 5,6 bilhões são lavados a partir de criptmoedas, embora a mesma falta de transparência que permita que tal lavagem não permita realizar uma estimativa precisa da escala do problema.
“Eles não são bancos e não são governados por uma autoridade central, então a polícia não consegue monitorar essas transações, disse o diretor da Europol Rob Wainwright, à BBC. “E se conseguirmos identificá-los como criminosos, não existe uma forma de congelar os ativos como acontece no sistema bancário comum […] É muito difícil para a polícia, na maioria dos casos, identificar quem está retirando o dinheiro”.
Imagem do topo: AP