Da China aos EUA, conheça 5 projetos para criar “Google Tradutor” de animais

Projetos usam aprendizado de máquina para decifrar difereças sutis que fazem a comunicação dos animais, semelhante ao "Google Tradutor"
Da China aos EUA, conheça 5 projetos para criar “Google Tradutor” de animais
Imagem: CETI Project/Divulgação

Cinco grupos de pesquisa de diferentes países tentam fazer com que a comunicação entre humanos e animais deixe de ser intuitiva para se tornar certeira: eles usam o aprendizado de máquina para criar um “Google Tradutor” da “fala” de outras espécies. 

Isso só é possível por causa de algoritmos capazes de detectar padrões sutis imperceptíveis aos ouvidos humanos. As máquinas conseguem diferenciar as “vozes” dos animais e os sons que eles emitem em diferentes circunstâncias – o que é essencial para decifrar seus significados. 

O projeto mais avançado é do Instituto Max Planck para Pesquisa do Cérebro, da Alemanha. Na pesquisa, os cientistas usaram algoritmos para analisar mais de 36 mil sons emitidos por sete colônias de ratos-toupeira-pelado. 

O estudo mostrou que cada rato tem uma assinatura vocal própria, assim como cada colônia se comunica com um dialeto diferente. É como se a troca tivesse sido transferida culturalmente ao longo das gerações – assim como fazem os humanos. 

Em certo momento, os pesquisadores retiraram a matriarca reprodutora – também conhecida como rainha. Isso rompeu os dialetos que existiam e houve um “caos” comunicacional no grupo. A comunicação só se restabeleceu quando uma nova rainha surgiu – mas ele já era bem diferente do anterior. 

Quando compartilham o mesmo dialeto, as colônias não compartilham seus recursos com estranhos e, assim, mantém uma uniformidade social. 

“Nesses grandes túneis subterrâneos, você quer ter certeza de que todos estão seguindo as regras”, disse a autora da pesquisa, Alison Barker, ao jornal NY Times. “E uma maneira muito rápida de testar isso é garantir que todos estejam falando de maneira muito semelhante”.

DeepSqueak: o pioneiro 

Em 2019, pesquisadores da Universidade de Washington usaram aprendizado de máquina para desenvolver o software DeepSqueak, um app para detectar, analisar e categorizar as vocalizações de roedores – tudo de modo objetivo e automático. 

Depois, a ferramenta também foi usada para interpretar os sons de outras espécies, como lêmures e baleias. Outros centros de pesquisa usaram a tecnologia para detectar a comunicação de galinhas, na China, e de porcos, na Dinamarca. 

“Você pode obter uma informação direta e subjetiva da boca do animal sobre como ele está se sentindo”, disse Kevin Coffey, neurocientista comportamental da Universidade de Washington, que fez parte da equipe que desenvolveu o DeepSqueak.

O que dizem os morcegos 

Outro projeto que tenta interpretar as vocalizações dos animais vem da Universidade de Tel Aviv, em Israel. A pesquisa, realizada em 2016, usou câmeras de vídeo e microfones para gravar grupos de morcegos por 75 dias. 

Ao revisar as gravações, os cientistas identificaram quase 15 mil sons diferentes – a maioria bastante agressivos. “Basicamente, eles estão o tempo todo pressionando um ao outro”, disse o neuroecologista Yossi Yovel, que liderou o estudo. “Imagine um grande estádio em que todo mundo quer encontrar um assento”. 

Mas, com aprendizado de máquina, foi possível distinguir – com 61% de precisão – os contextos das grosserias dos morcegos: se era por comida, acasalamento, sono ou posição. O software também conseguiu identificar quais dos animais era repreendido pelos outros. 

Bate papo de baleias 

Este é um grande projeto em andamento. Trata-se do Projeto CETI (Iniciativa de Tradução dos Cetáceos, na sigla em inglês), que reúne especialistas em aprendizado de máquina, linguistas e biólogos marinhos do Baruch College, nos EUA. 

A equipe planeja instalar estações centrais de escuta de baleias cachalotes com 28 microfones subaquáticos na costa de Dominica até janeiro. Depois, tentarão decifrar a sintaxe e semântica da comunicação das baleias para investigar o comportamento e cognição desses animais. 

O diferencial das cachalotes é que elas emitem rajadas organizadas de cliques – algo como o código Morse

Entendendo os porcos 

Em março deste ano, pesquisadores da Universidade de Copenhague, na Dinamarca, lançaram um algoritmo para avaliar o estado emocional dos porcos com base na vocalização desses animais. 

A ideia é ajudar produtores rurais a identificar se os animais estão satisfeitos ou angustiados e, assim, resolver eventuais problemas rapidamente. Ao todo, cientistas de cinco laboratórios da Europa usaram microfones para coletar até 7,4 mil chamadas de 411 porcos, desde o nascimento até o matadouro.

Mais tarde, o estudo ganhou o patrocínio da UE (União Europeia) para melhorar a saúde e bem estar animal. Agora, os pesquisadores devem incorporar os dados em um aplicativo para distribuir a ferramenta na zona rural da Europa. 

A UE reconheceu a senciência animal – capacidade de sentir sensações e sentimentos de forma consciente – em 2009. 

Julia Possa

Julia Possa

Jornalista e mestre em Linguística. Antes trabalhei no Poder360, A Referência e em jornais e emissoras de TV no interior do RS. Curiosa, gosto de falar sobre o lado político das coisas - em especial da tecnologia e cultura. Me acompanhe no Twitter: @juliamzps

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